A FUNDAÇÃO FACULDADE DE
CIÊNCIAS E LETRAS DE GUARAPUAVA FAFIG
MEMÓRIA, NOSTALGIA E
REALIZAÇÃO
Mail Marques Azevedo
Nos dias seis e
sete de dezembro passado, realizaram-se as comemorações dos quarenta anos de
formatura das primeiras turmas da FAFIG ─ semente originária da atual
Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO ─ onde concluí o curso de
Letras. Foi um exercício de reflexão sobre a transitoriedade da existência humana
e de gratidão pelo dom que recebemos e pusemos em prática na profissão
escolhida.
Nascida em Guarapuava,
no centro-oeste do Paraná, para lá voltei em julho de 1957, munida do diploma
de professor primário e do decreto de nomeação para a Escola de Aplicação
“Visconde de Guarapuava”, pronta para iniciar carreira no magistério. Jovem e recém-casada,
encaixava-me no modelo dos anos cinquenta para a realização da mulher: ser
esposa, mãe e professora, nesta ordem. Com formação em música e línguas, logo
passei a dar aulas no então chamado ginásio, sem ter cursado faculdade,
situação da maioria absoluta dos professores da região.
Todo este
preâmbulo destina-se a nos situarno contexto da situação do professorado
paranaense no centro-oeste do estado, anterior à instalação da FAFIG, em 1970, Além
das Universidades de Londrina, Ponta Grossa e Maringá, havia fora da capital,
até 1960, duas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, em Palmas e União da
Vitória e a Faculdade de Direito do Norte Pioneiro,em Jacarezinho.
Em meados dos anos sessenta, a
comunidade e governantes de Guarapuava iniciaramintensa movimentação, com
vistas à criação de uma Instituição de Ensino Superior. O sucesso chegou com a instalação
daFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapuava, FAFIG, em 1970, com
quatro cursos: Letras, Geografia,História e Matemática.
Tínhamos
cinco aulas de 50 minutos à noite, das 18h30 às 23 horas e era um sacrifício
manter-se acordado, mesmo para os locais, que vinham de um ou dois períodos
diários de aulas.Completava-se o número de horas, nos sábados à tarde. Os dados
objetivos, no entanto, nada dizem do aspecto humano que marcou os quatro anos
em que abdicamos do status de
professor para nos tornar alunos, com todas as características e manhas da
“categoria”. Um de nossos professores costumava fazer longas perorações
segurando o giz na mão direita erguida para o alto. Conclusão da turma: excesso
de goma na camisa. (Naquele tempo os professores usavam terno e gravata). Risos
sufocados nos valeram chamada de atenção, seguida de silêncio constrangido.
Dos
160 alunos das primeiras turmas, mais de 50% vinham de outras cidades do oeste.
Tínhamos colegas de Foz do Iguaçu (400 km), Cascavel (250 km), Guaraniaçu (180
km) e de cidades intermediárias, apenas para as aulas de sexta e sábado.Os mais
próximos, vindosde Laranjeiras do Sul, (120 km), Pitanga (90 km) e
Prudentópolis (68 km), eram os mais sacrificados, pois regressavam a suas
cidades para o período de aulas da manhã seguinte. Quem não tinha carro devia
recorrer à propalada “criatividade do professor”: arranjar caronas ou fazer
“vaquinhas” para alugar ônibus caquéticos que nem sempre chegavam a seu
destino. Eram comuns avisos do estilo: “O pessoal de Laranjeiras avisa que
chegará atrasado para a prova, porque o ônibus quebrou”. Existe, porém, um
aspecto positivo em tudo isso: nos quatro anos de deslocamentos diários não se
registrou um acidente grave sequer.
Foi
um período de intensa colaboração: anotávamos aulas usando papel carbono; ao
invés de cópias xerox, mimeografávamos textos; hospedávamos colegas. É possível
dizer que o esquema funcionou: dos quarenta alunos do curso de Letras, os
quarenta receberam seu diploma em dezembro de 1973. Dentre eles surgiram
professores, dirigentes e reitores das atuais IES do oeste do Paraná
Da
união da FAFIG com a Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Irati,
formou-se a UNICENTRO, de cuja estruturação participamos como Diretora de
Pesquisa. A partir de 1997, após a conclusão do processo de reconhecimento, teve
inícioa expansão universitária. As quatro licenciaturas de
inicio deram origem a cursos nas áreas tecnológica, agrária e da saúde. Temos
orgulho de nossa participação pioneira.
Na reunião festiva dos dias 6 e 7 de dezembro
passado, foi principalmente a transformação dos colegas do sexo masculino,
menos afeitos às tinturas de cabelo e recursos da moda, que nos alertou para a
passagem do tempo. Desapareceram as costeletas, os cabelos longos e os bigodes
fartos; as camisas espalhafatosas e as calças boca de sino. No entanto, no
grupo de senhores respeitáveis de cabelos brancos, percebia-se o entusiasmo
juvenil que contagiava a todos, de amigos que se reencontram, ao final de uma
carreira, em que “combateram o bom combate” e guardaram os princípios de
dignidade do ser professor.
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