Mail Marques de Azevedo*
A IV Jornada de Estudos
Irlandeses, uma promoção conjunta da Associação Brasileira de Estudos
Irlandeses (ABEI) e do Centro Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE), em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Universidade
Federal do Paraná (UFPR) e Universidade de São Paulo (USP), realizada nos dias
17 e 18 de junho de 2015 na UNIANDRADE, comemorou especialmente os 150 anos de nascimento de William Butler Yeats e o
Bloomsday, lembrado anualmente em 16 de junho.
A quarta edição da
jornada, que contou com a presença da Cônsul
Geral da Irlanda no Brasil, Ms. Sharon Lennon, recebeu apoio acadêmico e
financeiro das diversas
instituições envolvidas no evento, por intermédio de seus representantes: Dra.
Laura Izarra, Presidente da Associação Brasileira de Estudos Irlandeses (ABEI);
Prof. José Campos de Andrade Filho, Pró-Reitor de Extensão, Pesquisa e
Pós-Graduação da UNIANDRADE e Dra. Brunilda T. Reichman, Coordenadora do
Mestrado em Teoria Literária da UNIANDRADE; Dra. Liana de Camargo Leão, Chefe
do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da UFPR e Dra. Patricia da
Silva Cardoso, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Letras; e Dra. Marcia
Regina Becker, Chefe do Departamento
Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas da UTFPR.
Sob a coordenação geral da
Dra. Mail Marques de Azevedo (UNIANDRADE), vice-coordenação da Dra. Célia Arns de Miranda (UFPR) e da Dra. Flávia Azevedo
(UTFPR), e coordenação da Comissão da ABEI da mestranda Camila Franco Batista,
o evento, titulado “Literaturas em contato: temas, tendências e
transações”, objetivou incentivar a pesquisa não só em literatura
irlandesa propriamente dita, mas em diálogo com tradições literárias e
autores de outros países, ou, ainda, com outras artes e mídias, com o intuito
de estabelecer um fórum de discussão para pesquisadores de diversos níveis: doutores, doutorandos, mestres,
mestrandos, especialistas, graduandos, estudantes de iniciação científica e
demais profissionais interessados pelos variados tópicos em discussão. A programação da jornada constituiu-se de conferências e mesas-redondas
em torno dos temas propostos, ministradas por palestrantes nacionais e
internacionais, de comunicações coordenadas e individuais e de sessões de
pôsteres. Palestrantes e comunicadores representavam Instituições de Ensino
Superior não apenas do Paraná ─ FAE, FACEL, FARESC, PUCPR, UEM,
UTFPR, UFPR, e UNIANDRADE ─, mas dos estados
do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Tocantins, ─ UFRJ, USP, UFSC,
UnC e UFT, respectivamente.
A conferência de abertura, intitulada “W. B. Yeats e Gordon
Craig: colaborações e ensaios para o teatro do futuro”, ministrada pelo Dr.
Luiz Fernando Ramos (ECA/USP), em homenagem aos 150 do nascimento de Yeats, foi
um dos destaques da jornada, atraindo não somente os participantes do evento,
mas também a comunidade acadêmica e artística de Curitiba. A palestra versou
sobre a contribuição do encenador Edward Gordon Craig na modernização visual do
teatro e a breve parceria entre Craig e William Butler Yeats, bem como a utilização
e releitura do ideário estético de Craig por Yeats na criação da cenografia das
peças a que denominou plays for dancers
(peças para dançarinos).
O professor Dr. Colin
John Flynn, do Trinity College de Dublin, proferiu a segunda conferência
plenária, “Integrative and Cultural Dimensions of Language Learning by Foreign
Students in Ireland”, em que discutiu o conceito largamente aceito de que o
interesse do aluno de língua estrangeira na cultura da língua-alvo pode ter
impacto positivo no sucesso final do aprendizado. No entanto, é problemático
definir quais são esses interesses e, mais ainda, avaliar o impacto positivo
resultante. Ilustrou seus argumentos com exemplos de suas próprias pesquisas em
Linguística Aplicada e de sua rica experiência com alunos estrangeiros na
Irlanda.
