O FIM DE EDDY: UMA REFLEXÃO SOBRE O BULLYING
Prof. Doutor
Marcelo Alcaraz
No mundo hodierno o sofrimento humano é exposto na mídia de
forma massiva, cotidiana. No romance O
Fim de Eddy, de Édouard Louis, a dor
não se oferece como espetáculo, mas como um micro-cosmos no qual predomina a
falta de empatia pelo próximo. Na
narrativa são utilizadas dois níveis de
linguagem e tempos que dialogam, a voz
que registra o passado opressivo e repleto de abusos e o narrador
adulto, sem inibições e com autonomia intelectual.
O breve romance de
matiz autobiográfico foi traduzido para vinte países e problematiza o mecanismo do Bullying em uma
cidade pós-industrial no interior da França. Acompanha-se na
narrativa a trajetória de Eddy
Bellegueulle dos sete anos de idade até ele
adentrar em uma faculdade de teatro
situada em Amiens.
O Bullying é o grande tema do livro, horror espelhado na maioria dos relatos do
protagonista, principalmente nas situações vividas na escola. Compreendido como
diminuição da humanidade do outro (PROJETO CONVIVER, 2019) esse tipo de violência
se dirige ao adolescente homossexual que mora em um pequeno vilarejo. A presença do garoto não passa incólume aos habitantes do lugar: uma pessoa vigia a outra e todos parecem prontos para
expulsar quem pensa ou age de forma diferente.
A vida no vilarejo gira em torno de uma precária fábrica
de latão, tudo o que se proporciona aos
meninos a partir do nascimento é direcioná-los a um trabalho insalubre. Toda e
qualquer sensibilidade, intelectual ou artística, é esmagada pela escola ou pela
família. O pai do protagonista também trabalha na fábrica , carrega peso demasiadamente
e bebe muito à noite, quase não fala com o filho : “Ele e eu nunca
tivemos uma verdadeira conversa. Mesmo coisas simples, bom dia ou feliz
aniversário, ele parou de me dizer” (LOUIS, 2018, p.72).
No colégio o protagonista é acossado por dois garotos que batem, cospem e o humilham:
“ Eu olhava os escarros estanques na minha blusa, pensando que eles tinham me
poupado ao cuspir lá, e não no meu rosto ( LOUIS, 2018, p. 45).” Esse trecho é revelador sobre a perversidade
humana e a impotência de Eddy em
aceitar a violência dos meninos.
Quando se muda para Amiens, ele percebe a polidez dos gestos, o refinamento
dos gostos. Pela primeira vez se dirige a uma escola sem
sentir opressão, medo ou mesmo pânico.
Possui, finalmente, afinidades com pessoas cujo objetivo vital trascende o
trabalho braçal e o entorpecimento diário
com bebida.
O
momento mais impactantes da obra é a presença dos dois garotos, antigos
opressores , prestigiando-o como ator em um peça de teatro. Apesar de muito
nervoso ao reconhecê-los, o protagonsita consegue atuar sem demonstrar seu horror. No
fim da peça, os antigos algozes ovacionam seu nome e estimulam o coro da platéia.
As marcas do Bullying não se extinguem da vida do
narrador, sua dor é profunda e irremediável. O
silêncio da infância se transforma
na fala de um ator seguro, contudo, não há evidência alguma de sua cura. Se arte não o
redime, ilumina o que não pode ser
esquecido.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
LOUIS, Édouard. O
Fim de Eddy. São Paulo: Tusquets, 2018.
Acesso em 21 de julho de 2019
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