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terça-feira, 5 de novembro de 2024

No primeiro dia do V Encontro Internacional (edição de 2024), a professora Priscila Soares Vidal Festa apresentou uma leitura dramática em Libras de um dos poemas do escritor homenageado no evento. A leitura dela ficou registrada nos primeiros minutos do vídeo disponibilizado neste link: https://www.youtube.com/watch?v=SIIwYylKAhg

Confira, a seguir, o depoimento da professora Priscila sobre as escolhas que ela fez, em sua performance e na produção do vídeo da leitura dramática.

 

"CANTO DO REGRESSO À PÁTRIA" 

DE OSWALD DE ANDRADE, EM LIBRAS

 

Priscila Soares Vidal Festa

 

Foi muito interessante construir essa interpretação em Libras, por ser um poema com implicações imagéticas e expressivas, as quais combinam bem com Libras. 

Pesquisei versões de Libras do poema "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias, pois como o poema de Oswald é considerado uma paródia do poema, quis ver o original interpretado em Libras. Em muitas versões, os sinais de Libras para "palmeiras" são realizados com detalhes, de modo idílico, ou seja, um sinal bem "floreado". 


Fonte da imagem: Streamyard


Quando refere-se a Palmares, optei por construir uma imagem de um tronco, mas em vez de continuar com a descrição da palmeira "idílica", escrevi em alfabeto manual a palavra P-A-L-M-A-R-E-S, parodiando também o sinal de "palmeiras", seguindo a proposta do texto.

No verso seguinte, em que diz "onde gorjeia o mar", optei por realizar o sinal de um mar agitado, trazendo a referência histórica dos navios negreiros, em vez de realizar movimentos suaves do mar que seria mais romântico. Segui esta descrição realizada por Verdejo (2023, p. 31) “... urge um mar poderoso e duro, lugar de naufrágio, via do tráfego negreiro e de um fluxo histórico que, adormecido na mitificação romântica, agora invade os “salões de poema”, cantando reflexos de um país redimensionado em perspectivas de sua realidade histórica”.

Utilizei também os "referentes" na Libras, que é um recurso de apontamentos referenciando locais geográficos. A partir da minha perspectiva, apontei para São Paulo ao meu lado esquerdo (pensando no mapa do Brasil, como se eu estivesse vendo de frente) e no verso "não cantam como os de lá" - apontei para cima, lado direito, registrando o espaço como se fosse a Europa. Essa representação geográfica quis pontuar na expressão facial e corporal, deixando os sinais referentes à terra de São Paulo mais emotivas e saudosas do que os sinais referentes à Europa, seguindo a característica da semana de 22 de valorização da cultura brasileira.

Tomei a liberdade de elaborar um cenário com base no poema "Soidão" do mesmo autor, quando diz:


Senhor

que eu não fique nunca

como esse velho inglês

aí ao lado

que dorme numa cadeira

à espera de visitas que não vêm,

[...]


Por isso, escolhi representar visualmente o poema "Soidão" por meio de uma cadeira branca, solitária, que torna-se um palanque feito na cadeira "do velho inglês", por um brasileiro que tem uma voz a ser ouvida.

Geralmente, a cadeira representa conforto ou descanso, mas nesse vídeo, quis colocar a ação de sentar e levantar trazendo movimento ao redor da cadeira. Diferente do "velho inglês" que permanece inerte na cadeira, escolhi sentar na cadeira, enunciar o que precisava ser dito e levantar da mesma, convidando todos os participantes deste lindo evento a visitarem todos os espaços que serão proporcionados em cada atividade da programação elaborada com tanto cuidado. 

Então, existe a recusa de permanecer estático e passivo na cadeira, mas está presente a ação de convocar ao movimento.

Ao contrário do "velho inglês", todas as visitas chegarão e as dialogias serão estabelecidas.

Também, a luminária corresponde à luz que foi acesa no Brasil a partir da Semana de Arte Moderna de 22. O vídeo percorre em preto e branco e após o término do poema, a cor volta ao vídeo, simbolizando toda a miríade de cores que invadiram o cenário artístico e literário do Brasil depois da Semana de 22.

A cor vermelha utilizada no nome de Oswald de Andrade no vídeo foi atribuída devido à cor vermelha utilizada no cartaz da Semana de Arte Moderna, produzido pelo artista Di Cavalcanti.

 

Referência:

VERDEJO, Pedro. HISTORICIZED RETURN TO HOMELAND: AN ANALYSIS OF “CANÇÃO DE VOLTA À PATRIA”, BY OSWALD DE ANDRADE. Miguilim – Revista Eletrônica do Netlli| v. 12, n. 3, p. 24-40, set.-dez. 2023.

 

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Priscila Soares Vidal Festa é Doutora em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (2020. Atua como profissional TILSP (Tradutor e intérprete em Libras/Língua Portuguesa) desde 2007 e possui certificação PROLIBRAS/MEC de Tradutora Intérprete de Libras/ Língua Portuguesa e Ensino da Libras.