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terça-feira, 5 de novembro de 2013

Profissional deixa seu país para trabalhar no vizinho, onde precisam dele. Acontece com professor também.


Edson Ribeiro da Silva

 

Acabo de conversar com uma professora.

História de professora brasileira, que foi atrás não de condições de trabalho, mas da possibilidade de ganhar algum dinheiro na profissão.

A conhecida história de quem emigra para algum daqueles países dos quais a gente só ouve falar, mas de quem aceita o desafio, como uma forma de poder enviar dinheiro para um filho que ficou, ou para pais mal sucedidos.

Uma professora jovem, que fez apenas o curso de magistério e teve que abandonar a faculdade de pedagogia. Então veio o casamento. O filho e, para não ficarmos naquilo que a semiótica chama de “script”, a separação e o abandono da criança. Nessas horas, sempre aparece alguém para dizer que, naquele país pouco conhecido, um professor ganha muito bem, e pode amealhar uma certa quantia se esquecer por um tempo a vida no Brasil. E, para quem está com a vida desorganizada, dinheiro pode ser um bom começo.

A professora foi morar no Suriname. Aquele obscuro país sobre o qual o brasileiro não sabe dizer nada além do nome da capital. Aliás, acho que só sabe a língua que é falada lá. Aliás, acho que nem isso. Quem leu Cem anos de solidão sabe que lá pela centésima página existe uma nota de rodapé explicando que, no Suriname, há um dialeto chamado “papiamento”, não mais que isto. Sem a nota, tantos leitores nem saberiam que se falava de um país vizinho.

Mas a professora foi para lá e teve que entender holandês. E, de fato, o país precisa de professores brasileiros assim como os brasileiros precisam de médicos cubanos. E as semelhanças não param por aí. Professor brasileiro passa por alguns testes para poder trabalhar e nem sempre é aprovado. Mas a professora deu aulas. Enfrentou corrupção, coisa comum nas escolas daqui.

Demitida, foi parar em um mercado, como vendedora. Depois, foi babá. Mas acabou em um garimpo. Outra vez, lugar para quem espera um pouco de dinheiro para poder voltar e cuidar do próprio filho.  A infeliz teve que perder muito tempo fazendo campanhas para localizar uma amiga desaparecida. E o dinheiro ainda não veio. A vontade de ficar definitivamente no Brasil, sim.

Há casos de falta e excesso de professores. E o salário que ninguém quer em um país qualquer, para se trabalhar lá onde não há nada além da internet para conversar, pode ser atrativo para quem sabe que não conseguirá um padrinho que o introduza numa das escolas municipais tão atreladas a interesses políticos.

 

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