Como Margaret
Atwood menciona em sua Introdução a Negotiating
with the dead: a writer on writing (2002), esta obra surgiu das
Conferências de Empson – criadas na Universidade de Cambridge em homenagem ao
crítico literário Sir William Empson, a fim de oferecer, num “fórum único para
escritores famosos e acadêmicos de reputação internacional” a oportunidade de “explorarem
de modo acessível temas de abrangência literária e cultural”. Por esta razão, o
tom leve, irônico e coloquial – tão característico da prosa ficcional, não
ficcional e da poesia de Atwood – que perpassa as seis conferências
1. reforça a
acessibilidade com que ela discute o ato de escrever e as três perguntas
feitas com maior frequência aos escritores, tanto pelos leitores quanto por
eles mesmos: Para quem você escreve? Por
que você escreve? De onde vem esse impulso?
2. potencializa,
consequentemente, as questões abordados nas conferências, como a identidade do
escritor, o discurso e a consciência dupla dos escritores, o conflito entre
arte, comércio e poder, o triângulo escritor/ livro/ leitor e os caminhos
labirínticos da viagem narrativa;
3. e, ao mesmo
tempo, projeta ainda mais a agudeza de espírito com que faz uma releitura da
colonização, ao redefinir, subverter e desconstruir – através de estratégias
discursivas como a ótica paródica e a ironia, os conceitos fixos de
eurocentrismo, cânone literário e essencialismo, entre outros.
Essas estratégias, pelo fato de serem
compartilhadas pelo pós-modernismo e pelo pós-colonialismo, merecem,
entretanto, uma ressalva: como Linda Hutcheon já havia ressaltado em“Circling
the Downspout of Empire”, apesar de haver uma importante diferença entre o
pós-colonial e o pós-moderno – a arte e crítica pós-coloniais têm uma agenda
política distinta e muitas vezes uma teoria de agência que lhes permite ir além
dos limites pós-modernos, de desconstruir ortodoxias existentes, para entrar na
esfera de ação social e política – mesmo assim há uma sobreposição considerável
em suas preocupações formais (como o “realismo mágico”), temáticas (em relação
à história e à marginalidade), e estratégias discursivas (como a ironia e a
alegoria), todas compartilhadas pelo pós-moderno e pelo pós-colonial, mesmo que
as finalidades com que essas estratégias são usadas possam diferir (1995, p.
130-131).
Esta pesquisa pretende, portanto, discutir
algumas dessas questões abordadas nas conferências e, consequentemente,
verificar como as práticas do pós-modernismo e pós-colonialismo usadas por
Atwood
1.
não só se sobrepõem, ao Atwood apontar para “novos
parâmetros de crítica literária e social, baseadas na relativização e na
pluralidade” (Bonnici, 2005, p.45-6);
2.
mas simultaneamente lhe permitem ultrapassar os
limites do pós-moderno e do pós-colonial, ao ainda abrir – como teoriza Hena
Maës-Jelinek a respeito de “creative writers” (e, portanto, incluindo Atwood
como romancista) – “novas perspectivas até na crítica, em grande parte porque
sua imaginação e pensamento originais os livram das elaborações racionais da
crítica acadêmica, enquanto seus pontos de vista são geralmente inspirados pela
própria prática da literatura. (...) Salman Rushdie, Wole Soyinka, Caryl
Phillips e Wilson Harris, os escritores mais prolíficos de ensaios críticos,
expressaram insights únicos de
literatura e sociedade sem recorrer à teoria”(2008, p. 88-9).
Pontuando
apenas algumas dessas ultrapassagens, o ensaio apresenta a seguir os
subcapítulos:
I - A subversão da crítica acadêmica
II - A releitura da situação colonial
canadense e do eurocentrismo
III - A desconstrução/reconstrução da Arte de
escrever
Sigrid
Renaux
●A fim de propiciar aos mestrandos um primeiro contato
com a obra de Margaret Atwood, complemento a informação sobre o texto: é o início do ensaio “O discurso dialógico de Margaret Atwood
em Negociando com os mortos”, que
acaba de ser publicado em Para além dos
pós-nacionalismos e pós-colonialismos (org. Giséle M. Fernandes) .(S.José
do Rio Preto: HN Editora, 2012) .
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