Na palestra proferida
na UFPR, às dezenove horas do dia 17, o Dr. Flynn abordou o tema “Identity in Foreign
and Second Language Learning” que despertou vivo interesse pela atual situação linguística
da Irlanda. O país tem duas línguas oficiais, o inglês e o irlandês, cujos papéis
no cotidiano dos irlandeses, no entanto, são muito diferentes. O número de falantes
de irlandês como primeira língua é reduzido, mas os falantes que usam o
irlandês como língua adicional perfazem uma minoria mais significativa. Por
outro lado, tem importante papel simbólico para a maioria da população,
independente de seu nível de proficiência. Atualmente, o ensino do irlandês é
incluído obrigatoriamente nos currículos escolares, embora a língua mais falada
na Irlanda continue a ser o inglês, a língua global por excelência, cujo
aprendizado atrai alunos estrangeiros para o país. É importante notar que um
contingente pequeno, mas significativo, desses estudantes busca também aprender
o irlandês.
As atividades tiveram
sequência com a mesa redonda intitulada “A literatura irlandesa contemporânea:
teatro, poesia, ficção”, que levantou um panorama representativo dos três
gêneros na atualidade. A Dra. Beatriz Kopschitz Xavier Bastos (UFSC/CIA.
Ludens) discutiu o trabalho que desenvolve sobre as inter-relações entre o
teatro documentário
na Irlanda e no Brasil, num approach
teórico prático: pesquisa como prática, prática como pesquisa. Atualmente trabalha
na concepção de um ciclo de leituras de peças-documentário irlandesas, em
tradução para o português, ainda em 2015, e em nova peça a partir dos diários
de Roger Casement, escrita por Domingos Nunez, a ser apresentada em 2016.
Em “A poesia irlandesa
contemporânea: mulheres e outras artes” a Dra. Gisele Giandoni Wolkoff
(UTFPR/Pato Branco) analisou exemplos da poesia feminina irlandesa dos anos
1960, quando ocorrem as primeiras publicações poéticas
inovadoras, com Eavan Boland, Medbh McGuckian, Anne Hartigan e outras, em busca
de respostas para o questionamento: Haverá elementos estilísticos que apontam à
figuração de possíveis poéticas femininas, na disposição distinta de temas
comuns, o que sugeriria tanto preocupações sociopolíticas convergentes, quanto
espaços de pertencimento em intersecção? As melhores respostas ao que significa
ser-poeta-mulher no assumir das fronteiras de uma pós-modernidade, que ainda
exige localismos e identidades nacionais claras, conclui, parecem localizar-se
no diálogo entre as artes.
Completando o terceiro
vértice do assunto, o gênero ficcional, a professora mestre Solange Viaro
Padilha (FARESC) desenvolveu o tema “Faces da violência na ficção irlandesa
contemporânea”. De reflexões iniciais sobre as marcas da violência na literatura ocidental,
decorrentes da crueldade ou da tirania nas relações de poder e dominação, a
palestrante focalizou a opressão e as agressões que acontecem no âmbito privado
e sua representação na ficção irlandesa contemporânea, nos contos “Crie uma
sereia só para você”, de Marina Carr, e “The Parting Gift”, de Claire Keegan.
