MESTRADO E DOUTORADO EM TEORIA LITERÁRIA DA UNIANDRADE
MARCAM PRESENÇA NO CINE-FÓRUM 2025
De
13 a 16 de maio será realizada a 5ª edição do Cine-Fórum, que contará com a
trabalhos desenvolvidos por alunos e professores de nossos programas. Confira,
a seguir, os temas e discussões que serão pauta, no evento desta semana:
1)
OS ZUMBIS COMO METÁFORA EM NIGHT OF MINI DEAD (LOVE, DEATH & ROBOTS,
T03E04)
Autores:
Thales Vianna Coutinho (doutorando da UNIANDRADE) e Verônica Daniel Kobs
(professora da UNIANDRADE)
RESUMO:
Atualmente, os zumbis são uma das figuras mais recorrentes na cultura popular e
frequentemente são utilizados como metáforas para questões sociais, políticas e
de saúde. Argumenta-se que a evolução do horror zumbi reflete medos coletivos,
destacando como os monstros da ficção funcionam como expressões bioculturais
das ansiedades humanas. O zumbi, nesse contexto, torna-se um espelho de nossa
fragilidade diante de ameaças biológicas e institucionais. Objetivo: Com base
nesses pressupostos, analisamos o episódio Night of Mini Dead (T03E04), da
série Love, Death & Robots à luz dessa perspectiva metafórica. O episódio
subverte a narrativa tradicional dos filmes de zumbi ao apresentar um surto
apocalíptico em um formato acelerado e satírico. A velocidade com que os zumbis
se espalham e destroem a sociedade ilustra a rapidez e imprevisibilidade de uma
pandemia. Resultado: Elementos como o caos social imediato, a destruição de
espaços públicos (incluindo escolas) e a resposta política desarticulada apontam
para uma crítica à ineficácia governamental diante de crises sanitárias. A
decisão final dos líderes mundiais de recorrer a soluções bélicas ressoa com os
desafios enfrentados durante a pandemia da covid-19. Considerações: o episódio
pode ser compreendido como uma metáfora da crise pandêmica recente, reforçando
como a irracionalidade, a falta de planejamento e a inabilidade política
agravam a propagação de ameaças globais. Ao adotar um tom cômico e acelerado, o
enredo ressalta a natureza absurda das respostas institucionais ao caos,
evidenciando a vulnerabilidade das estruturas sociais diante de eventos de
grande escala.
2)
PERSPECTIVA BÍBLICA E PRODUÇÃO DE PRESENÇA EM “ANA TERRA”, DE ERICO VERISSIMO
Autoras:
Ligia Fernanda Giorgia de Oliveira Klein (mestranda da UNIANDRADE) e
Greicy Pinto Bellin (professora da UNIANDRADE)
RESUMO:
A intersecção entre textos sagrados e obras literárias tem sido objeto de
crescente interesse nos estudos literários, como demonstram os trabalhos de
Northrop Frye (2004) e Robert Alter (2007). Esse diálogo abre espaço para
análises intertextuais que revelam como a literatura se apropria de elementos
bíblicos para a construção de sentido. Este resumo apresenta a pesquisa de
mestrado que investiga a relação na obra “Ana Terra”, de Erico
Verissimo, considerando as intertextualidades com o livro de Rute e “Provérbios
31”. O estudo fundamenta-se nas teorias da intertextualidade de Bakhtin (1929),
Kristeva (1979) e Barthes (1979), bem como, na produção de presença e Stimmung
propostas por Hans Ulrich Gumbrecht (2014). A trajetória de “Ana Terra”,
marcada pela luta e resiliência, ecoa a narrativa de Rute, que também
enfrenta desafios e transforma sua realidade por meio da coragem e da
determinação. Do mesmo modo, a representação feminina em “Ana Terra” se
aproxima da mulher virtuosa de “Provérbios 31”, cujas qualidades de força e
trabalho refletem a identidade da protagonista. Essas intertextualidades
contribuem para a construção da identidade cultural e simbólica da personagem,
inserindo-a em um contexto de tradição e ancestralidade. A teoria da produção de
presença de Gumbrecht permite compreender como a materialidade do texto e a
ambiência evocada na narrativa de Verissimo afetam o leitor de maneira
sensorial. Elementos como a paisagem, as descrições corpóreas e a violência
experienciada por Ana criam um impacto emocional que ultrapassa a simples
interpretação hermenêutica, favorecendo uma experiência imersiva. A atmosfera
emocional, ou Stimmung, que permeia a obra intensifica a conexão entre
texto e leitor, promovendo um envolvimento que ressoa com questões de
identidade, ancestralidade e territorialidade. Além disso, a abordagem
intertextual possibilita uma leitura que transcende os limites do texto
literário, revelando a influência da tradição bíblica na literatura brasileira
contemporânea. Ao destacar os diálogos entre “Ana Terra” e as
Escrituras, esta pesquisa amplia a compreensão da narrativa e reforça a
relevância do romance de Verissimo na construção de uma literatura que articula
memória, cultura e experiência histórica. Assim, essa pesquisa de mestrado não
apenas analisa os aspectos literários e intertextuais, mas também explora as
dimensões sensoriais da leitura, enfatizando como a literatura pode ser
vivenciada de maneira tangível e afetiva pelo leitor.
