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sábado, 6 de julho de 2013

BERTOLT BRECHT, ONTEM E HOJE: MOVIMENTOS SOCIAIS E VOZES DA ACADEMIA


Profa. Anna Stegh Camati

 

Em 20.06.2013,  os alunos do Mestrado em Teoria Literária da UNIANDRADE apresentaram um painel sobre a dramaturgia, crítica e linguagens cênicas de Bertolt Brecht (1898-1956) no VII CIEL da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Brecht será sempre lembrado por desenvolver uma arte engajada em causas sociais e por manifestar-se contra os desmandos dos detentores do poder. Por conta da atual conjuntura política que levou milhares de pessoas (majoritariamente jovens) às ruas em diversas cidades, as reflexões desenvolvidas pelos mestrandos se inseriram na pauta das reivindicações dos manifestantes, cujas vozes inicialmente protestaram contra o aumento abusivo das tarifas do transporte público mas que, em seguida, tomaram de assalto o Congresso com insatisfações de longa data que afetam diretamente a população brasileira

Um dos participantes do painel levantou um paralelo entre os acontecimentos  da peça A mãe (1931), de Bertolt Brecht, adaptação do romance homônimo de Máximo Gorki, e as mobilizações nas ruas em todo país. Em uma das cenas desse texto, os operários  de uma fábrica lutam pelos seus direitos e se manifestam contra a opressão capitalista. Os protestos começam com o desconto de um “copeque” (moeda de baixo valor) do salário dos trabalhadores, no entanto, como argumenta um dos personagens, a luta não se trava apenas pelo “copeque”, nem pelo remendo do casaco,  mas pelo casaco inteiro.

Em matéria publicada em 19.03.2013, na terceira página do Caderno G, da Gazeta do Povo, intitulada “Acordes Locais”, Luiz Claudio Oliveira, faz comentários a respeito das mobilizações de rua que remetem às colocações brechtianas mencionadas acima: “Ao contrário do que pensam os conformados, os protestos não são só pelos vinte centavos do aumento do ônibus [...]. Tem outros motivos banais que vão se acumulando e subindo mais rápido que água de inundação. Tem o mensalão e toda a corrupção que ele representa e que se espalha nos gabinetes dos três poderes. Tem o Renan na presidência do Senado, tem o Feliciano na presidência dos Direitos Humanos, as benesses exageradas  para os políticos, os magistrados e os apaniguados em cargos de comissão ou recebendo jetons em dispensáveis postos nos conselhos administrativos de empresas públicas. Quanta sujeira”.  Acrescente-se a isso a “avalanche de impostos municipais, estaduais e federais que nos impõem em troca de serviços públicos de péssima qualidade” nas áreas da educação, saúde e outras.

Durante as apresentações na UEPG de Ponta Grossa, as vozes dos mestrandos mesclaram-se com os clamores do povo nas ruas. A reflexão crítica não se limitou apenas às tensões subjacentes ao contexto cultural da época em que Brecht viveu e escreveu, mas estendeu-se aos problemas da realidade brasileira de hoje. Como afirmou o encenador Peter Brook, na história da humanidade sempre surge um momento em que uma combinação de fatores e circunstâncias valida a opção de montar um texto clássico. Nesse sentido, agora é a hora e a vez de Bertolt Brecht.

No Brasil, a influência de Brecht evidenciou-se em vários momentos históricos  de tensão sócio-política nos quais o dramaturgo alemão foi revisitado, atualizado e ressignificado. O painel apresentado pelos mestrandos da UNIANDRADE objetivou criar um espaço de discussão e reflexão, ressaltando não apenas a atualidade de Brecht, mas sua importância como pensador e o caráter dialético de sua dramaturgia que permitem a adaptação de suas peças, em linguagens contemporâneas, para novos tempos e novos públicos.  

 

 

 

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