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sexta-feira, 28 de junho de 2024

REDUZINDO A DISTÂNCIA ENTRE OS TRÓPICOS

 

Verônica Daniel Kobs

 

É com satisfação que anunciamos uma nova parceria internacional ― entre a Pós-Graduação em Teoria Literária do Centro Universitário Campos de Andrade (UNIANDRADE) e a Florida University Science and Theology (FUST). Essa colaboração marca um passo significativo em nossa trajetória acadêmica, proporcionando oportunidades valiosas para discentes e docentes de ambas as instituições.


Fonte: Imagem criada pela autora deste texto.

 

O acordo que foi oficializado entre as instituições promete facilitar o intercâmbio de conhecimentos e recursos, enriquecendo nossas comunidades acadêmicas com perspectivas interdisciplinares. Os estudantes do Brasil e dos Estados Unidos terão acesso aos eventos promovidos pela universidade parceira e poderão, inclusive, atuar em pesquisas colaborativas. Aliás, nesse sentido, o seminário internacional que realizaremos nos dias 16, 17 e 18 de outubro deste ano vem comprovar essa possibilidade. 

Vale ressaltar que, antes mesmo de assinar o acordo com a UNIANDRADE, a Florida University Science and Theology apoiou a realização de nosso seminário de modo imediato e irrestrito. Portanto, de muitas formas, esse consórcio representa inúmeras chances de engajamento e ampliação de conhecimentos, em uma perspectiva de integração e diversidade cultural. Sem dúvida, o evento que estamos preparando irá demonstrar isso!

Com esse acordo entre as duas universidades, esperamos fazer avanços significativos em nossas áreas de estudo, possibilitando o crescimento mútuo de ambas as instituições. Agradecemos à Florida University Science and Theology por esta oportunidade e estamos ansiosos por uma parceria produtiva e duradoura.



 Fonte: https://br.freepik.com/fotos-premium/antecedentes-das-bandeiras-dos-eua-e-do-brasil-o-conceito-de-interacao-ou-oposicao-entre-dois-paises-relacoes-internacionais-negociacoes-politicas-competicao-esportiva_32142302.htm

 

Depois de quase 20 anos de História, essa parceria internacional que nossos programas anunciam e comemoram hoje reflete o compromisso contínuo Pós-Graduação em Teoria Literária da UNIANDRADE com a excelência acadêmica. Neste ano de 2024, celebramos a pesquisa e a inovação, buscando benefícios que transcendem fronteiras e enriquecem duas comunidades acadêmicas ― geograficamente distantes, mas próximas em seus ideais.

 

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Verônica Daniel Kobs: Pós-Doutorado em Literatura e Intermidialidade (UFPR). Professora e pesquisadora de Literatura e Tecnologia Digital. Coordenadora dos cursos de Mestrado e Doutorado em Teoria Literária da UNIANDRADE. Idealizadora do blog Sarau Literário.

terça-feira, 25 de junho de 2024

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS


Josiel dos Santos Lima




Nesta semana, convidamos o egresso Josiel dos Santos Lima, nosso colaborador frequente, para dar dicas valiosas sobre contação de histórias, uma atividade que vem ganhando cada vez mais admiradores e adeptos em todo o mundo!




Para acessar o podcast, clique aqui

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Josiel dos Santos Lima é mestre e doutor em Teoria Literária pela UNIANDRADE e atua como professor e contador de histórias.

terça-feira, 18 de junho de 2024

UMA CONFISSÃO ABSURDA: MISTÉRIO, LOUCURA E MORTE EM A CONFISSÃO DE LÚCIO, DE MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

 

Greicy Pinto Bellin

 

Em 26 de abril de 1916, às 20 horas em ponto, José Araújo encontra o poeta e ficcionista português Mário de Sá-Carneiro deitado em sua cama no bairro de Montmartre, Paris. Ao perguntar se ele estava com dor de cabeça, recebe como resposta que ele havia acabado de tomar cinco frascos de estricnina e que estava, portanto, aguardando sua própria morte. Araújo se desespera diante da terrível revelação e sai em desabalada carreira a fim de procurar um médico. Ao retornar ao quarto com dois enfermeiros, presencia a cena mais horrível de toda a sua vida. Em cima da cama, Sá-Carneiro agonizava, todo contorcido, as mãos enclavinhadas, caminhando rumo à morte inexorável apenas vinte minutos após a chegada do amigo.

