Pesquisar este blog

domingo, 30 de setembro de 2012

I JORNADA INTERMÍDIA

I JORNADA INTERMÍDIA: ICONOTEXTOS, REFERÊNCIAS INTERMIDIÁTICAS, TRANSPOSIÇÃO E ADAPTAÇÃO
No dia 21 de setembro de 2012, realizou-se na Universidade Federal de Minas Gerais a I Jornada Intermídias: Iconotextos, Referências Intermidiáticas, Transposição e Adaptação, com a presença do Prof. Claus Clüver (Professor Emérito da Indiana University), Profa. Thaïs Flores Nogueira Diniz (Professora da UFMG e Coordenadora do Grupo de Pesquisa Intermídia do CNPq), Profa. Solange Ribeiro de Oliveira (Professora Emérita da UFMG e Associada da Universidade de Londres) e Profa. Eliana Lourenço de Lima Reis (Professora da UFMG e membro integrante do grupo de Estudos Intermídia do CNPq).
Professoras Thais Flores Nogueira Diniz e Eliana Lourenço de Lima Reis
 Organizadoras do evento.

Alguns membros do Grupo Estudos da Intermidialidade do CNPq presentes na Jornada Intermídia (da esquerda para a direita): Profa. Brunilda Reichmann (Uniandrade, PR), Professor André Vieira (UFSM), Profa. Anna Stegh Camati (Uniandrade, PR), Prof. Claus Clüver (Indiana University), Profa. Chantal Herskovic (UFMG), Profa. Thaïs Flores Nogueira Diniz (UFMG) Prof. Júlio Cesar Alessi (UNIBH/EBA-UFMG, atrás), Prof. Solange Ribeiro de Oliveira (Profa. Emérita da UFMG), Profa. Eliana Lourenço de Lima Reis (Professora da UFMG, atrás) Profa. Silvia Anastácio (Profa. UFBA) e Profa. Márcia Arbex (UFMG).
O Programa do evento contou com duas palestras e duas mesas redondas:
I JORNADA DO NÚCLEO INTERMIDIA:
Iconotextos, referências intermediáticas, transposição e adaptação
PROGRAMAÇÃO:
Palestra
Claus Clüver (Indiana University, Emérito)
Se as palavras pudessem pintar, e dançar, e fazer música... Reflexões sobre iconotextos, ecfrase e referências intermidiáticas
Moderadora: Thaïs Flores Nogueira Diniz

Mesa-redonda
·         Márcia Arbex Enrico (FALE-UFMG)
Michel Butor e as artes: alquimia e desrazão gráfica
·         Maria do Carmo Freitas Veneroso (EBA-UFMG)
A caligrafia na arte atual: um diálogo entre Oriente e Ocidente
·         Sílvia Guerra Anastácio (UFBA)
Uma convergência de mídias e a estética da cultura líquida: One Art, de Elizabeth Bishop

Mesa-redonda
·         Anna Stegh Camati (Uniandrade, Paraná)
Sonho de uma noite de verão em trânsito pictural transmidiático
·         André Soares Vieira (UFRGS)
Tradução, transposição e adaptação no discurso sobre arte de Gonzaga Duque e em Lá-bas, de J.-K. Huysmans
·         Brunilda T. Reichmann (Uniandrade, Paraná)
L´animateur, de Nick Hiligross: criações transmidiáticas / leituras intermidiáticas

Palestra
Solange Ribeiro de Oliveira (UFMG/UFOP, Emérita)
Estudos de intermidialidade: um percurso de pesquisa
Moderadora: Eliana Lourenço de Lima Reis

Brunilda T. Reichmann
27.09.2012
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mimesis, a obra fundamental de Auerbach

