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quarta-feira, 19 de março de 2014


A FUNDAÇÃO FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE GUARAPUAVA FAFIG

MEMÓRIA, NOSTALGIA E REALIZAÇÃO
 
Mail Marques Azevedo
 

Nos dias seis e sete de dezembro passado, realizaram-se as comemorações dos quarenta anos de formatura das primeiras turmas da FAFIG ─ semente originária da atual Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO ─ onde concluí o curso de Letras. Foi um exercício de reflexão sobre a transitoriedade da existência humana e de gratidão pelo dom que recebemos e pusemos em prática na profissão escolhida.

Nascida em Guarapuava, no centro-oeste do Paraná, para lá voltei em julho de 1957, munida do diploma de professor primário e do decreto de nomeação para a Escola de Aplicação “Visconde de Guarapuava”, pronta para iniciar carreira no magistério. Jovem e recém-casada, encaixava-me no modelo dos anos cinquenta para a realização da mulher: ser esposa, mãe e professora, nesta ordem. Com formação em música e línguas, logo passei a dar aulas no então chamado ginásio, sem ter cursado faculdade, situação da maioria absoluta dos professores da região.

Todo este preâmbulo destina-se a nos situarno contexto da situação do professorado paranaense no centro-oeste do estado, anterior à instalação da FAFIG, em 1970, Além das Universidades de Londrina, Ponta Grossa e Maringá, havia fora da capital, até 1960, duas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, em Palmas e União da Vitória e a Faculdade de Direito do Norte Pioneiro,em Jacarezinho.

Em meados dos anos sessenta, a comunidade e governantes de Guarapuava iniciaramintensa movimentação, com vistas à criação de uma Instituição de Ensino Superior. O sucesso chegou com a instalação daFaculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapuava, FAFIG, em 1970, com quatro cursos: Letras, Geografia,História e Matemática.

Tínhamos cinco aulas de 50 minutos à noite, das 18h30 às 23 horas e era um sacrifício manter-se acordado, mesmo para os locais, que vinham de um ou dois períodos diários de aulas.Completava-se o número de horas, nos sábados à tarde. Os dados objetivos, no entanto, nada dizem do aspecto humano que marcou os quatro anos em que abdicamos do status de professor para nos tornar alunos, com todas as características e manhas da “categoria”. Um de nossos professores costumava fazer longas perorações segurando o giz na mão direita erguida para o alto. Conclusão da turma: excesso de goma na camisa. (Naquele tempo os professores usavam terno e gravata). Risos sufocados nos valeram chamada de atenção, seguida de silêncio constrangido.

Dos 160 alunos das primeiras turmas, mais de 50% vinham de outras cidades do oeste. Tínhamos colegas de Foz do Iguaçu (400 km), Cascavel (250 km), Guaraniaçu (180 km) e de cidades intermediárias, apenas para as aulas de sexta e sábado.Os mais próximos, vindosde Laranjeiras do Sul, (120 km), Pitanga (90 km) e Prudentópolis (68 km), eram os mais sacrificados, pois regressavam a suas cidades para o período de aulas da manhã seguinte. Quem não tinha carro devia recorrer à propalada “criatividade do professor”: arranjar caronas ou fazer “vaquinhas” para alugar ônibus caquéticos que nem sempre chegavam a seu destino. Eram comuns avisos do estilo: “O pessoal de Laranjeiras avisa que chegará atrasado para a prova, porque o ônibus quebrou”. Existe, porém, um aspecto positivo em tudo isso: nos quatro anos de deslocamentos diários não se registrou um acidente grave sequer.

Foi um período de intensa colaboração: anotávamos aulas usando papel carbono; ao invés de cópias xerox, mimeografávamos textos; hospedávamos colegas. É possível dizer que o esquema funcionou: dos quarenta alunos do curso de Letras, os quarenta receberam seu diploma em dezembro de 1973. Dentre eles surgiram professores, dirigentes e reitores das atuais IES do oeste do Paraná

Da união da FAFIG com a Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Irati, formou-se a UNICENTRO, de cuja estruturação participamos como Diretora de Pesquisa. A partir de 1997, após a conclusão do processo de reconhecimento, teve inícioa expansão universitária. As quatro licenciaturas de inicio deram origem a cursos nas áreas tecnológica, agrária e da saúde. Temos orgulho de nossa participação pioneira.

Na reunião festiva dos dias 6 e 7 de dezembro passado, foi principalmente a transformação dos colegas do sexo masculino, menos afeitos às tinturas de cabelo e recursos da moda, que nos alertou para a passagem do tempo. Desapareceram as costeletas, os cabelos longos e os bigodes fartos; as camisas espalhafatosas e as calças boca de sino. No entanto, no grupo de senhores respeitáveis de cabelos brancos, percebia-se o entusiasmo juvenil que contagiava a todos, de amigos que se reencontram, ao final de uma carreira, em que “combateram o bom combate” e guardaram os princípios de dignidade do ser professor. 

 

 

 


 

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