 

Crédito da imagem: https://www.amazon.com.br

 

A cena seria relatada pelo próprio Araújo em carta a Fernando Pessoa, outro grande amigo de Mário de Sá-Carneiro, que decretou o final de sua existência com apenas 26 anos de idade. Grande expoente do Modernismo português, mais especificamente da Geração de Orfeu, à qual Pessoa também estava relacionado, Sá-Carneiro nasceu no seio de uma família abastada e ficou órfão de mãe muito cedo. Estudou em Coimbra e depois na Sorbonne, onde passou a levar uma vida boêmia regada à angústia característica de quem tem a alma dilacerada, estado este que se refletiu em sua obra, mais especificamente em A confissão de Lúcio, publicada em 1914. O escritor traz, nesta novela, os principais temas que o acompanharam em vida, juntamente com a perturbação de alma manifesta no estabelecimento da triangulação que consistirá no mote central da narrativa. Esta se inicia com Lúcio alegando inocência diante do crime pelo qual fora mantido na prisão por dez anos, juntamente com uma reflexão sobre o estatuto da ficção, o que ganhará pleno sentido quando descobrirmos que Lúcio é dramaturgo e que seu amigo Ricardo de Loureiro é ficcionista. O introito se apresenta como a antessala a partir da qual se descortinará, diante dos olhos do leitor, uma narrativa fantástica de horror, mistério, psicose e morte, em que se destaca o corpo da mulher como veículo para a realização de perversões sexuais, em verdadeiros rituais que trazem não apenas as obsessões dos personagens, mas os dilemas de artistas em permanente conflito com seus próprios desejos.

A narrativa se caracteriza por uma atmosfera onírica em que o nível de alucinação vai se intensificando e impactando o corpo e afetos do leitor, que se sente cada vez mais angustiado diante das intensas sensações experimentadas por Lúcio diante de seu envolvimento com Marta, esposa de Ricardo. Os momentos finais do relato de Lúcio caracterizam-se pela crescente sensação de dissociação de uma personalidade que se encaminha para uma trágica totalidade por meio do desfecho trágico em que descobrimos que Ricardo e Marta eram, ao fim e ao cabo, a mesma pessoa: “Quem jazia estiraçado junto da janela não era Marta - não! - era o meu amigo, era Ricardo… E aos meus pés caíra o seu revólver ainda fumegante!”

Percebe-se, linha a linha, uma forte semelhança com O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, mais especificamente no que diz respeito ao culto da beleza masculina, e na percepção da figura feminina como objeto e acessório a serviço não apenas da materialização de desejos inconfessados, mas dos dilemas experimentados pelos próprios artistas diante de sua condição. Foi por meio do retrato da bizarra triangulação entre uma misteriosa mulher e dois artistas que Mário de Sá-Carneiro, dentro da atmosfera decadentista que permeava a produção literária europeia em princípios do século XX, conseguiu dar vazão às inquietações da alma dilacerada pela constante sensação de inadequação que o levou, dois anos depois da publicação de A confissão de Lúcio, a optar pelo triste suicídio assistido por José Araújo em uma melancólica noite parisiense.


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Greicy Pinto Bellin é professora do PPG da UNIANDRADE. É pós-doutora em Letras pela Universidade Estadual de Campinas e pela UFPR. Doutora e mestre em Estudos Literários também pela UFPR, assim como graduada em Letras pela mesma instituição. Além de professora titular do programa de Pós Graduação em Teoria Literária da UNIANDRADE também é tradutora e autora. 


terça-feira, 11 de junho de 2024

INTERMIDIALIDADE EM FOCO


Mail Marques de Azevedo


A publicação do quarto volume da série dedicada aos estudos da Intermidialidade assinala vitória memorável do projeto desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Intermídia, sob a competente regência de Thaís Flores Nogueira Diniz, que destaca seus objetivos: “Trazer ao público brasileiro/lusófono, pesquisadores e estudantes, pensamentos significativos de nomes renomados nesta área”.


