UM LIVRO NASCE DE UMA IDEIA
Ana Lúcia Corrêa Darú
Um
livro nasce, assim como nascem os seres vivos: há uma fagulha inicial, que para
os seres vivos talvez possamos chamar de ‘concepção’, e para os livros talvez
possamos chamar de ‘ideia’. Livros e seres vivos, depois de um tempo de
maturação, surgem no mundo, singulares, com suas próprias teias de significado,
aparência, estrutura e temperamento. Um livro vem ao mundo com uma mensagem e
de certa forma, cada ser vivo também. E cada livro é especial e importante,
assim como cada ser vivo.
Os eventos por trás do livro Vincent van Gogh: minha
história (2022) veio de uma ideia, uma ideia de dar ao pintor a
oportunidade de contar sua própria história. Ela começou em 2020, quando fui
analisar um livro Os Girassóis (2009), da escritora americana
Sheramy Bundrick. Naquela época precisava analisar o romance do ponto de vista
da vida do pintor Vincent van Gogh (1853-1890). O texto de Bundrick é um
romance em que a vida do pintor se transforma em uma narrativa ficcional e o
pintor vira personagem dessa ficção. Portanto, eu tinha, dentre outras coisas,
que explicitar o que era ficção e o que era realidade no romance, precisava de
uma biografia do pintor para fazer o cotejo. Mas, ao recorrer a algumas
bibliotecas, sebos e livrarias virtuais percebi que não havia livros que
revelassem a totalidade da vida do pintor, havia apenas um livro enorme e
belíssimo que retratava a arte do pintor, entremeada a fragmentos de frases das
cartas que ele escreveu, e também havia um livro que retratava uma parte da
vida do pintor: os últimos dez anos, por assim dizer. Uma biografia completa,
autorizada ou não, não encontrei. Então eu recorri a sites onde eu intencionava
reunir fragmentos da vida do pintor e organizar, eu mesma, uma biografia.
Na minha busca, encontrei muitos textos de artigos e
reportagens (fontes secundárias e terciárias) que emitiam juízos sobre a vida
do pintor, textos que teciam comentários, às vezes, até maldosos sobre ele. Eu
compreendia que o pintor teve uma vida muito problemática, porque já tinha lido
Cartas a Theo, um livro que trazia 150 cartas e que fora traduzido para
o português por Pierre Ruprecht, em 1964. Por conta dessa leitura, eu tinha a
convicção de que o pintor não era merecedor de muitos adjetivos depreciativos
que estavam em alguns textos e, apesar de as cartas apresentarem lacunas temporais
entre si, a leitura das 150 cartas deixava claro que o pintor tinha um coração
amável e era um homem dedicado e fiel às suas convicções, principalmente
religiosas.
Em minha busca, descobri que a
totalidade das cartas (902) estavam publicadas pelo Museu Van Gogh e era lá que
eu iria buscar as informações de que precisava. Na verdade, minha ideia inicial
não era ler as 902 cartas, algumas com até nove páginas de conteúdo, na minha
ideia, eu achava que seria possível ler algumas cartas e conseguir algo com
elas, mas eu fui me apaixonando pelo dia a dia do pintor e não consegui ler ‘algumas
cartas’, eu li as 902 cartas, e mais 25 fragmentos de cartas encontradas que
fazem parte da correspondência do pintor. Nesse texto epistolar completo, uma
fonte primária de informação, Van Gogh registra suas ações, pensamentos,
leituras, observações de paisagens, ocorrências e dificuldades que enfrentava
para se relacionar com as pessoas e sobreviver como pintor. Durante a leitura,
fui organizando um desenrolar dos acontecimentos e fui constituindo, com os
relatos colhidos em sua correspondência, uma autobiografia ficcional onde o
próprio pintor vai contando sua história. Alguns trechos das cartas eu procurei
deixar para o leitor conhecer os próprios redemoinhos linguísticos que
constituíam os seus dias. Algumas informações estão em cartas escritas pelos
familiares e amigos do pintor. O livro Vincent
van Gogh: minha história dá uma chance de o leitor conhecer esse gênio das
artes visuais e ao pintor uma oportunidade de dar-se a conhecer. O livro, uma
ideia que levou dois anos para maturar, está à disposição em sites e
livrarias. Boa leitura!
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Ana Lúcia Corrêa Darú é Mestre em Teoria Literária pelo Centro Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE) e Doutoranda pela mesma instituição. Atua como parecerista, analista de projetos educacionais e editora de materiais didáticos para diversas editoras do Brasil. O livro Vincent van Gogh: minha história – a vida do pintor contada por ele mesmo é uma autobiografia ficcional do pintor Vincent van Gogh. A obra nasceu de uma lacuna que a doutoranda, Ana Lúcia Corrêa Darú, identificou, ao realizar suas pesquisas, quando da produção de sua dissertação.
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