Edna da Silva Polese
A obra Mimesis – a representação da realidade na literatura ocidental, publicado em 1946 por Eric Auerbach (1892-1957) configura-se com um dos trabalhos referenciais para os estudiosos da área de letras. A proposta do autor debruça-se em apresentar a abordagem de textos desde a antiguidade greco-romana, começando por Homero, até a produção da modernidade, terminando com Virginia Woolf. O método apresentado pelo autor consiste em comparar produções textuais de um determinado período, observando principalmente o que ele chama de representação da realidade e  direcionando a leitura para o processo de cristianização no mundo ocidental.
No primeiro capítulo, para ficarmos com um desses exemplos, Auerbach trata de duas narrativas aparentemente impossíveis de conterem algum tipo de ponto de convergência: a narrativa épica grega e a narrativa bíblica. Os trechos escolhidos são o episódio sobre o reconhecimento de Ulisses quando retorna à Ítaca e o episódio do sacrifício de Isaac.
No canto XIX da Odisseia, ocorre o reconhecimento de Ulisses: introduzido no palácio, disfarçado de mendigo, Ulisses é levado para lavar-se. A velha serva da casa, Euricleia, ao tocar no joelho do amo, percebe, pela cicatriz, tratar-se de Ulisses. Dá-se o que Auerbach chama de “elemento retardador”, pois, na sequência, a narrativa volta ao tempo para explicar como Ulisses adquirira a cicatriz. O “avançar e retroceder” na narrativa homérica é, para Auerbach, interpretado como uma necessidade do estilo homérico de “não deixar nada do que é mencionado na penumbra ou inacabado.”(AUERBACH, p. 3)
Em contrapartida, dá-se a leitura e interpretação de um dos episódios do Gênesis, no qual se relata o sacrifício de Isaac. Na narrativa bíblica, tudo ocorre de maneira rápida, sem explicações detalhadas acerca do chamado de Deus e da angústia de Abraão ao levar o filho, Isaac, ao local do sacrifício.
Auerbach compara as duas narrativas, a homérica e a bíblica, observando como na narrativa bíblica há a ausência de explicações e profundidade dos detalhes. São obras de cunho totalmente diferentes. Em Homero há a busca do ludismo, de representar a essência do homem grego e sua história. Na Bíblia há o mito fundador, a verdade fechada, que serve como paradigma aos crentes. No entanto, a leitura que Auerbach  demonstra uma nova reviravolta: A de que os personagens homéricos são retratados num mundo extremamente detalhado e rico que lhes tira a profundidade psicológica; ao passo que os personagens bíblicos vivem situações de pesar que lhes imprimem uma profundidade até então não observada em outros textos. Acompanha-se, por exemplo, o sofrimento de Abraão, cumprindo a ordem dada por Deus em sacrificar seu único filho, Isaac. Auerbach comenta:
O mais importante, contudo, é a multiplicidade de camadas dentro de cada homem; isto é dificilmente encontrável em Homero, quando muito na forma da dúvida consciente entre dois possíveis modos de agir; em tudo o mais, a multiplicidade da vida psíquica mostra-se nele só na sucessão, no revezamento das paixões, enquanto que os autores judeus conseguem exprimir as camadas simultaneamente sobrepostas da consciência e do conflito entre as mesmas. (AUERBACH, p. 10)
Com esse direcionamento, Auerbach discute como a literatura ocidental se reorganizará a partir da concepção desses dois mundos: o grego e o judaico-cristão.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Natureza e espiritualidade na poesia de Sigrid Renaux



A presença do azul e de paisagens marinhas na poesia de Sigrid Renaux* é uma obsessão em sua poesia, o que pode ser observado nos títulos dos seus quatro livros: Do mar e de outras coisas (1979), Azuis: poemas (2006), Outros azuis (2009) e De sons e silêncios (2011). Entre eles, destacamos o segundo e o último, nos quais observamos a permanência de uma mesma poética – provavelmente comum aos outros livros – pautada na síntese imagética do haikai e na pintura impressionista. Estas duas estéticas se aliam para dar forma às visões da natureza que o sujeito lírico – bastante impessoal – contempla na tentativa de integrar-se ao universo. Para isso fundamenta-se na crença romântico-simbolista na teoria das correspondências de Emmanuel Swedenborg (1668-1772), a qual considera que a linguagem poética pode nos aproximar da linguagem cifrada do cosmos (BALAKIAN, 1985).
 A Palavra é escrita de tal forma que tudo que nela se encerra, mesmo as coisas mais diminutas, tem correspondência com as coisas celestiais; portanto, a Palavra tem força Divina, e une
o céu à terra.
(SWEDENBORG, Arcanos Celestes, nº 8615, apud TROBIDGE, 1998, p. 130).
 A crença nas correspondências, que aparece de forma tímida na poesia de Kolody, encontra-se claramente expressa no poema abaixo:

 ondas 
desenrolando
caracóis de espuma
en donde resuena la música del mundo
y metros y rimas no son sino correspondencias
ecos, de la harmonía universal  (RENAUX, 2006, p. 141)
 Os três versos em espanhol são retirados da primeira página de “Poesia e poema”, introdução à obra O arco e a lira, de Otávio Paz (1982, p. 15), e demonstram sua afinidade com o pensamento romântico do poeta e crítico mexicano para quem a linguagem poética é essencialmente mítica e, por isso, “recupera sua originalidade primitiva, mutilada pela redução que lhe impõem a prosa e a fala cotidiana” (PAZ, 1982, p. 25-26), assim possibilitando a experiência do sagrado como “uma experiência repulsiva. Ou melhor: convulsiva. É um por para fora o interior e o secreto, um mostrar as entranhas. O demoníaco, dizem todos os mitos, brota do centro da terra. É uma revelação do oculto.” (PAZ, 1982, p. 168). E este oculto não é necessariamente “a revelação de um objeto exterior a nós – deus, demônio, presença alheia – quanto um abrir do coração ou das entranhas para que brote esse “Outro” oculto. A revelação (...) transforma-se num abrir-se do homem para si mesmo.” (PAZ, 1982, p. 170).  
                 na madrugada do mar
 acordo ao som das ondas
                recordando harmonias
                                      
