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sexta-feira, 22 de março de 2019


Literatura, centralidade humana e contexto: por uma literatura de resistência

 

Esse pequeno texto visa reforçar a perspectiva histórica do texto literário. Amparado nos fundamentos materialistas de Mikahil Bakhtin e do Círculo russo do começo do século XX e nos pressupostos de autores como Georg Lukcács, Lucien Goldman, Antonio Candido, Alfredo Bosi e Roberto Schwarz, advoga que a literatura é uma manifestação social e voltada para o contexto de onde parte. O escritor, homem de seu tempo e país, como diz Machado de Assis, posiciona-se criticamente sobre o que ocorre ao seu redor e organiza seu texto para responder ao que vê, observa a ao que lhe inquieta. O escritor não é um alienado que vem de outro planeta e profere um discurso incompreensível e sobre uma situação totalmente fantasiosa. Escreve sobre o que viveu, presenciou, sofreu, experienciou. Toda teoria literária que não leva esse pressuposto em consideração, a meu ver, amparada pelos críticos e filósofos citados, é imperfeita, inadequada. Quando lemos um bom romance, um poema, uma peça teatral, um conto, queremos ali encontrar o humano vivenciando situações que nos sejam semelhantes. O Cortiço de Aluísio Azevedo traz para a cena inúmeras lavadeiras pobres e exploradas. Memórias póstumas de Brás Cubas formaliza a vida vazia da elite improdutiva brasileira. Vidas Secas de Graciliano Ramos narra a saga dos pobres em busca da sobrevivência. A hora da estrela de Clarice Lispector conta  a difícil história de uma mulher pobre, humilhada, alienada.  O retrato de Érico Veríssimo relata a decadência de uma forma de vida do campo digna e a ascensão da vida urbana em confronto com aquela. Eles eram muitos cavalos de Luiz Rufato nos traz a vida conturbada de desempregados em busca de trabalho. O leitor e a leitora já podem ter percebido que desses livros citados pulsa a vida de pessoas comuns, ordinárias, que podem ser encontradas entre nós. Não se trata de um universo inventado, mas que reflete a vida e sob as lentes de cada escritor. A literatura para ser de qualidade deve falar ao humano sobre o humano. Qual a função social da literatura? Fazer com que a condição humana se aperfeiçoe. Por uma literatura de resistência com diz Alfredo Bosi. Fora disso, é balela, puro entretenimento vazio.

Professora Dra Angela Maria Rubel Fanini, Bolsista de produtividade em pesquisa pelo CNPq.

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