A EXPERIÊNCIA DE PUBLICAR UM LIVRO NO PNLD LITERÁRIO
Bruno Palma e Silva
Dizem que nada na vida é por acaso e, ter um livro aprovado no Programa Nacional do Livro Didático – PNLD Literário, foi, no meu caso particular, uma sequência
de eventos felizes. E é também como dizem: quando a oportunidade aparecer, esteja pronto!
Comecei escrevendo num blog, sem grandes pretensões. Belo dia, uma amiga, ex-colega de editora, me pediu alguns textos para trabalhar num curso que estava fazendo. Enviei a ela alguns,
fizemos uma seleção, trabalhamos na preparação.
Outro belo dia, quem me ligou foi um amigo, também ex-colega de editora, contando que havia sido anunciado o PNLD Literário e perguntando se, por acaso, eu não teria um
livro que quisesse inscrever. Por acaso, eu tinha. Tomei coragem, ele gostou e trabalhamos na edição.
Aqui vai minha primeira impressão: a corrida é grande, e é preciso muitas mãos – ou pernas – para vencê-la. A janela entre o anúncio do
edital e a finalização das inscrições se fecha rápido e é preciso preparar e pensar em muita coisa. Tive a sorte de estar ao lado de gente generosa e competente.
Meu livro, um volume de contos e crônicas curtos, com algumas ilustrações minhas, foi inscrito na categoria 6 – destinada a estudantes do Ensino Médio.
Fonte da imagem: Acervo pessoal do autor.
Enviada a inscrição, chega a hora de esperar. Naquele ano, por exemplo, foram quatro ou cinco meses entre a inscrição e o resultado da avaliação.
Era o dia do meu aniversário quando eu recebi uma ligação do meu editor com a notícia: “seu livro foi aprovado!”. Eu estava numa loja encomendando uma
moldura para um uma gravura que tinha ganhado da minha esposa: “A grande Onda de Kanagawa”, do japonês Hokusai (1760-1849). E foi, realmente, uma onda de felicidade.
Fui para a editora saber mais e tive minha segunda impressão sobre o processo: o MEC leva muito a sério a escolha das obras. Recebi um parecer do meu livro, feito por uma especialista,
tão detalhado que nele constavam aspectos que nem eu tinha, conscientemente, colocado nos textos. Tudo – do tema dos textos às figuras de linguagem utilizadas, passando pela isenção de apologias
e preconceitos – é analisado em detalhes, pensando na melhor formação dos jovens.
A partir daí, há o envio de documentos e comprovações – até onde acompanhei, o rigor e a honestidade dos processos são inquestionáveis.
Os títulos participantes são disponibilizados num catálogo às escolas e bibliotecas, que fazem a escolha do que vão querer para seus estudantes.
Após as negociações, o MEC faz, finalmente, o pedido dos livros. As editoras, então, providenciam a impressão e fazem toda a logística de enviá-los
para diversos pontos do país. No meu caso, o pedido foi de exatos 69.682 exemplares e mais um pedido complementar de 10.000, chegando a quase 80 mil livros!
Aqui divido minha terceira grande impressão sobre o edital: além, de beneficiar leitoras e leitores, o PNLD também ajuda autores e editoras – especialmente os iniciantes,
como eu, e as casas pequenas, como a que me publicou. Chega a ser inacreditável pensar que meu primeiro livro atingiu essa tiragem.
Por fim, minha última e talvez mais forte impressão sobre a história toda: é fantástico participar de um programa tão abrangente e que transforma vidas.
Porque os livros foram distribuídos a alunos e professoras que, infelizmente, sabemos que não teriam condições de comprá-los, e muitas vezes vivem em locais onde sequer existe uma livraria.
Até hoje, anos depois, recebo mensagens gentis de estudantes e professores que utilizaram meu livro em sala de aula ou o levaram para casa. Alguns me pedem ajuda para trabalhos valendo
nota, outros dividem comigo momentos de descanso.
Pois, de tudo, o que de melhor o PNLD me trouxe, foram milhares de amigas e amigos por todo o país. Aqui de Curitiba pude me ligar ao Acre, ao Mato Grosso, à Bahia, ao Ceará...
e nos identificamos nas “pequenas ocasiões que nos fazem quem somos”.
Escrever é um ato solitário, mas publicar é coletivo. Esta foi a mais poderosa e gratificante experiência da minha vida como escritor e recomendo, de coração,
a todo mundo que um dia puder participar.
Viva os livros! Viva o PNLD!
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Bruno Palma e Silva possui MBA em Book Publishing (Labpub) e é bacharel em Design Gráfico (UFPR – Universidade Federal do Paraná). Atua no mercado editorial e de educação desde 2004 como designer, produtor editorial e
autor. Também desenvolve, eventualmente, identidade visual, peças de design impresso e objetos de ensino digital. Iniciou em 2006 um blog, o Acepipes Escritos (http://acepipesescritos.blogspot.com/), cujos textos se tornaram leitura obrigatória no processo seletivo da Universidade
de Brasília (UnB). Participa também de algumas revistas e antologias literárias.