Literatura,
centralidade humana e contexto: por uma literatura de resistência
Esse
pequeno texto visa reforçar a perspectiva histórica do texto literário.
Amparado nos fundamentos materialistas de Mikahil Bakhtin e do Círculo russo do
começo do século XX e nos pressupostos de autores como Georg Lukcács, Lucien
Goldman, Antonio Candido, Alfredo Bosi e Roberto Schwarz, advoga que a
literatura é uma manifestação social e voltada para o contexto de onde parte. O
escritor, homem de seu tempo e país, como diz Machado de Assis, posiciona-se
criticamente sobre o que ocorre ao seu redor e organiza seu texto para
responder ao que vê, observa a ao que lhe inquieta. O escritor não é um
alienado que vem de outro planeta e profere um discurso incompreensível e sobre
uma situação totalmente fantasiosa. Escreve sobre o que viveu, presenciou,
sofreu, experienciou. Toda teoria literária que não leva esse pressuposto em
consideração, a meu ver, amparada pelos críticos e filósofos citados, é
imperfeita, inadequada. Quando lemos um bom romance, um poema, uma peça
teatral, um conto, queremos ali encontrar o humano vivenciando situações que
nos sejam semelhantes. O Cortiço de
Aluísio Azevedo traz para a cena inúmeras lavadeiras pobres e exploradas. Memórias póstumas de Brás Cubas
formaliza a vida vazia da elite improdutiva brasileira. Vidas Secas de Graciliano Ramos narra a saga dos pobres em busca da
sobrevivência. A hora da estrela de
Clarice Lispector conta a difícil
história de uma mulher pobre, humilhada, alienada. O
retrato de Érico Veríssimo relata a decadência de uma forma de vida do
campo digna e a ascensão da vida urbana em confronto com aquela. Eles eram muitos cavalos de Luiz Rufato
nos traz a vida conturbada de desempregados em busca de trabalho. O leitor e a
leitora já podem ter percebido que desses livros citados pulsa a vida de
pessoas comuns, ordinárias, que podem ser encontradas entre nós. Não se trata
de um universo inventado, mas que reflete a vida e sob as lentes de cada
escritor. A literatura para ser de qualidade deve falar ao humano sobre o
humano. Qual a função social da literatura? Fazer com que a condição humana se
aperfeiçoe. Por uma literatura de resistência com diz Alfredo Bosi. Fora disso,
é balela, puro entretenimento vazio.
Professora
Dra Angela Maria Rubel Fanini, Bolsista de produtividade em pesquisa pelo CNPq.
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