Profa. Anna
Stegh Camati
No ensaio “Sobre uma noção joyceana”, Umberto
Eco destaca que a crítica tratou exaustivamente do significado desse termo em
relação ao projeto estético de James Joyce. Ele cita uma passagem de Stephen herói, publicado postumamente em
1944, na qual o protagonista faz uma reflexão sobre essa questão: “Por
epifania, entendia ele uma súbita manifestação espiritual que surgia tanto no
meio dos mais ordinários discursos ou
gestos, quanto na mais memorável das situações intelectuais. Acreditava que
cabe ao homem de letras observar essas epifanias com um cuidado extremo, pois
elas representavam os instantes mais delicados e fugidios” (JOYCE citado por
ECO, p. 53).
Eco acredita que a epifania joyceana não é
uma tradução da fórmula escolástica, ou seja, do conceito claritas da estética tomista, como atestam diversos teóricos. Em Stephen herói, o artista quando jovem aluno
dos jesuítas faz um hábil jogo de argumentações para atribuir ao conceito de
epifania uma aparência escolástica. No entanto, argumenta Eco, mesmo quando a
epifania é caracterizada por “clarão radiante” (radiance, claritas), o
jovem artista se inspira na tradição do decadentismo: é nos textos de Walter Pater
que encontra a ideia de que o êxtase estético ou epifania seria como uma “chama
ardente”.
Na opinião de Eco é essencial ressaltar que o
conceito de epifania de Joyce está sempre associado, tal como em Pater, à ideia
de chama, de fogo e de êxtase. Ele também tem convicção de que Joyce teria lido
Il Fuoco (O fogo) de Gabriele D’Annunzio, escrito em 1898 e publicado em
1900, visto que a primeira parte dessa obra, intitulada “Epifania do fogo”,
retrata os êxtases estéticos (ou a emoção estética) do poeta Stelio Effrena.
Para comprovar a validade de suas
considerações críticas, Eco cita diversas passagens de O retrato do artista quando jovem, publicado em 1916, que
correspondem a trechos análogos do texto de D’Annunzio; destaca as metáforas
solares, a sensação de leveza, a consciência da liberdade, do poder e da
alegria criadora (ECO, 1969, p. 57-58).
(ECO, Umberto. Uma
noção joyceana. In: RONSE, H. et al. Joyce e o romance moderno. Trad. T. C. Netto.
São Paulo: Editora Documentos Ltda., 1969, p. 53-63).
A origem do conceito de epifania joyceano, segundo a
ótica de Umberto Eco, foi um dos tópicos discutidos na entrevista sobre James
Joyce realizada pelo programa de televisão Caldo de Cultura UFPRTV, no dia 06
de novembro de 2012, do qual participaram os professores, Dr. José Roberto
O’Shea (UFSC), Dra. Sigrid Renaux
(UNIANDRADE) e Dra. Anna Stegh Camati (UNIANDRADE). Disponível em: <www.tv.ufpr.br>
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