CARNAVAL E CARNAVALIZAÇÃO: QUAIS AS
DIFERENÇAS????
Profa. Dra. Angela Maria Rubel Fanini
UNIANDRADE
Bolsista de Produtividade em Pesquisa / CNPq
Este texto trata dos termos
“carnaval” e “carnavalização”, a partir da obra do filósofo russo da linguagem
Mikhail Bakthin (1985-1975), um dos mais lidos pensadores nas Letras, Educação
e Comunicação. Sua obra dá sustentação para as diretrizes educacionais do MEC
para o Ensino Básico e Fundamental. O filósofo trata de linguagem, história,
filosofia, psicologia, economia e cultura, percebendo os fatos sociais no
contexto em que ocorrem. O corpus preferido de Bakthin é o literário. Aí
encontra um conjunto discursivo que estuda à luz do materialismo dialético,
vinculando-se à tradição marxista. Vê a linguagem em suas condições de produção
reais e como essa linguagem do cotidiano é trabalhada pelos escritores. A
linguagem se torna discurso e está carregada de valores de seu tempo e lugar.
Cada sujeito de discurso emite, não só palavras e frases, mas se posiciona pela
sua fala e escrita perante o mundo e o outro, respondendo questões de sua época
e as apreciando, depreciando, satirizando, enaltecendo etc. O discurso não é neutro, mas ensopado de
valores ideológicos. Bakhtin estuda a realidade, sendo um materialista. Após
isso, investiga o discurso e como e em que condições os emissores elaboram a
realidade econômica, política, social, cultural em palavras, dotando suas
personagens de falas. Desse modo, o texto literário é uma resposta ao contexto.
Na obra Cultura Popular na Idade Média: o contexto de François Rabelais, Bakhtin
se debruça sobre o estudo do carnaval e da carnavalização. Entende a festa
popular como meio de emancipação das classes populares. No período do carnaval,
as hierarquias, os dogmas, a perspectiva monológica da vida são ridicularizadas.
Com o advento da Revolução Industrial, as festas carnavalescas reduzem, pois o
folião se transforma, cada vez mais, em trabalhador da indústria, sem tempo
algum para o carnaval. Entretanto, o
espírito contestador, presente nessas festividades, migra para o interior dos
textos literários, transformando-se em visão crítica da sociedade. Alguns
escritores forjam suas obras a partir de uma perspectiva a que chama de
“carnavalizada”. Desse modo, carnaval se refere ao real da existência, ou seja,
as festas populares e a “carnavalização” indica um modo de os escritores verem
o mundo, plasmando personagens e situações carnavalizadas. Há um
enfraquecimento do carnaval na sua função contestatória das ruas, mas na
literatura ocorre o contrário. Há um fortalecimento de uma visão crítica da
sociedade por parte de vários literatos. No contexto brasileiro, o carnaval,
sobretudo dos últimos anos, tem se fortalecido e demonstrado fôlego crítico em
relação à política e aos valores conservadores.
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