Imagem disponível em: 

À primeira antologia, Desafios da Arte Contemporânea 1, seguiu-se de imediato o volume 2, publicados em 2012. Em ambos, tradutores filiados ao Grupo Intermídia disponibilizaram aos interessados textos muitas vezes de difícil acesso, de autoria de Irina Rajewsky, Liliane Louvel, Jürgen Müller, Carol Duncan, Karl Prümm, Chiél Kattenbelt, Hans Lund e Claus Clüver, entre outros.

O volume 3 Escrita, som, imagem: natureza em foco, de 2022, resultou da realização do Colóquio Internacional Escrita, Som, Imagem IAWIS/AIERTI, nas instalações das Faculdades de Ciências Humanas da UFMG. A variabilidade e ineditismo das sessões de participação criativa – produções coletivas e individuais, que utilizaram em sua confecção mídias diversas: música, pintura, instalações, performances, mídias digitais e outras – focadas no tema do evento, a relação com o mundo natural, foram alvo de elogios dos pesquisadores internacionais presentes Jorgen Bruhn, Irina Rajewsky, Sophie Aymes e Lauren Weingarden, colaboradores habituais dos componentes do Intermídia, com quem estabeleceram sólidos laços de amizade.     

Constitui caso exemplar a parceria entre o Grupo Intermídia e Claus Clüver, cujo texto referencial, “De ‘Iluminação mútua das artes” a ‘Estudos de Intermidialidade’”, abre o quarto volume de registros testemunhais das atividades do Intermídia. A relação de Clüver com o Brasil, porém, antecede de muito a atual publicação, pois é casado com uma brasileira, a quem conhecera quando ambos faziam estudos avançados de Teoria Literária, nos idos de 1950. Desde então conta várias estadas no Brasil como professor visitante na PUC-SP, na UFMG e na USP, onde lecionou Teoria Literária e Literatura Comparada, no ano de 1996.

Na conclusão do artigo mencionado acima, Clüver ressalta sua íntima ligação com universidades brasileiras: “Posso ter sido o primeiro a ministrar um curso de pós-graduação sobre relações interartes no país, quando ofereci a disciplina na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1976, a convite de Haroldo de Campos e Décio Pignatari”. Atribui, ainda, importância capital ao seu envolvimento na formação do Grupo Intermídia, na Universidade Federal de Minas Gerais, “presidido com maestria por Thaïs Flores Nogueira Diniz, com participantes de Letras, Música, Belas Artes e Comunicação”.

Embora não atinjam a relação de apadrinhamento entre Clüver e o Intermídia, outros colaboradores fiéis ressurgem no volume publicado pelo grupo em 2024. Na Parte I – Cinema e adaptação, Jorgen Bruhn; na Parte II – Palavra e imagem, lá está Claus Clüver revisitando um velho tópico, a écfrase; na Parte III – Transmidia(lidade), Irina Rajewsky desafia os leitores a combater a cegueira midiática da narratologia (clássica) com o emprego de abordagens transmidiáticas.

Como membros do Intermidia, a professora Brunilda Reichmann, nossa colega Franciele Nogozeki e eu mesma emprestamos nossa despretensiosa colaboração de tradutoras para concretizar o 4º volume, com a versão para a língua portuguesa dos textos de Marie-Laure Ryan e Claus Clüver, respectivamente.

Trata-se realmente de uma vitória memorável do Intermídia, que obteve junto aos órgãos financiadores da UFMG recursos para a publicação do livro em formato físico. Nossos cumprimentos ao denodo e à dedicação de nossos companheiros e companheiras.

Em Curitiba, junho de 2024.


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Mail Marques de Azevedo possui doutorado em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Universidade de São Paulo (1999). Foi professora da Universidade Federal do Paraná, de 1988 a 2007, e, atualmente, faz parte do corpo docente da UNIANDRADE. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em literatura de minorias, atuando principalmente nos seguintes temas: gêneros autobiográficos, literatura afro-americana e literatura pós-colonial. 

terça-feira, 4 de junho de 2024

 OS ARREDORES DAS PALAVRAS


Dina Dominick


A publicação do meu livro de estreia, em março de 2024, trouxe-me experiências que nenhum outro acontecimento proporcionaria.

Fui feliz na escolha da Editora. A Nauta fez um belo trabalho de edição e a interação com o editor chefe não poderia ser melhor.

