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sexta-feira, 22 de março de 2013

UM MAR DE SANGUE EM CONTRA TODOS, DE ROBERTO MOREIRA



O filme Contra todos, de Roberto Moreira, expõe a violência sorrateira e cotidiana explícita e implicitamente, com cenas de um almoço em família e de um assassinato. A cor privilegiada é o vermelho, cor do mar (de sangue) que abre a narrativa. Durante toda a história, o confronto se estabelece entre pessoas da mesma comunidade e até da mesma família[1], situação que reforça a crueldade, a competitividade e a individualidade. Isso ocorre porque a violência ganha maior destaque, quando é praticada por pessoas “iguais”, que compartilham interesses e convivem diariamente, intimamente. Mas, em Contra todos, o individualismo não respeita laços e ultrapassa qualquer obstáculo. De acordo com Bauman, isso ocorre porque a violência, como resultado do apagamento de fronteiras provocado pela globalização, não conhece mais limites e passou a ocupar espaços em que, antes, ela era proibida ou, pelo menos, não tão frequente quanto é hoje em dia: “Um impulso violento está sempre em ebulição sob a calma superfície da cooperação pacífica e amigável; esse impulso precisa ser canalizado para fora dos limites da comunidade, onde a violência é proibida. […] caso contrário desmascararia o blefe da unidade comunal […].” (BAUMAN, 2001, p. 221).
Para acentuar esse “blefe da unidade comunal” a que o autor se referiu, na passagem transcrita acima, o vermelho predomina, desde o começo, com um mar de sangue sob o céu azul. Essa imagem ressurge depois, para fechar o filme. 



1 – Capa do DVD Contra todos
Imagem disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-56936/

Em ondas menores, durante a história, o vermelho marca presença, no figurino e no cenário. Várias vezes os personagens aparecem com roupas de cor vermelha ou de seus matizes: rosa e bordô. O quarto de Cláudia e Teodoro, o casal protagonista da história, tem colcha e almofadas bordô e os móveis são todos de mogno. Na cozinha, um fogão vermelho, vários utensílios da mesma cor e parte da parede pintada de rosa. Além disso, não são raras as cenas que mostram a família à mesa. A devoração e o instinto também são explorados no filme de Roberto Moreira.



2 – A família reunida à mesa, com os amigos, e os tons de vermelho e seus
matizes na cozinha da casa de Cláudia e Teodoro.
Imagem disponível em: http://www.tvsul.tv.br/wp-content/uploads/2012/08/Contra-Todos-Cineclube2.jpg

A violência, no filme de Roberto Moreira, é cotidiana, está dentro de casa, e nas ruas. Em Contra todos, o conceito de “comunidade” é relativizado e atualizado. A cidade é focalizada, a partir do cotidiano dos personagens. As cenas são rápidas e combinam com as ações instintivas dos personagens. (...). Os personagens não conhecem a contemplação e suas ações impensadas são cruéis, violentas e sem aquela glamourização que o cinema pode produzir (e sem esse recurso, a violência das cenas fica ainda mais evidente).

(Parte do artigo intitulado A violência urbana no cinema brasileiro contemporâneo, escrito pela Prof. Dra. Verônica Daniel Kobs e publicado na revista Todas as musas, ano 4, n. 2, 2013.)




[1] Os personagens que têm função primordial no enredo do filme são os que compõem o núcleo familiar (Teodoro (Giulio Lopes); Cláudia (Leona Cavalli), a segunda esposa de Teodoro; Soninha (Silvia Lourenço), filha de Teodoro com a primeira mulher) e também Valdomiro (Ailton Graça), que se relaciona com todos os personagens do filme e que é também o melhor amigo de Teodoro.

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