DIA DOS POVOS INDÍGENAS, AILTON KRENAK NA ABL E A VIDA NÃO É ÚTIL
Nathalia Ribeiro e
Fernandes
No
último dia 19, comemoramos o Dia dos Povos Indígenas no Brasil, data que faz homenagem
às diversas etnias que habitam nosso país. A data surgiu no México, na década
de 1940, quando representantes dos países americanos se reuniram no Primeiro
Congresso Indigenista Interamericano, para discutir políticas públicas voltadas
aos povos indígenas. A data começou a ser comemorada no Brasil três anos
depois, em 1943, com um decreto-lei do então presidente Getúlio Vargas e
inicialmente era chamada de “Dia do Índio”, sofrendo alteração em 2022. A Lei
14.402/22 foi promulgada com a alteração do nome, que reconhece a pluralidade
existente entre as diferentes etnias do nosso país e visa valorizar a
diversidade étnica e cultural desses povos.
E
como o mês de abril é lembrado pela celebração dos povos originários, é
interessante ressaltar que, no último dia 05, ocorreu a cerimônia de posse, na
Academia Brasileira de Letras, do primeiro indígena a ocupar uma cadeira na ABL,
em 120 anos, desde sua fundação. Ailton Krenak, autor, filósofo e ativista de
movimentos que lutam pelas causas indígenas já foi publicado em mais de dez
territórios, alcançando leitores de várias nacionalidades e de várias
formações. O indígena ocupou a cadeira de número 5 que pertenceu a José Murilo
de Carvalho e Rachel de Queiroz. No discurso de posse, o filósofo e
ambientalista, formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e
doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília (UnB), falou sobre a
pluralidade que ele representa e citou poema de Mario de Andrade.
Imagem disponível em: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202404/ministra-participa-da-posse-de-ailton-krenak-primeiro-indigena-eleito-para-a-abl
Dentre
os mais de quinze livros publicados por Krenak, um dos mais conhecidos é A
vida não é útil, publicado em 2020, pela Companhia das Letras. O livro é
uma coletânea de cinco textos, originados a partir de palestras e lives
que o autor proferiu entre novembro de 2017 e junho de 2020, e nos quais ficam
claros os traços que orientam o pensamento do filósofo e ambientalista. Como
tema central, o leitor percebe que a intenção do autor é levantar a hipótese de
que nossa cultura atual dificulta a concepção de uma vida na qual o trabalho
não seja a razão primordial da existência. Dividido em cinco capítulos, nesse
livro, o leitor entende que o pensamento do autor é o de que o homem para sua
realização pessoal, por meio da produção e do consumo, esgotou a possibilidade
de preservação da espécie humana no planeta.
No
primeiro capítulo, “Não se come dinheiro”, é tratada a noção de civilização e
de progresso presente no imaginário da civilização ocidental. Já no segundo, intitulado
“Sonhos para adiar o fim do mundo”, Krenak discute o sonho como extensão da
realidade e convida o leitor a olhar para dentro de si mesmo, levantando a
ideia de que a poesia pode ser vista como um refúgio. Em “A máquina de fazer
coisas”, o terceiro capítulo, é defendida a tese de que os seres humanos e a
Terra são uma única entidade e que devemos desenvolver uma relação de respeito
e pertencimento com essa Terra. O quarto capítulo, “O amanhã não está à venda”
é dedicado a afirmar que o modo como os povos ocidentais estão vivendo entrou
em colapso e que é necessário repensar essa forma de vida. Esse capítulo
coincidiu com a pandemia de COVID-19, iniciada em março de 2020, que Krenak
interpretou como um silenciamento da Mãe Terra para seus filhos. O autor faz
uma relação entre o tipo de isolamento ao qual seus povos vêm passando ao longo
do tempo – em comunidades que vivem em meio à natureza – ao isolamento que o
mundo todo precisou se submeter nos períodos mais críticos da pandemia. Por
fim, no quinto e último capítulo, “A vida não é útil”, o ativista questiona o
caráter devastador do progresso e do utilitarismo, ligado ao capitalismo, que
só valoriza o que pode gerar lucro financeiro.
A
leitura de A vida não é útil colabora de forma muito eficiente no nosso
conhecimento acerca do pensamento ativista de um autor que está diretamente
ligado tanto às questões ambientais quanto às questões dos povos originários.
Com uma leitura rápida e leve, o leitor tem acesso a informações preciosas,
pois de forma provocativa, Krenak levanta questões muito importantes para a
atualidade.
Imagem disponível em: https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9788535933697/a-vida-nao-e-util
Referências:
KRENAK, Ailton. A vida
não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. Disponível em: https://portal.fgv.br/artigos/dia-povos-indigenas-data-e-comemorada-pela-primeira-vez-brasil-apos-derrubada-veto.
Acesso em: 19 abr. 2024.
-------------------------
Nathalia Ribeiro e Fernandes é mestra em Teoria Literária pela UNIANDRADE e doutoranda no mesmo PPG. Atua como professora de Literatura no Colégio Militar de Brasília. (A autora declara que não possui nenhum interesse comercial ou associativo que represente conflito de interesses ao publicar essa resenha.)
Ótimo artigo! Além de Objetivo e informativo, valoriza o trabalho valioso de um pensador e incansável ativista. Obrigada, Nathalia!
ResponderExcluir