3)
COGNITIVAMENTE INADAPTÁVEL: O CASO DE “A COR QUE VEIO DO ESPAÇO” DE H. P.
LOVECRAFT
Autor:
Thales Vianna Coutinho (doutorando da UNIANDRADE)
RESUMO: The Colour
Out of Space (“A Cor que veio do Espaço”) é um conto do escritor
norte-americano H. P. Lovecraft, publicado em 1927, que encapsula a filosofia
lovecraftiana do desconhecido e do incognoscível, característica nuclear do
horror cósmico (Dzienkonski, 2023). No original, a cor é descrita como: "A
cor, que lembrava algumas das faixas do estranho espectro do meteoro, era quase
impossível de descrever; e era somente por analogia que eles a chamavam de cor".
Ao longo das décadas, foi adaptada para o cinema em diferentes ocasiões. A
saber: "Die, Monster, Die!" (1965), "The Curse"
(1987), "Colour from the Dark" (2008), "Die Farbe"
(2010) e "Color Out of Space" (2019). No entanto, todas as adaptações
cinematográficas de The Colour Out of Space apresentaram desafios em traduzir a
incompreensibilidade cósmica de Lovecraft para a linguagem visual (Basu &
Ray, 2023). O objetivo desse trabalho foi tecer uma argumentação de psicologia
teórica para explicar as dificuldades significativas e reiteradas enfrentadas
pelas tentativas de adaptar o conto de Lovecraft para o cinema. Para isso,
realizou-se uma revisão narrativa da literatura, buscando por artigos que
tratassem dos limites perceptuais e cognitivos da imaginação. É possível
conceber pontos de vista radicalmente diferentes do humano? (Elson, 2024).
Malik (2015) explorou os limites da imaginação humana e argumentou que, embora
pensemos ser capazes de imaginar o impossível, o que realmente fazemos é
reinterpretar conceitos conhecidos. Ainda, ao analisar a natureza de um
conteúdo perceptivo e das imagens mentais, verificou-se que ambos compartilham
características fundamentais (Nanay, 2015). Já McCarroll (2022) investigou as
relações entre memória e imaginação, argumentando que ambas são centrais para a
construção da realidade subjetiva. Portanto, à luz dessas evidências, é
possível argumentar que a razão pela qual as adaptações cinematográficas do
conto de Lovecraft inspiram críticas negativas é que estamos diante de uma obra
inadaptável, tendo em vista que sua descrição desafia a nossa estrutura
cognitiva capaz de imaginar visualmente algo.
4) E
O OSCAR VAI PARA... ANNE HATHAWAY: O EFEITO DA DECISÃO DO DIRETOR PELO USO DE
CLOSE-UP SOBRE O ENGAJAMENTO EMOCIONAL DIANTE DAS CENAS DE "OS
MISERÁVEIS" (2012)
Autor:
Thales Vianna Coutinho (doutorando da UNIANDRADE)
RESUMO:
A psicologia da mídia sugere que planos em close-up intensificam a empatia
dos espectadores com os personagens, ampliando a percepção de suas emoções e
estados mentais. Estudos recentes apontam que essa técnica cinematográfica
facilita a teoria da mente e aprofunda a imersão na narrativa. Este trabalho
analisa o uso dessa estratégia no filme Os Miseráveis (2012), com foco
na cena em que Anne Hathaway interpreta I Dreamed a Dream, performance
que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. A decisão do diretor Tom
Hooper de utilizar um close-up de rosto na atriz contribuiu para maximizar a
conexão emocional com o público, tornando a sequência um dos momentos mais
emblemáticos do filme. No caso de Hathaway, a escolha estética destacou cada
nuance de dor e resignação da personagem Fantine, amplificando seu apelo
dramático. No entanto, apesar de sua contribuição estética e emocional decisiva
para o sucesso da cena, em um momento histórico em que a própria literatura
científica da psicologia não demonstrava esse efeito, o Oscar de 2012 foi
injusto ao não indicar Tom Hooper na categoria de Melhor Diretor. Sua
direção refinada, antecipando os achados científicos, foi determinante para a
construção de uma das performances mais impactantes da década. Esta análise
reafirma o papel central da linguagem visual na recepção afetiva e no
reconhecimento crítico de atuações cinematográficas.