A conferência intitulada
“A
literatura de testemunho e a ficção biográfica no século XXI: de Roger Casement
a Vargas Llosa”, que deu início às atividades do segundo dia, constou de duas
partes, a cargo das professoras da UNIANDRADE, Dra. Mail Marques de Azevedo e
Dra. Sigrid Renaux. Para a análise dos “Diários do Amazonas” de Roger Casement,
cônsul britânico no Brasil, na primeira década do século XX, a primeira
conferencista estabeleceu relação similar àquela
existente entre as fases da operação historiográfica, conforme a epistemologia
das ciências históricas de Paul Ricoeur. The
Amazon Journal of Roger Casement configuraria o estágio do testemunho e dos
arquivos que conduz, no percurso epistemológico pela fase das indagações e, finalmente, ao plano da escrita da representação historiadora do passado. Na ausência de uma história oficial de
Roger Casement, herói da luta pela libertação da Irlanda do domínio inglês, o
romance biográfico, O sonho do celta, de
Vargas Llosa, configuraria o plano da escrita da representação historiadora do
passado, desenvolvido pela professora Sigrid Renaux. Da análise da ação, para a
qual se estabeleceram os parâmetros do romance biográfico, no contexto do
gênero romance, emergiu um retrato de corpo inteiro de Roger Casement, o homem,
o intelectual humanista e o patriota apaixonado, visto pela ótica de Vargas
Llosa, baseada em pesquisa documental extensiva.
“Identidade e memória
na literatura irlandesa” foi a temática central do painel apresentado por mestrandas
e doutorandas da USP. Na análise da narrativa polifônica do romance histórico Star of the Sea (Joseph O´Connor, 2002) o
navio que transportava irlandeses para os Estados Unidos, Camila Batista
demonstrou o impacto traumático da Grande Fome no inconsciente coletivo
irlandês, e a resistência da arte irlandesa contemporânea em esquecer traumas
coletivos. Em “Roger Casement e memória em The
Fox’s Walk”, romance de Annabel Davis-Goff, Mariana
Bolfarine discutiu o modo pelo qual a narradora-protagonista, representante
da classe anglo-irlandesa, vem a ocupar, após a execução de Roger Casement, um
“entre-lugar” nem ao lado das forças britânicas, nem ao lado dos nacionalistas.
Patrícia de Aquino Prudente pôs em destaque algumas das características que
construíram o projeto de formação da identidade nacional e literária irlandesa
na virada do século XX, com base nas iniciativas de W.B. Yeats que, em conjunto
com outros artistas, fundou uma série de instituições: The Irish Literary
Society, The Irish Literary Theatre e The Abbey Theatre.
Nas sessões de
comunicação, apresentaram-se doze grupos de comunicações coordenadas e seis de
comunicações individuais, compostos em média de quatro apresentadores, num
total de sessenta e quatro comunicações. As sessões de pôsteres constaram de quatro
trabalhos, envolvendo seis apresentadores, o que eleva o total de
apresentadores para setenta, número considerável para um evento desse âmbito.
A IV Jornada de Estudos
Irlandeses representou, portanto, o fruto do esforço conjunto de uma equipe que
trabalhou harmoniosamente e com empenho, em nível da própria UNIANDRADE, dos
dirigentes da ABEI e das IES parceiras ─ UFPR e UTFPR e USP.
As orientações seguras
e sugestões valiosas das professoras doutoras Laura Izarra e Munira Mutran,
respectivamente presidente e presidente honorária da ABEI,
forneceram o substrato principal para a organização do programa: o contato com
palestrantes e a disponibilização do grupo de mestrandos e doutorandos, seus
orientandos na USP, para auxiliar nos trâmites da jornada.
O apoio incondicional
dos dirigentes da UNIADRADE garantiu-nos receptividade nos diversos níveis da Instituição.
Foi inestimável a colaboração dos colegas Anna Stegh Camati, sempre disponível
para sugerir soluções para problemas eventuais, Paulo Sandrini criador da arte
dos cartazes e folders e Edson Ribeiro, encarregado da publicação dos Anais. Na
linha de frente, o professor Paulo Eduardo de Oliveira assumiu toda a coordenação
logística do evento, com o auxílio precioso da secretária do Curso de Mestrado,
Monique Almeida do Carmo.
A todos, nossos
efusivos agradecimentos.
Curitiba, julho de 2015
Mail Marques de Azevedo
Coordenadora da Comissão Organizadora
OBSERVAÇÃO: Notícias sobre o evento na Gazeta do Povo podem ser acessadas nos
endereços
* Mail Marques de
Azevedo é Professora do Mestrado em Teoria Literária do Centro Universitário
Campos de Andrade – UNIANDRADE, em Curitiba.
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