MACHADO DE ASSIS
& LÚCIOMANFREDI
DOM CASMURRO
E OS DISCOS VOADORES
O título do
livro publicado pela editora Lua de Papel, Dom
Casmurro e os discos voadores, destina-se, evidentemente, a chamar a
atenção para a reescritura de obras canônicas como combinações de gêneros de
literatura de massa, na série Clássicos
Fantásticos. Três outros títulos foram publicados em 2010, como parte do
projeto da editora de “recriar nossas obras mais festejadas [...] com elementos
da ficção moderna”: Senhora e a bruxa,
A escrava Isaura e o vampiro e O alienista caçador de mutantes,
assinados, respectivamente, por Angélica Lopes, Jovane Nunes e Natália Klein.
O estudo de Dom Casmurro e os discos voadores foi
assunto do trabalho que apresentamos em um dos simpósios do 25º Congresso da
LASA (Latin American Studies Association), em Washington, no final de maio. Foi
gratificante verificar o interesse da platéia, formada de estadunidenses que se
dedicam ao estudo da literatura dos diversos países da América Latina ─
particularmente os de língua espanhola ─ e de estudiosos falantes de espanhol,
pela literatura brasileira. Houve curiosidade em saber detalhes sobre os demais
romances que compõem a série.
Nosso trabalho
partiu do exame da tendência mundial de associar obras consagradas com gêneros
tornados populares pela mídia ─ deflagrada pela publicação de Pride and Prejudice and Zombies, por
Seth Grahame-Smith ─ para as questões de autoria e da classificação dos gêneros
utilizados em tais reescrituras.
A indicação de
coautoria estampada em evidência na capa das obras mencionadas ─ Machado de
Assis & Lúcio Manfredi; José de Alencar & Angélica Lopes ─ suscita
problemas de teoria literária, por fugir aos parâmetros da adaptação e da
paródia.
Para examinar a
propriedade de colocar as diferentes utilizações do sobrenatural sob o
guarda-chuva comum da ficção científica, reportamo-nos aos estudos de Eric
Rabkin sobre o fantástico. Rabkin aponta que o termo ficção cientifica “vem
sendo forçado a prestar os mais variados serviços”: da viagem a Laputa em Viagens de Gulliver (1726) e do Icaromenippus de Luciano de Samosata
(b.120 A.D.) à série Guerra nas estrelas.
Sua observação seguinte põe em relevo a flexibilidade do gênero e as
dificuldades de categorização: “E há outros trabalhos [...] que se esgueiram
para dentro e para fora do gênero sem que ninguém note”. (NOTA)
As dificuldades
aumentam claramente na atual sociedade de comunicação de massa, em que a mídia
visual tem papel preponderante e fornece as mais esdrúxulas combinações
permitidas pela tecnologia.
MAIL MARQUES DE
AZEVEDO
NOTA. RABKIN, E. The
Fantastic in Literature. Princeton: Princeton Un, Press, 1977.p.
118-119 Tradução da autora
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