Prof. Luiz Zanotti
FIGURA
1. Zeferino, Bode Orelana e Graúna.
As personagens foram
situadas na caatinga, onde o cangaceiro Zeferino, com seu chapelão incrustado e
vestimenta de encourado, contracena a Graúna, uma ave típica da região, e, com
Orelana, um bode de cartola.
Zeferino é o
cangaceiro dos sertões brasileiros, cabra macho, protagonista das historinhas,
simbolizando o povo em sua mistura de intuição e conhecimento, inocência e
malandragem. Graúna é um pássaro preto do Nordeste, representando a ingenuidade
e a irreverência da mulher classe média, ao mesmo tempo consciente, vulgar,
dominadora e dominada. Francisco Orelana é um bode comedor de livros, típico
representante da intelectualidade pequeno-burguesa, símbolo do medo e da
auto-censura que predominam nos intelectuais brasileiros da década de 70, porém
por vezes capaz de atitudes heróicas e idealistas. (SEIXAS, 1996, p. 50)
Também merece atenção o
trabalho do ceramista Mestre Vitalino de Caruaru, que se encontra registrado no
documentário Vitalino/Lampião (1969),
de Geraldo Sarno. No filme, o cineasta apresenta o processo de criação de uma
estatueta de barro de Lampião pelo artesão Manuel Vitalino – filho de Mestre
Vitalino – fazendo ressoar, ao fundo, uma canção do repentista Severino Pinto
sobre as razões que levaram Virgolino Ferreira ao cangaço:
O cineasta-narrador
introduz o filme apresentando sua concepção de arte popular: uma arte que não
cria, apenas materializa modelos propostos pela coletividade. Para ele, o
artesão não é um criador, mas aquele que dá forma a temas criados pela
"consciência coletiva". Artesão e cantador não participam da
concepção artística; eles nada criam, apenas interpretam algo que já está dado.
Entre a arte individual e a criação coletiva do mito, entre Vitalino e Lampião,
cria-se uma relação através da qual a violência trágica de Lampião dá sentido e
justifica o ato solitário do artesão. [...] Dessa forma o artista popular
torna-se intérprete tradicional da sociedade a que pertence e o produto de seu
artesanato reflete não apenas o mito trágico criado pela consciência coletiva
mas o próprio destino trágico de toda a violência gerada pelo Nordeste
tradicional. (D’ALMEIDA, 2009)
É interessante notar a
afirmação feita pelo artesão a respeito da produção limitada:
ninguém é artista e
todo mundo é artista. Porque a fôrma... Quem nunca viu um boneco de barro e nem
sabe o que é, pegando na fôrma e pegando no barro pode fazer. A fôrma
desenhada, vamos dizer, feita a cabeça do boneco. Forma o corpo e faz as cabeça
tudo de fôrma. Então é de fabricar, vamos dizer, 50 e mesmo um cento de
bonecos, de peças. Você olhar assim é tudo um só. Quer dizer que aí não é arte.
É uma fôrma e tudo o que fizer fica igual. (VITALINO apud em D’ALMEIDA, 2009).
Outra mídia que utilizou a
temática de Lampião é o universo das histórias em quadrinhos, também designados
como romances gráficos. Uma obra que
vale a pena ser destacada é o comix
Lampião: ...era o cavalo do tempo atrás da besta da vida (2006), de
Klévisson Tupynanquim. Segundo Sidney Gusman[1]
(2010), o comix foi selecionado pelo
Programa Nacional do Livro Didático do Estado de São Paulo, bem como pelo
Programa Nacional da Biblioteca Escolar, o que resultou em mais de quarenta mil
exemplares distribuídos nas escolas públicas participantes do programa.
Segundo Gusman, um dos
maiores especialistas de história em quadrinhos no Brasil, Klévisson dá uma
verdadeira aula sobre comix,
demonstrando enorme conhecimento do tema, obtido por uma profunda pesquisa
bibliográfica e visual. Para o especialista, o cartunista criou desenhos
expressivos, tendo o cuidado de escrever todos os textos dos balões
“exatamente” como o povo local pronunciava na época.
Enfim, a diversidade
midiática que se apropria da temática lampiônica é infinda e propicia a criação
de verdadeiras obras de arte como é o caso do romance gráfico Lampião e
Lancelote (2007), de Fernando Vilela, ganhador do premio Bolonha Ragazzi:
FIGURA 2. Luta entre os cangaceiros de Lampião
e os cavaleiros de Lancelote
O autor cria o seu romance
partindo de uma perspectiva intertextual e
relativiza as antinomias através da escolha de uma diversidade de
cores (preta, dourado e prata), da utilização de várias linguagens (verso,
sextilha do cordel sertanejo, prosa, narrativa épica), recursos gráficos
(carimbo e xilogravura) e outros símbolos. Vilela oferece um Lampião mais
humano, um indivíduo que não foi mais violento do que o cavaleiro Lancelote,
um exemplo paradigmático de herói medieval e, que assim como o cavaleiro
amava Guinevere, também foi capaz de ter um grande amor por Maria Bonita.
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[1] Sydnei
Guzman no artigo “Lampião de Klévisson Viana adotado em escolas de todo o
Brasil”. Disponível em http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/n02042007_07.cfm.
Acesso em: 20 set. 2010.
[1] Sydnei
Guzman no artigo “Lampião de Klévisson Viana adotado em escolas de todo o
Brasil”. Disponível em http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/n02042007_07.cfm.
Acesso em: 20 set. 2010.
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