Prof. Edson Ribeiro da Silva
Nas minhas últimas passagens
pelas livrarias curitibanas, encontrei o que queria. Mas uma das maiores
vantagens das livrarias físicas sobre as virtuais é a possibilidade de se encontrar
algo que não se procurava. Quase sempre, aquele livro fundamental que não se
via há muito tempo. Ou uma obra nova, que vem ao encontro das pesquisas que se
quer desenvolver.
Dentre essas obras fundamentais,
encontrei uma edição muito bem cuidada de Invenção
de Orfeu, a obra capital de Jorge de Lima. Não se pode esquecer esse longo
poema. Na minha adolescência, eu o li emprestado de uma biblioteca. Copiei
inúmeras partes a mão. O modo como o poema deixa de ser aquela coisa mole dos
anos 30 para ganhar a dicção encorpada dos Eliot, dos Rilke, dos Yeats, me
impressionou muito. Eu fiz o meu Invenção
de Orfeu de adolescente, um poema até longo que ocupa quase todo um
caderno. Tolice, que hoje não jogo foramas também não mostro.
Da mesma forma, comecei a achar
Cornélio Pena e Cyro dos Anjos nas livrarias. Autores que a nossa maldição
sociológica das academias e dos livros didáticos relegou àquelas listas de
secundários que também podem ser lidos, mas apenas como representantes de uma
época. O mesmo em relação a um gordo volume com a obra poética de Lúcio
Cardoso. Estamos progredindo. Gente do primeiro time está saindo dos bancos de
reserva.
Talvez seja o mesmo movimento que
faz com que agora se possam comprar um André Gide ou um André Malraux. Eles
andavam sumidos. Quem se lembrava de Collette? Ou tinha lidoKnutHansun?
Entre as surpresas muito agradáveis,
pelo menos para quem lê ensaios, estão obras interessantes sobre Guimarães
Rosa. Quem diria que ensaios sobre um escritor tão complexo figurariam nas prateleiras
de literatura brasileira? Talvez até por engano.
Mas lá estava um extenso volume
contendo os ensaios que Benedito Nunes dedicou ao grande escritor. Textos que o
olham pelo viés filosófico. Que bom! Olhar Rosa como ele merece, sem os atavios
de uma crítica sociológica sempre atacada pela miopia de Lukács. Rosa como
universal, como atemporal. O livro se chama Benedito
Nunes: a Rosa o que é de Rosa. E tem a organização do professor Vitor Sales
Pinheiro.Sim, é preciso dar ao maior escritor brasileiro do século passado, ou
o maior desde sempre que já nasceu nestas terras, o que é
dele. Uma dessas justiças é ver a crítica saindo um pouco das mesmas obras
sempre motivo de análises, para entender que há mais para ser focalizado. Eu
sempre quis algo grande sobre as novelas de Corpo
de baile, mas era difícil encontrar. O volume com a fortuna crítica de
Rosa, editado há algum tempo, trazia muito pouco sobre elas. Um ensaio sobre
“Campo geral”, outro sobre “Dão-Lalalão”, nada além. Pois uma professora da
UFSM publicou a sua dissertação sobre as novelas. Um magro volume chamado Na entrada-das-águas: amor e liberdade em Guimarães
Rosa, mas agradável e consistente. Ainda não é o que Campo geral merece. Ela dá atenção demais aos signos rosianos e sua
filiação a tradições religiosas, a mitos de povos obscuros. É como se Rosa
tivesse que ser um lacaniano criador de textos subliminares, em que água precisa
representar purificação e estrada a transformação. Na verdade, é um chavão
brasileiro achar que escritor “profundo” está cheio de leituras escondidas nos
signos. Havia ainda Machado e Rosa:
leituras críticas, organizado por Marli Fantini. Um desses livros imensos,
com um índice substancioso de estudos sobre ambos. Efeito dos centenários em
2008. Índice cheio de nomes de ensaístas conhecidos, gente boa que lê Rosa como
quem sempre encontra um dos melhores amigos. É livro para se ter, guardar com
cuidado.
É bom dar a Rosa o que é dele. O
fato de que cada uma dessas obras o focalize por um viés já é um sintoma de que
mais livros sobre o mestre possam ser encontrados, e é preciso ficar atento,
porque ensaio, por estas terras, costuma não passar de uma primeira edição.
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