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sábado, 31 de agosto de 2013

Lançamento do livro Penso teatro: dramaturgia, crítica e encenação


Lançamento do livro Penso teatro: Dramaturgia, crítica e encenação, que ocorreu em Curitiba, no dia 27 de agosto, às 19h30, na Livraria Cultura. O evento é uma promoção conjunta dos Programas de Pós-Graduação em Letras da UNIANDRADE e UFPR, Livraria Cultura e Editora Horizonte que inclui Mesa Redonda composta pelos professores Dr. André Luís Gomes (UnB), Dra. Célia Arns de Miranda (UFPR) e Dra. Anna Stegh Camati (UNIANDRADE).

 

Anna Stegh Camati



 
 
 

sábado, 17 de agosto de 2013

O romance Tudo se ilumina, de Jonathan Safran Foer


Prof. Edna da Silva Polese

 

A imagem criada por Julio Cortazar para definir o romance poderia ser utilizada imediatamente após a leitura de Tudo se Ilumina, de Jonathan Safran Foer, publicado em 2005. Por teorizar que o romance puro não existe, mas, antes, apropria-se dos vários recursos da linguagem Cortázar diz que: “O romance é um monstro, um desses monstros que o homem aceita, alenta, mantém ao seu lado; mistura de heterogeneidade, grifo transformado em animal doméstico.”
A narrativa de Tudo se Ilumina dá ao leitor a sensação de que o monstro pode ficar cada vez mais esquisito. O romance está dividido em três grandes blocos que se alternam, cada qual com um narrador diferenciado, numa história que engloba a narrativa “de fora” feita por um estrangeiro que domina muito mal a língua inglesa, uma saga familiar construída com inspirações no realismo mágico e, por fim, os comentários sobre essa escrita em formato epistolar. Tal composição nasceu da adaptação que o autor se obrigou a fazer pela própria situação da realidade: Safran Foer é um jovem judeu nova-iorquino que pretendia escrever a história de sua família num tema, de certa forma, recorrente quando se pensa em judeus fugindo da Segunda Guerra na Europa: perseguição, holocausto, desaparecimentos de pessoas e vilarejos inteiros. Porém, o autor não conseguiu reunir informações suficientes para “unir as duas pontas da vida”, mas a experiência da viagem funcionou como o germe inicial para construir o romance.
 A primeira parte do romance, narrada pelo  guia de viagem ucraniano que se expressa em inglês macarrônico, é responsável pelo choque inicial do leitor com a obra. Tal parte da narrativa é extremamente divertida por colocar em evidência a força da linguagem, que no idioma original alcança uma repercussão muito maior por se apoderar, por exemplo, dos trocadilhos e mal entendidos que ocorrem naturalmente. O autor aparece como personagem, porém, apresentado pelo olhar de Alexander Perchov, seu guia e tradutor  em terras ucranianas.
 A segunda narrativa seria a “reconstrução” fictícia do vilarejo denominado Trachimbrod que, até onde o narrador/autor sabe, foi o local em que surgiu  a mãe da mãe da mãe da sua tataravó. Como não há nenhum vestígio factual, ou nenhum documento ou coisa que o valha, a não ser uma fotografia que Jonathan possui mostrando o avô, sobrevivente do holocausto, com uma tal Augustine, então a saída é reconstruir. É nessa narrativa que o autor se apropria de um dos recursos mais evidentes e marcantes dos romances chamados pós-modernos: a metaficção historiográfica, termo cunhado por Linda Hutcheon.
A terceira narrativa é composta pelas cartas que Alexander Perchov troca com o autor, o próprio Jonathan Safran Foer que, nesse sentido, é também personagem do livro, assim com o é também na primeira narrativa. Nas cartas, Alexander acompanha a construção da narrativa sobre Trachimbrod, a segunda narrativa, comenta, sugere, e, às vezes se desentende com o autor . No melhor estilo de narrativa metaficcional,
 
No fim, as três narrativas compõem uma razão de ser, fecham-se numa idéia aproximada dos temas recorrentes do romance clássico: a viagem, a experiência e a construção da memória. E, nesse sentido,  Tudo se Ilumina surpreende com tema: é uma narrativa que tem como assunto principal o holocausto, mas a maior parte do tempo, o leitor não se dá conta disso, como se acompanhando passo a passo a evolução da leitura e sendo obrigado a aceitar uma construção narrativa surpreendente, perceba, entre um acontecimento e outro, como as existências, coletivas e individuais, por algum motivo, se encontram.
 