As demonstrações de apoio apareceram logo após a revelação da capa nas redes sociais, e persistem. No evento de lançamento, vi surgirem amigos de várias fases da minha vida, inclusive colegas da escola primária. Tenho 59 anos.

Anunciam o recebimento do livro via Correios, além de elogiarem a capa. É como se confirmassem junto à mãe a chegada de uma criança em uma colônia de férias: “chegou bem, está seguro e vai se divertir por aqui”.

Escrevi os contos de A Outra Mulher sem ter em mente um leitor ideal. Aliás, eu me angustiava ao ouvir autores afirmarem com muita segurança qual seria o perfil de seu público leitor. Aos poucos, manifestações carinhosas de leitores com idades e personalidades distintas me assaltam em várias situações qual nuvens de passarinhos, pegando-me desprevenida.


Crédito da imagem: Acervo particular da autora.

As experiências mais marcantes envolvem reações de pessoas que eu não contava como possíveis leitores dos contos. Foi o que aconteceu quando uma amiga solicitou: “A mamãe quer um também.” Sabendo que a senhora em idade avançada se encontrava bastante fragilizada, argumentei: “Achei que você fosse ler pra ela o seu exemplar, ou o da sua irmã.” Então, acertou-me a resposta inesperada: “Sim, vou ler pra mamãe, só que ela insiste: quer o livro e quer te receber em uma visita breve”. A declaração tocou-me profundamente durante dias. Vieram-me vestidos com estampas florais e lábios tintos de vermelho. A senhora elegante nos servia o lanche na casa dela nos trabalhos em grupo do ginásio.

Outro dia, ao chegar à academia de Pilates, dona Mercês, 80 anos, cumprimentou-me assim: “Meu marido está lendo o seu livro primeiro que eu. Ele disse: pergunta à sua amiga escritora por que o senhor do conto Santiago não libertou o pássaro da gaiola.” Uma onda de ternura cercou meu entendimento, enquanto eu afirmava: “Eu não havia atentado pra esse detalhe, mas vou pensar sobre essa curiosidade”. Igualmente curiosa sinto-me ao imaginar quem mais estaria lendo o livro, em quais situações, e quais efeitos a leitura produziria.   

A atenção também veio por parte de uma amiga de Itamarandiba: “Minha mãe, de 93 anos, surrupiou seu livro da minha cabeceira.” Eu quis saber: “Me conta se a dona Dica somente folheou o livro, ou leu alguns contos.” A Maire respondeu: “Mãe leu tudinho. Nem me dava a bênção quando eu pedia. E quando terminou, disse: muito agradável”.


Crédito da imagem: Acervo particular da autora.


Minha irmã relatou que a diarista dela flagrou o livro sobre um móvel e comentou, após a leitura do conto "A Outra Mulher", que emprestou o título ao livro: “É a história de seu pai, não é, Jacqueline?”.

O acolhimento do livro como objeto de valor causou-me surpresa. Alguns dos textos já tinham sido divulgados em periódicos, mas considero que eles alcançaram status superior uma vez agregados aos demais pela materialização em papel.

Sobre o livro: “Nos 22 contos do livro, o que encontramos é o cotidiano mineiro – muito caro ao coração dos brasileiros – que, à medida que os fatos vão se desenvolvendo ao redor do leitor, neles imerso, vai se abrindo ao pensamento reflexivo, à abstração e ao universal por meio do simbólico, do insólito e, do extremo, do fantástico”. (Extraído da legenda da publicação de @lucascafre).

É certo que minha escrita foi influenciada pelo estilo de vários autores que admiro, mas, em maior grau, de Júlio Cortázar e Guimarães Rosa.

Desapegar-me dos textos engavetados, alguns por mais de 10 anos, exigiu-me esforço, menos por temer o julgamento de quem os examinaria – empenhei-me na lapidação, buscando a sua maturidade –, e mais por eu ter adquirido o vício típico de quem guarda algo somente para si por tanto tempo.  Mas a sugestão da guarda compartilhada já é uma realidade. Espero que as histórias continuem circulando. 


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Dina Dominick é de Belo Horizonte, graduada em Letras pela UFMG. Produz conteúdo sobre literatura através do perfil no instagram @dinamariadominick. Tem contos publicados no jornal Relevo, na Revista Artes do Multiverso e em coletâneas da Editora Selo Off Flip. A Outra Mulher é seu livro de estreia.