                                                  adormecidas  (RENAUX, 2006, p. 29)

leitores cegos
não deciframos os signos nos livros

nem ouvimos
insensíveis
por quem os sinos dobram

calados
não pronunciamos as palavras reveladoras
do nosso mais profundo
ser    (RENAUX, 2006, p. 114)
 Reforça esta leitura em que a natureza é vista como sagrada e capaz de nos religar com a imensidão cósmica a imagem dos “caracóis de espuma” no primeiro poema acima, pois a forma helicoidal do caracol, no mistério de sua perfeição arquitetônica, corresponde à perfeição do universo também presente no movimento circular das ondas. E este movimento mítico de eterno retorno organiza o livro Azuis, posto que as imagens da imensidão azul – presentes no oceano e no céu – retornam incessantemente a cada poema. Razão pela qual parece plausível afirmarmos que a autora busca organizá-los segundo um ritmo cíclico e pulsante correspondente ao mesmo ritmo que anima a natureza e o universo. Aliás, a escolha do azul, cuja vibração transmite paz, estando a cor associada à espiritualidade, aponta para um desejo de transcendência, de busca do sublime elevado, assim como vimos na poesia de Helena Kolody. E assim como na poesia dela, a de Sigrid Renaux também apresenta uma natureza harmoniosa, domesticada e sem conflitos. No lugar da natureza selvagem, que encontramos na poesia de Marcele Aires, Sigrid Renaux valoriza os jardins, pequenos ecossistemas que, em seus microcosmos, reproduzem sua concepção de um universo harmônico e infinitamente belo.
 Il faut cultiver notre jardin
      
          porque os sabiás
gorgeiam ainda melodias infindas
                                           nos jardins da manhã

para que os pássaros continuem cantando
              irreprimível e extasiadamente
                                  nos jardins do amanhã   (RENAUX, 2006, p. 82)
 De sons e silêncios (2011) apresenta as mesmas características que Azuis, embora, ao lado do azul, privilegie os pássaros com seus cantos. Seus poemas, como diz o título, também são plenos de sons e silêncios conforme o desejo simbolista de uma poesia que, em vez de nomear, sugere os sentidos ocultos e inacessíveis ao pensamento racional e analítico. Daí o gosto pelo impressionismo, seja o da pintura ou da música, na medida em que a luz e o silêncio são, respectivamente, fundamentais para cada uma destas artes. Ainda: a não numeração das páginas indica que todos os textos formam um só poema, o que aumenta ainda mais o silêncio existente entre os versos e estrofes na medida em que, além do espaçamento que os distancia entre si, o branco de cada página amplia ainda mais o silêncio de sua sinfonia, plena de pausas e sugestões como uma composição de Debussy.
 adormecidas
entre os sons e os silêncios
de ébanos e marfins
elevam-se
         íntimas e distantes

                                        as brumas de Debussy   (RENAUX, 2011, [s.p.] – “Brouillards”)

 manhã de outono
           silêncio súbito de pássaros
                          entre os mistérios do castanheiro  (RENAUX, 2011, [s.p.])
 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do voo rasante realizado sobre a poesia de Sigrid Renaux, podemos apontar algumas considerações finais:
a) Não há uma preocupação ambientalista em denunciar a destruição da natureza.
b) A natureza é elemento importante a para o amadurecimento da espiritualidade.
c) É forte a presença de procedimentos estéticos oriundos da tradição do haikai inaugurada por Bashô – e de valores de uma visão de mundo romântica – perceptível especialmente na crença das correspondências universais (segundo teoria de Emmanuel Swedenborg) nas obras analisadas.
d) Satori e epifania são experiências que se aproximam e são possíveis através da contemplação da natureza e a poesia é um instrumento para compartilhar esse estado de espírito.

