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segunda-feira, 8 de abril de 2013

O discurso dialógico de Margaret Atwood em Negociando com os mortos



Como Margaret Atwood menciona em sua Introdução a Negotiating with the dead: a writer on writing (2002), esta obra surgiu das Conferências de Empson – criadas na Universidade de Cambridge em homenagem ao crítico literário Sir William Empson, a fim de oferecer, num “fórum único para escritores famosos e acadêmicos de reputação internacional” a oportunidade de “explorarem de modo acessível temas de abrangência literária e cultural”. Por esta razão, o tom leve, irônico e coloquial – tão característico da prosa ficcional, não ficcional e da poesia de Atwood – que perpassa as seis conferências
1. reforça a acessibilidade com que ela discute o ato de escrever e as três perguntas feitas com maior frequência aos escritores, tanto pelos leitores quanto por eles mesmos: Para quem você escreve? Por que você escreve? De onde vem esse impulso?
2. potencializa, consequentemente, as questões abordados nas conferências, como a identidade do escritor, o discurso e a consciência dupla dos escritores, o conflito entre arte, comércio e poder, o triângulo escritor/ livro/ leitor e os caminhos labirínticos da viagem narrativa;
3. e, ao mesmo tempo, projeta ainda mais a agudeza de espírito com que faz uma releitura da colonização, ao redefinir, subverter e desconstruir – através de estratégias discursivas como a ótica paródica e a ironia, os conceitos fixos de eurocentrismo, cânone literário e essencialismo, entre outros.
 Essas estratégias, pelo fato de serem compartilhadas pelo pós-modernismo e pelo pós-colonialismo, merecem, entretanto, uma ressalva: como Linda Hutcheon já havia ressaltado em“Circling the Downspout of Empire”, apesar de haver uma importante diferença entre o pós-colonial e o pós-moderno – a arte e crítica pós-coloniais têm uma agenda política distinta e muitas vezes uma teoria de agência que lhes permite ir além dos limites pós-modernos, de desconstruir ortodoxias existentes, para entrar na esfera de ação social e política – mesmo assim há uma sobreposição considerável em suas preocupações formais (como o “realismo mágico”), temáticas (em relação à história e à marginalidade), e estratégias discursivas (como a ironia e a alegoria), todas compartilhadas pelo pós-moderno e pelo pós-colonial, mesmo que as finalidades com que essas estratégias são usadas possam diferir (1995, p. 130-131).
 Esta pesquisa pretende, portanto, discutir algumas dessas questões abordadas nas conferências e, consequentemente, verificar como as práticas do pós-modernismo e pós-colonialismo usadas por Atwood
1.                não só se sobrepõem, ao Atwood apontar para “novos parâmetros de crítica literária e social, baseadas na relativização e na pluralidade” (Bonnici, 2005, p.45-6);
2.                mas simultaneamente lhe permitem ultrapassar os limites do pós-moderno e do pós-colonial, ao ainda abrir – como teoriza Hena Maës-Jelinek a respeito de “creative writers” (e, portanto, incluindo Atwood como romancista) – “novas perspectivas até na crítica, em grande parte porque sua imaginação e pensamento originais os livram das elaborações racionais da crítica acadêmica, enquanto seus pontos de vista são geralmente inspirados pela própria prática da literatura. (...) Salman Rushdie, Wole Soyinka, Caryl Phillips e Wilson Harris, os escritores mais prolíficos de ensaios críticos, expressaram insights únicos de literatura e sociedade sem recorrer à teoria”(2008, p. 88-9).


Pontuando apenas algumas dessas ultrapassagens, o ensaio apresenta a seguir os subcapítulos:
 I - A subversão da crítica acadêmica
 II - A releitura da situação colonial canadense e do eurocentrismo
 III - A desconstrução/reconstrução da Arte de escrever

                                                        Sigrid Renaux

●A fim de propiciar aos mestrandos um primeiro contato com a obra de Margaret Atwood, complemento a informação sobre o texto: é o início do ensaio “O discurso dialógico de Margaret Atwood em Negociando com os mortos, que acaba de ser publicado em Para além dos pós-nacionalismos e pós-colonialismos (org. Giséle M. Fernandes) .(S.José do Rio Preto: HN Editora, 2012) .

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