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quinta-feira, 24 de outubro de 2019


A LINGUAGEM SEO COMO FACILITADORA NA DIVULGAÇÃO DE TEXTOS ON-LINE

 

Profa. Dra. Verônica Daniel Kobs*

 

Geralmente, na produção de um texto acadêmico, os autores não dão à devida importância às palavras-chave. Entretanto, a escolha delas deve receber a mesma atenção dada ao título. Ao contrário do que muitos pensam, esses dados não devem apenas apresentar os itens fundamentais do texto. Eles serão o modo de entrada para o texto, garantindo o acesso de leitores e usuários espalhados em todo o mundo. Evidentemente, esse acesso público e irrestrito garante a divulgação de uma forma que não existia antes, quando não contávamos com o computador, nem com a Internet. Desde que surgiu, a grande rede tornou-se uma imensa biblioteca e, sem dúvida, uma importante vitrine para pesquisadores, escritores e, posteriormente, também para blogueiros.

Sendo assim, para definirmos de modo adequado as tags ou as palavras-chave dos textos que escrevemos e publicamos na rede, temos de fazer um simples exercício de alteridade. O objetivo é tentar responder à pergunta: quais palavras as pessoas digitariam, em um site de buscas, para pesquisar textos como aquele que acabamos de escrever? Nesse contexto, também é importante darmos destaque às palavras mais simples. Quanto mais adequada for a palavra, mais ela poderá atender às pesquisas feitas pelos usuários ao redor do mundo. Consequentemente, nosso texto será achado mais facilmente pelos sites de busca. Outro quesito a ser levado em conta é o tamanho da palavra-chave. É bom evitar expressões longas, com três palavras ou mais. Na área de Letras, o ideal é sempre dar ênfase ao nome da obra analisada, ao nome do autor e a algumas características literárias principais, como, por exemplo: paródia, cibertexto, literatura digital, entre outras.

De acordo com os dados divulgados no site Neil Patel Digital, o Google lidera o ranking dos buscadores mais utilizados no mundo (NEIL PATEL DIGITAL, 2019). Isso demonstra a importância das palavras-chave para a repercussão de um texto. Portanto, é preciso “encontrar formas de aparecer em destaque entre os resultados do Google e plataformas semelhantes” (NEIL PATEL DIGITAL, 2019).
 

Foi aí que surgiu o SEO, sigla para Search Engine Optimization.

São técnicas de otimização de páginas para mecanismos de busca.

Ou seja, com o objetivo claro de ter seus links apontados como solução para as palavras-chave mais importantes para cada nicho.

Quando a estratégia é bem-sucedida, aumenta não apenas o número de visitantes em seus sites, mas também o de leads, que são os potenciais clientes do negócio. (NEIL PATEL DIGITAL, 2019)

 
Atualmente, a linguagem SEO já é considerada uma das principais estratégias de divulgação, na era da Web 3.0. O efeito disso nos faz retomar a questão da alteridade, o que nos leva a pensar como internautas (e não apenas como autores). Nesse contexto, Cassiano Travarelli destaca alguns princípios básicos: “Usuários comuns de sites de busca não pensam em termos de assuntos genéricos” (TRAVARELLI, 2019). Desse modo, “é necessário ter em mente que eles irão escrever em uma linguagem totalmente natural no momento da busca” (TRAVARELLI, 2019). Para atender a dois perfis distintos de autores (que têm de escolher boas palavras-chave para seus textos), Travarelli vai além, e oferece duas estratégias. A mais simples envolve “um brainstorm sobre o seu nicho de mercado” (TRAVARELLI, 2019), para que algumas pessoas, que atuam em nossa área, possam nos ajudar a definir as tags ou os termos-chave que podemos usar em nosso texto. Já a sugestão mais complexa envolve várias etapas e é voltada para autores mais detalhistas, com uma experiência que vai além do básico, quando se trata de computador e Internet:

 
– Crie uma grande lista dos possíveis termos a serem buscados, os quais seu público-alvo possa vir a digitar.

– Calcule o número aproximado de pesquisas reais realizadas nos principais motores de busca (Google, Yahoo, MSN) para cada termo.

– Avalie a concorrência para cada um dos termos de busca – websites que concorrem com o seu para cada um dos termos de busca que você deseja rankear.

– Utilize esta lista para escolher as palavras-chave que possuem alto volume de buscas (muitas pessoas procurando por esse termo todos os dias), e menos concorrência (não muitos websites promovendo-se para esse termo). (TRAVARELLI, 2019)

 
                Com esse roteiro, é impossível errar na escolha. Entretanto, é certo que a experiência tornará esse processo mais rápido e fácil com o tempo. Além disso, a repetição esporádica dessa metodologia e o conhecimento obtido, pela busca e pela leitura constantes de materiais publicados em nossa área de atuação, podem transformar a difícil seleção dos termos-chave em algo quase intuitivo.