REFERÊNCIAS
BALAKIAN, A. Swedenborguismo e os românticos. In: O simbolismo. Trad. de José Bonifácio A. Caldas. São Paulo: Perspectiva, 1985, p. 17-28.
PAZ, O. O arco e a lira. Trad. de Olga Savary. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
RENAUX, S. De sons e silêncios. Ponta Grossa/PR: Todapalavra, 2011.
_______. Azuis. Poemas. Curitiba: Ed. do Autor, 2006.
TROBIDGE, G. L. Swedenborg. Vida e ensinamentos. Trad. de Raimundo Araujo Castro Neto. Rio de Janeiro: Sociedade Religiosa “A Nova Jerusalém”, 1998. Disponível em: http://bvespirita.com/Emanuel%20Swedenborg%20-%20Vida%20e%20Ensinamentos%20(G.%20L.%20Trobridge).pdf - Último acesso: 08/7/2012.

* Com doutorado e pós-doutorado em literatura norte-americana e inglesa, Sigrid Renaux é carioca de nascimento, mas paranaense há muito anos. Aposentou-se como professora pela UFPR e atualmente leciona na Uniandrade, em Curitiba.




quinta-feira, 6 de setembro de 2012

I Jornada Intermídia - UFMG

As professoras Brunilda T. Reichmann e Anna S. Camati foram convidadas para participar de uma mesa redonda na "I Jornada Intermídia: iconotextos, referências intermidiáticas, transposição e adaptação" que será realizada no dia 21 de setembro de 2012, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em Belo Horizonte, com a presença do Prof. Dr. Claus Clüver da Universidade de Indiana (EUA).
Progamação completa:
C:\Users\MSI\Desktop\cartaz_jornadaIntermidia_A3.pdf

QUEM ESCREVEU SHAKESPEARE?

Profa. Anna Stegh Camati

Em julho de 2012, Anônimo (Anonymous) foi lançado em DVD no Brasil. O filme é polêmico e explora a ficcionalização de pessoas reais. Assim como Shakespeare apaixonado (1998), com roteiro de Marc Norman/ Tom Stoppard e direção de John Madden, que promoveu a dessacralização de Shakespeare ao representá-lo como um autor que sofre bloqueio criativo, o filme Anônimo (2011), dirigido por Roland Emmerich, muito mais do que endossar a teoria oxfordiana que atribui a Edward de Vere, 17º Conde de Oxford (1550-1604), a autoria das obras de Shakespeare, é, a meu ver, um jogo paródico que desconstrói inúmeras textualidades em torno dessa questão.
Em relação a essa problemática, há mais de 50 candidatos ao trono, ou seja, mais de 50 nomes propostos por pesquisadores diversos, dentre eles Francis Bacon, Walter Raleigh, Cristopher Marlowe, o Conde de Derby, o Duque de Rutland, e a própria Rainha Elisabete, além do Conde de Oxford. Há aqueles que acreditam que as obras de Shakespeare foram escritas por um grupo de Jesuítas ou por vários estudiosos da Maçonaria. Muitos baconianos sustentam que Francis Bacon não escreveu apenas Shakespeare, mas também obras de outros autores como Marlowe, Spenser, Milton, Montaigne etc. Todos esses candidatos fazem parte de um jogo detetivesco, porque as pessoas realmente interessadas em Shakespeare tendem a mergulhar no universo de suas obras  e não se preocupam em decifrar identidades. 
A imagem de Shakespeare foi denegrida tanto pelos oxfordianos como baconianos ou marlowianos que se referem a ele como “clown analfabeto e bêbado de Stratford-upon-Avon”, “tratante sórdido e mentiroso” ou “mascate desprezível”. Os idealizadores do filme representaram o bardo de acordo com essas características difundidas pelas facções anti-stratfordianas, não com o intuito de difamar Shakespeare, mas tão somente para colocar em xeque contradições e especulações.  
Diversos estudiosos criticaram Anônimo porque o filme apenas mostra os preconceitos aristocratas em relação ao meio teatral considerado pouco respeitável na época e, em nenhum momento, discute a relação entre a vida e/ou as técnicas poéticas de Edward de Vere e os escritos atribuídos a Shakespeare, ou seja, o filme não explora os argumentos nos quais os oxfordianos se apoiam para fundamentar a questão da autoria. Acredito que essa omissão já é suficiente para definir a postura dos criadores que não objetivaram inserir no filme elementos para validar a teoria oxfordiana.  
Mas posso dizer que vale a pena assistir ao filme pela representação do alvoroço de Londres e efervescência do teatro popular, pelas brincadeiras com o passado histórico ambientado na corte elisabetana e suas intrigas políticas, e pela mistura de fatos (encontrados em documentos) e ficções (fantasias e romances sobre Shakespeare e a questão da autoria), aspectos que propiciaram aos idealizadores do filme um rico material para a reinvenção.
Leiam a matéria Ser ou não ser, ainda a questão, escrita por Elaine Guarini, com a minha participação, no Valor Econômico, 13, 14 e 15 de julho de 2012. Ano 13. Nº 610.
Disponível em: