Profa. Anna Stegh
Camati
Em 20.06.2013, os alunos do
Mestrado em Teoria Literária da UNIANDRADE apresentaram um painel sobre a
dramaturgia, crítica e linguagens cênicas de Bertolt Brecht (1898-1956) no VII
CIEL da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Brecht será sempre
lembrado por desenvolver uma arte engajada em causas sociais e por
manifestar-se contra os desmandos dos detentores do poder. Por conta da atual
conjuntura política que levou milhares de pessoas (majoritariamente jovens) às
ruas em diversas cidades, as reflexões desenvolvidas pelos mestrandos se
inseriram na pauta das reivindicações dos manifestantes, cujas vozes inicialmente
protestaram contra o aumento abusivo das tarifas do transporte público mas que,
em seguida, tomaram de assalto o Congresso com insatisfações de longa data que
afetam diretamente a população brasileira
Um dos participantes do painel levantou um paralelo entre os
acontecimentos da peça A mãe (1931), de Bertolt Brecht, adaptação
do romance homônimo de Máximo Gorki, e as mobilizações nas ruas em todo país.
Em uma das cenas desse texto, os operários de uma fábrica lutam pelos seus direitos e se
manifestam contra a opressão capitalista. Os protestos começam com o desconto
de um “copeque” (moeda de baixo valor) do salário dos trabalhadores, no
entanto, como argumenta um dos personagens, a luta não se trava apenas pelo
“copeque”, nem pelo remendo do casaco, mas
pelo casaco inteiro.
Em matéria publicada em 19.03.2013, na terceira página do Caderno G, da Gazeta do Povo, intitulada “Acordes
Locais”, Luiz Claudio Oliveira, faz comentários a respeito das mobilizações de
rua que remetem às colocações brechtianas mencionadas acima: “Ao contrário do
que pensam os conformados, os protestos não são só pelos vinte centavos do
aumento do ônibus [...]. Tem outros motivos banais que vão se acumulando e
subindo mais rápido que água de inundação. Tem o mensalão e toda a corrupção que
ele representa e que se espalha nos gabinetes dos três poderes. Tem o Renan na
presidência do Senado, tem o Feliciano na presidência dos Direitos Humanos, as
benesses exageradas para os políticos,
os magistrados e os apaniguados em cargos de comissão ou recebendo jetons em
dispensáveis postos nos conselhos administrativos de empresas públicas. Quanta
sujeira”. Acrescente-se a isso a “avalanche
de impostos municipais, estaduais e federais que nos impõem em troca de
serviços públicos de péssima qualidade” nas áreas da educação, saúde e outras.
Durante as apresentações na UEPG de Ponta Grossa, as vozes dos mestrandos
mesclaram-se com os clamores do povo nas ruas. A reflexão crítica não se
limitou apenas às tensões subjacentes ao contexto cultural da época em que Brecht
viveu e escreveu, mas estendeu-se aos problemas da realidade brasileira de
hoje. Como afirmou o encenador Peter Brook, na história da humanidade sempre
surge um momento em que uma combinação de fatores e circunstâncias valida a
opção de montar um texto clássico. Nesse sentido, agora é a hora e a vez de
Bertolt Brecht.
No Brasil, a influência de Brecht evidenciou-se em vários momentos
históricos de tensão sócio-política nos
quais o dramaturgo alemão foi revisitado, atualizado e ressignificado. O painel
apresentado pelos mestrandos da UNIANDRADE objetivou criar um espaço de
discussão e reflexão, ressaltando não apenas a atualidade de Brecht, mas sua
importância como pensador e o caráter dialético de sua dramaturgia que permitem
a adaptação de suas peças, em linguagens contemporâneas, para novos tempos e
novos públicos.
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