Embora as palavras-chave e as tags sejam consideradas praticamente sinônimas, há uma diferença, relativa aos veículos de comunicação e à tipologia textual. As palavras-chave são exigidas nos artigos científicos, texto que segue um formato acadêmico e que é publicado nas revistas indexadas da área profissional a que se destinam. Quanto às tags, vale mencionar que são mais comuns nas redes sociais, sobretudo em blogs, e correspondem a um tipo de texto mais leve, assim como colunas e outros textos de caráter crítico/opinativo.

Atualmente, na Internet, a linguagem SEO assume funções que vão muito além da mera divulgação. Ela é um recurso estratégico, que permite maior visibilidade a determinados materiais, ainda mais se considerarmos que existem milhares de opções disponíveis na grande rede. Em um sentido mais amplo, as ferramentas SEO são responsáveis pelas conexões entre textos distintos, mas similares no tema discutido, definindo redes menores e possibilitando feedbacks (Fig. 1).


Figura 1: Diagrama que demonstra as múltiplas influências da linguagem SEO no ambiente virtual. Imagem disponível em: <http://www.e-commercebrasil.org/marketing/o-que-e-seo/>

 
            Diante da importância da linguagem SEO, é claro que não poderíamos encerrar este texto, sem sugerir uma lista de palavras-chave ou tags para ele. Sendo assim, depois de alguns testes, usando o Google como parâmetro, selecionamos os seguintes termos: linguagem SEO; palavra-chave; buscadores. Esse treino, apesar de rápido, produziu resultados interessantes. Optamos por linguagem SEO pelo fato de ser algo mais específico. Porém, apenas SEO ou seo já seriam boas escolhas, pois essas formas reduzidas produziram os mesmos resultados que conseguimos obter com linguagem SEO. O maior problema mesmo foi com o termo tag, que não incluímos na lista, por uma razão bem simples: quando essa palavra foi digitada no site de busca, todos os resultados correspondiam à outra TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), revelando um tema bem distinto daquele de que tratamos aqui. Isso demonstra que, depois de definidas as palavras-chave, seja por meio de brainstorm, do roteiro completo sugerido por Travarelli ou pelo método intuitivo, sempre é necessário simular uma busca simples, para garantir que escolhemos os melhores termos para apresentar nosso texto. Com certeza, esse é um modo eficaz de verificação.

 
REFERÊNCIAS

NEIL PATEL DIGITAL. Sites de busca: Conheça os 10 buscadores mais usados no mundo. Disponível em: <https://neilpatel.com/br/blog/sites-de-busca/>. Acesso em: 13 out. 2019.

TRAVARELLI, C. Pesquisa de palavras-chave. Disponível em:

<http://www.infoprodutosbrasil.com/pesquisa-de-palavras-chave/>. Acesso em: 14 set. 2019.

 
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Verônica Daniel Kobs: Professora do Mestrado em Teoria Literária da UNIANDRADE. Professora do Curso de Graduação de Letras da FAE. Autora do blog Interartes (https://danielkobsveronica.wixsite.com/interartes). Possui Pós-Doutorado na área de Literatura e Intermidialidade (realizado na UFPR, em 2018). E-mail: veronica.kobs@fae.edu

 

quinta-feira, 17 de outubro de 2019


MARGARET ATWOOD: A PROFETA RELUTANTE

Profa. Dra. Sigrid Renaux*

                A capa da revista Time de 16 de setembro de 2019, com o título “Margaret Atwood: the reluctant prophet”, retrata a romancista canadense fitando-nos com um olhar enigmático, inquiridor, mas também convidativo a nos aproximarmos dela e de sua obra.  Considerada uma das escritoras mais importantes e prolíficas da atualidade, Atwood é autora de 16 romances, gênero que ela inicia com The Edible Woman (1979) até Hagseed (2016), além de 8 livros de contos, 8 livros infantis, 17 livros de poesia e 10 livros de “não-ficção”. Diversos romances foram adaptados para televisão – como The Handmaid’s Tale – e rádio. Seus artigos de crítica literária também foram publicados em revistas como Canadian Literature, Maclean’s e The New York Times Book Review, entre outras, demonstrando assim sua versatilidade e criatividade.  Como comenta o jornal norte-americano San Francisco Chronicle, “Através de sua carreira literária... Margaret Atwood impressionou e deleitou os leitores por meio de sua espirituosidade, lirismo, virtuosidade e atividade imaginativa”.  Uma grande parte de sua obra já se encontra traduzida para o português, razão pela qual incentivamos os leitores a compartilhar essas qualidades destacadas pelos críticos, penetrando no universo ficcional desta romancista.