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Referências:
CORTÁZAR, Júlio. Notas sobre o romance contemporâneo in Obra crítica 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992.
FOER, Jonathan Safran. Tudo se ilumina. Rio de Janeiro: Rocco, 2005
 
 
 

domingo, 4 de agosto de 2013

APRESENTAÇÕES DOS MESTRANDOS EM TEORIA LITERÁRIA


Profa. Sigrid Renaux

Partindo do tema  Linguagem, identidade e subjetividade no “breve século XX proposto pelo VII Ciclo de Estudos em Linguagem, na Universidade Estadual de Ponta Grossa, entre 19 e 21 de junho de 2013, um grupo de mestrandos em Teoria Literária apresentaram trabalhos, como participantes do GT “Abordagens formalistas e bakhtinianas de narrativas brasileiras e estrangeiras”, cuja ementa era a seguinte:

Em nosso “breve século XX”, surgiram, a partir dos formalistas russos, novas reflexões sobre o texto literário, e, consequentemente, novas abordagens teóricas e críticas para análise e interpretação de obras poéticas e ficcionais.  Partindo, pois  de alguns dos conceitos-chave de formalistas como Chklovski, Tomachevski, Eikhenbaum, Tynianov e Jakobson,  bem como do “pós-formalista”  Mikhail Bakhtin, este GT propõe-se a acolher estudos  acadêmicos que  apresentem leituras de narrativas  de origens diversas, tanto brasileiras como estrangeiras, baseadas nesses teóricos.  As  abordagens formalistas,  seja por meio dos procedimentos de singularização e da criação do efeito de estranhamento, dos conceitos de fábula e trama,  da arte como procedimento,  do realismo artístico, de dominante,  literariedade, motivo e motivação, noção de construção, estilística,  da lingua cotidiana x língua poética, entre outros,  irão revelar a relevância  que esses “operadores de leitura” têm para se penetrar no texto narrativo e extrair dele toda a potencialidade contida em sua linguagem, ressaltando destarte o caráter estético da linguagem artística. As abordagens bakhtinianas, por sua vez, irão ressaltar como alguns dos conceitos-chave deste filósofo da linguagem  como cronótopo e dialogismo,  bem como as particularidades fundamentais da Sátira menipeia - gênero sério-cômico do qual descende o romance europeu, e, consequentemente, o romance contemporâneo- , quando aplicados às narrativas a serem apresentadas, contribuem para uma nova visão/releitura  e reinterpretação dessas narrativas.   Deste modo, este GT estaria contribuindo, através das discussões/reflexões propostas nos trabalhos /as análises pelos participantes do grupo,  a refletir como o estudo imanente do texto, sem descartar suas vinculações com o contexto, pode  aprofundar a percepção dos diferentes níveis/usos da linguagem, tanto cotidiana como poética.

A partir dessa ementa, os mestrandos, aproveitando o embasamento teórico ofertado no curso “Poéticas da modernidade: dos formalistas russos a Bakhtin”, fizeram as seguintes apresentações:

- Adilson Costa Duarte, em “A atitude dialógica do herói no conto Polzunkov  de Dostoievski”, examina  como a representação da particularidade menipeana dos “estados psicológico-morais anormais do homem” irá esclarecer  a personalidade  de Polzunkov. Podemos deste modo avaliar melhor as atitudes tragicômicas deste suposto “bobo”, deste “mártir ridículo” – como o chama Dostoievski –  que não possui a capacidade de reclamar  seus direitos e prefere rebaixar-se contando histórias para o auditório que o assiste e que supostamente se diverte com suas histórias mentirosas e cômicas.

-Angela de Fátima Taline de Souza, em “O diálogo como fio condutor das relações entre O carteiro e o poeta no romance de Antonio Skármeta”, demonstra como as conceptualizações  bakhtinianas sobre o “diálogo socrático” nos fazem refletir sobre o poder da palavra e a importância do diálogo e do questionamento, a fim de comprovar que, através do diálogo, conseguimos trazer mudanças de pensamento, promover descobertas e lançar encantamentos. Assim,  os procedimentos  de anácrise e síncrese, utilizados pelos personagens Mário Jiménez e Pablo Neruda,  vão além da busca por uma verdade escondida e não sabida, pois inicia-se um processo de tecer um fio que conduzirá toda a narrativa: a amizade entre ambos,  que trará mudanças na personalidade e na vida de Mário.

 

-Adriane Bendlin, em “A atitude diálogica do  personagem Vássia face a si mesmo e aos outros personagens em Coração frágil de Dostoievski”, busca verificar, por meio  das particularidades menipeanas  da   “experimentação  moral e psicológica” do homem face a si mesmo, bem como  das “últimas questões”, como Vássia, principalmente em seus diálogos  com  o amigo Arkádi, vai aos poucos se desintegrando psiquicamente. O herói transita, assim,  por uma estrutura triplanar – da Terra ao Olimpo  e depois ao Inferno –, pois sua demência, consequência do remorso  em ser feliz  – uma linda noiva, um amigo e um emprego –, acaba levando-o ao manicômio.

 

-Elidete Zanardini Hofius, em  “As interrelações diálogo/tempo/espaço em Noites Brancas de Dostoievski”, demonstra o papel fundamental do diálogo – na acepção bakhtiniana – entre os protagonistas, pois é por meio dele que a narrativa vai se desenvolvendo e que o leitor toma conhecimento da história de vida dos personagens, do tempo e do espaço em que  vivem, da busca do protagonista  e de sua amada pelo amor e pela felicidade. Todas as revelações, portanto, fazem-se pelo confronto, pela palavra, pela conversa durante as “noites brancas” em que os personagens se encontram.

- Josiel dos Santos Lima, em  “Nada vale a pena se a alma é pequena”: o conflito existencial como dominante artístico em Coração frágil de Dostoievski”, analisa o protagonista por meio da particularidade menipeana da experimentação moral e psicológica, ou seja, da representação de inusitados estados psicológico-morais anormais do homem. Deste modo, a destruição da integridade e  perfeição do protagonista Vássia, facilitada pela atitude dialógica face a si mesmo, tornar-se-ia, na concepção jakobsoniana,  o dominante artístico, ou seja, o centro de enfoque de Coração Frágil.

- Mara Bilk de Athayde, em  “A estética da narrativa  no conto  O Ladrão Honrado  de Dostoievski”, examina como  os procedimentos  de   fábula e  trama,  motivo e motivação,  caracterização indireta das personagens e  narrativa dentro da narrativa destacam  os conceitos de polifonia e dialogismo, pois os personagens mantêm relações dialógicas  uns com os outros e também com o leitor. Deste modo, a análise imanente do texto confirma como a beleza artística da narrativa dá mais intensidade ao sofrimento e arrependimento do “ladrão honrado”.

-Marcia Izabel deLima em “As situações extraordinárias do herói-narrador em O mujique Marei de Dostoievski” discute, utilizando algumas das características da sátira menipéia,  como as   aventuras do herói-narrador enfrentando situações extraordinárias  o levam à descoberta da verdade e de uma ideia filosófica, tanto em suas recordações de infância como na situação atual no presídio; consequentemente, como  essa experimentação moral e psicológica revelam nele   possibilidades de um outro homem e de outra vida.

-Patricia Cristina de Oliveira em   “Uma visão cronotópica do romance O pelo negro do medo de Sérgio Abranches” examina,  utilizando o conceito de cronótopo  como uma categoria da forma e do conteúdo que realiza uma fusão dos índices espaciais e temporais em um todo inteligível e concreto, como o tempo e o espaço  constituem  o pano de fundo para o enredo deste romance, e como os personagens são inspirados pelo passado e pelos seus fantasmas, que confundem seu trajeto no presente.

 

            - Profa. Sigrid Renaux (coordenadora),  em  A ecocrítica como dominante artístico em Tres mortes de Tolstoi” faz  uma leitura deste conto em que ressalta como  o paralelismo usado pelo autor, ao introduzir o tema da morte por meio de três variantes – a morte de uma dama, de um camponês russo e de uma árvore – é na realidade muito mais profundo  do que uma primeira leitura poderia indicar. Pois, por meio da aplicação do conceito de Dominante à linguagem poética que predomina na morte da árvore, em contraposição à linguagem referencial das duas primeiras variantes, o equilíbrio temático existente  receberia uma nova orientação, ao sairmos do antropocentrismo para um ecocentrismo. Assim,  a derrubada e morte da árvore como valor artístico dominante no texto  – dando voz à natureza com a personalização e o sofrimento de um ser não-humano – colocaria o autor na vanguarda deste novo ramo dos estudos de literatura.

            Acreditamos que todas as apresentações tenham servido para comprovar como o estudo  imanente do texto, cujo início se deve aos formalistas russos, sem descartar suas vinculações com o contexto, pode  aprofundar a percepção dos diferentes níveis e usos da linguagem, tanto cotidiana como poética, como proposto na ementa.