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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

UMBERTO ECO: “Sobre algumas funções da literatura”



Profa. Sigrid Renaux 


Neste primeiro texto em Sobre a Literatura (Rio de Janeiro: BestBolso,   2011) Eco discorre sobre alguns tópicos que, como sempre em se tratando de Eco, são de interesse tanto para “iniciados” em literatura quanto para leigos. Cito  abaixo alguns trechos  deste discurso apresentado no Festival dos Escritores em Mântua (Itália), em setembro de 2000,  que dizem respeito ao trabalho que estamos fazendo, professores e alunos, para nos distanciarmos por alguns momentos de nossos estudos e podermos reavaliar o que significa a literatura para nós.
Como Eco pondera,
Estamos circundados de poderes imateriais que não se limitam àqueles  que chamamos de valores espirituais, como uma doutrina religiosa. (...) E entre esses poderes, arrolarei também aquele da tradição literária, ou seja, do complexo de textos que a humanidade produziu e produz não para fiins práticos (...), mas antes gratia sui, por amor de si mesma – e que se leem por deleite, elevação espiritual, ampliação dos próprios conhecimentos, talvez por puro passatempo, sem que ninguém nos obrigue a fazê-lo (com exceção das obrigações escolares).
É verdade que os objetos literários são imateriais apenas pela metade, pois encarnam-se em veículos que, de hábito, são de papel.  Mas houve um tempo em que se incorporavam na voz de quem recordava uma tradição oral ou mesmo em pedra, e hoje discutimos sobre o futuro dos e-books (...). Aviso logo que não pretendo me deter esta noite na vexata quaestio do livro eletrônico. Estou, naturalmente, entre aqueles que, um romance ou um poema, preferem lê-lo  em um volume de papel, do qual haverei de recordar até mesmo as orelhas e o peso. (...)
Para que serve este bem imaterial que é a literatura? (...) A literatura mantém em exercício, antes de tudo, a língua como patrimôno coletivo. A língua, por definição, vai aonde ela quer (...) mas é sensível às sugestões da literatura. (...) a literatura, contribuindo para formar a língua, cria identidade e comunidade. (...) Mas a prática literária mantém em exercício também a nossa língua individual. (...)
As obras literárias nos convidam à liberdade da interpretação, pois propõem um discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante das ambiguidades e da linguagem e da vida. Mas para poder seguir neste jogo, no qual cada geração lê as obras literárias de modo diverso, é preciso ser movido por um profundo respeito para com aquela que eu, alhures, chamei de intenção do texto. (p. 9-12)
Espero que os trechos acima sirvam de introdução à leitura completa deste texto, que contém outros comentários instigantes sobre a maneira de encararmos os textos literários!


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