* Sigrid Renaux é professora titular do Mestrado em Teoria Literária da UNIANDRADE.

terça-feira, 8 de outubro de 2019


 

TORNAR-SE ESCRITOR

Otto Leopoldo Winck

 

Apesar de não dar dinheiro, não trazer prestígio, a não ser em diminutos círculos herméticos e autofágicos, ainda encontro inúmeros jovens que querem ser escritores – e pior: consomem seu tempo e dinheiro em oficinas de escrita criativa que acontecem em dias tão impraticáveis para tais atividades como sábados. E muitas vezes me perguntam, com olhos súplices, o que devem fazer para se tornarem escritores. Ora, os caminhos são muitos, são complexos, mas advirto que ser escritor, ao contrário de que apregoa nosso romantismo renitente, não é vocação, chamado divino ou destino. Ser escritor é acima de tudo decisão, determinação, escolha que se concretiza e se renova em múltiplas escolhas. Em determinado momento da vida, geralmente depois da leitura de livros ou de um livro em especial, alguém decide ser escritor. E em cima dessa decisão, outras decisões são tomadas: uma certa disciplina de leituras, estudo de línguas, determinada faculdade ou profissão -- tudo em função de favorecer a opção fundamental: tornar-se escritor. O escritor poderá a vir trabalhar como publicitário, jornalista, professor, advogado, o escambau, mas essa “profissão” sempre será subsidiária diante da decisão maior de ser escritor. Ele pode até passar anos sem escrever, mas estará sempre acumulando forças para o grande livro que escreverá ou tentará escrever um dia, pois só os grandes escritores malogram. Mesmo quando ele está vivendo, ele não vive simplesmente pela vida. Ele vive para acumular experiências para enriquecer sua escritura. Nesse sentido ele vampiriza-se a si mesmo e aos outros. Ele pode estar na maior fossa, sozinho num quarto de hotel ou numa estação deserta, depois que seu amor o deixou -- e mesmo em meio a dor ele estará pensando: como posso transformar esse acontecimento num poema ou na cena de um romance?

Assim, tornar-se escritor não é necessariamente decidir-se a escrever livros, mas orientar a sua vida de tal maneira que o objetivo de vir a escrever livros não seja prejudicado. Boa parte da energia libidinal do escritor será canalizada para este objetivo, às vezes a tal ponto que faltará energia para outras áreas vitais. Não é que o escritor esteja condenado a ser um fracassado na vida, mas suas energias estão voltadas de tal maneira para sua decisão que chegam a faltar em outras áreas, muitas vezes mais necessárias na luta cotidiana pela vida. Quem não entende isso, não sente isso, pode até escrever livros e ser reconhecido socialmente como escritor, mas nunca o será de fato. Muitos podem alegar que há aqui uma certa herança do cristianismo (ou do romantismo, sua versão gótica) e de suas ideias de sacrifício e abnegação. Não nego. A literatura não é um evento solto no ar da não-história. A literatura, como nós a entendemos aqui no Ocidente, é o resultado de uma longa construção histórica que teve suas raízes lá na Grécia antiga e cuja configuração atual se determinou em algum momento entre os séculos 18 e 19. Faz parte dessa construção a ideia de que o escritor é um santo sem fé num mundo sem deuses cujo último sucedâneo do sagrado não é necessariamente o fetichismo do livro literário mas o própria decisão de tornar-se escritor. E se a literatura perdeu sua relevância no mundo contemporâneo, este gesto só se reveste de maior heroísmo e tragicidade ainda. E nós sabemos que só o herói trágico é belo.

 

 

Otto Leopoldo Winck nasceu no Rio de Janeiro, capital. Depois de uma passagem por Porto Alegre, radicou-se em Curitiba. Em 2005 foi vencedor do prêmio da Academia de Letras da Bahia, com o romance Jaboc, publicado no ano seguinte pela editora Garamond. Em 2012 recebeu o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, na categoria poesia. Doutor em literatura pela UFPR, leciona atualmente na PUCPR e no pós-graduação stricto sensu da Uniandrade. Resultado de sua pesquisa de doutorado, seu livro Minha pátria é minha língua: identidade e sistema literário na Galiza saiu em 2017, pela editora Appris. Este ano sai pela Kotter Editorial Cosmogonias, reunindo sua mais recente produção poética.