CAPÍTULOS DE UMA VIDA PERMEADA PELA LITERATURA
Angela Cristina Cavichiolo Bussmann
Desde a minha infância a literatura faz parte do meu
cotidiano. Minha mãe era professora de uma escola pública dos Anos Iniciais e,
portanto, os livros faziam parte natural do ambiente doméstico. Meu pai, embora
trabalhasse no comércio, sempre foi um leitor ávido. Lia inúmeros livros por
mês — e continua assim até hoje, mesmo com mais de oitenta anos. Crescer nesse
contexto foi, de certa forma, crescer entre histórias, palavras e mundos
imaginários. Talvez por essa influência familiar, desde muito cedo desenvolvi
um gosto profundo pela leitura.
Lembro com carinho de um costume da minha infância: o
“presente do mês”. A cada novo mês, havia a expectativa pelo presente que minha
mãe traria — e, na maioria das vezes, por opção dela ou escolha minha, eram
livros infantis. Eu os devorava em poucos dias e, enquanto o próximo não
chegava, relia os anteriores com o mesmo entusiasmo da primeira vez.
Na adolescência, essa relação se ampliou. Para quem
nasceu nas décadas de 1970 e 1980, os livros da Coleção Vaga-Lume marcaram
época e acompanharam uma geração inteira. Lembro-me de passar tardes inteiras
mergulhada em títulos como “A Ilha Perdida”. Lia um após o outro, entretida e
encantada com as histórias.
Com o passar do tempo, a literatura foi assumindo
novos papéis na minha vida. Na fase adulta, ela deixou de ser apenas
entretenimento e tornou-se também instrumento de conhecimento, reflexão e
aprendizado. Passei a ler não apenas romances, mas também biografias, ensaios e
livros de não-ficção. A leitura, que começou como um gesto de curiosidade
infantil, transformou-se em uma forma de compreender o mundo — e, em muitos
momentos, de compreender a mim mesma.
Além disso, sempre gostei de aprender novas línguas, e
a literatura também me acompanhou nesse caminho. Ler em outros idiomas me
ajudou a perceber nuances culturais, formas de pensar e expressões que vão além
das palavras. Em cada língua, há uma forma particular de ver o mundo e é isso
que, em muitos momentos, torna a leitura uma ponte entre culturas. Às vezes,
optava por versões adaptadas; outras vezes, enfrentava o texto original como um
desafio prazeroso.
Com o tempo, vieram as mudanças tecnológicas e, junto delas, novas formas de ler. Ainda que o livro físico ocupe um lugar insubstituível — o cheiro das páginas, o peso nas mãos, o gesto de virar cada folha —, o formato digital, como o Kindle, também conquistou espaço. Hoje, a literatura me acompanha em diferentes suportes, adaptando-se às rotinas e aos tempos modernos, mas sem perder sua essência.
A literatura, acredito, é um dos maiores exercícios de
empatia e imaginação que podemos experimentar. Ela nos permite viver vidas que
não são as nossas, sentir dores e alegrias de personagens distantes, enxergar o
mundo por outros ângulos. Como disse Jorge Luis Borges, “sempre imaginei que o
paraíso fosse uma espécie de biblioteca”. E talvez haja verdade nisso: ao ler,
nos aproximamos do que há de mais humano — a capacidade de sonhar, de pensar,
de criar.
Estudos em diferentes áreas apontam para os inúmeros
benefícios da leitura, não escreverei sobre eles, mas tenho a certeza de que
ela nos ajuda a compreender as complexidades da vida, a lidar com sentimentos e
a cultivar a sensibilidade. É uma prática silenciosa que molda, pouco a pouco,
o modo como enxergamos o outro, a nós memos e o mundo.
Hoje, continuo lendo com a mesma frequência e
entusiasmo de antes. Acompanho lançamentos, redescubro clássicos e revisito
histórias que marcaram minha trajetória. Acredito que, assim como a linguagem,
a literatura é viva — ela se transforma conosco, acompanha as fases da vida e
nos devolve sempre algo novo. Tenho certeza de que os livros seguirão presentes
em todos os meus dias. Porque ler, mais do que um hábito, é uma forma de estar
no mundo.
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Angela Cristina
Cavichiolo Bussmann: é formada em Letras –
Português e Inglês. Atua como professora e coordenadora de inglês há mais de 25
anos. Fez cursos de especialização em Literatura Brasileira, Literatura Americana
e Literatura Inglesa no Brasil, Inglaterra e Japão. Integra a equipe técnica de
Língua Estrangeira da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba.
