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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Edições para se matar a saudade; ou para se olhar adiante

Prof. Edson Ribeiro da Silva
 
Nas minhas últimas passagens pelas livrarias curitibanas, encontrei o que queria. Mas uma das maiores vantagens das livrarias físicas sobre as virtuais é a possibilidade de se encontrar algo que não se procurava. Quase sempre, aquele livro fundamental que não se via há muito tempo. Ou uma obra nova, que vem ao encontro das pesquisas que se quer desenvolver.

Dentre essas obras fundamentais, encontrei uma edição muito bem cuidada de Invenção de Orfeu, a obra capital de Jorge de Lima. Não se pode esquecer esse longo poema. Na minha adolescência, eu o li emprestado de uma biblioteca. Copiei inúmeras partes a mão. O modo como o poema deixa de ser aquela coisa mole dos anos 30 para ganhar a dicção encorpada dos Eliot, dos Rilke, dos Yeats, me impressionou muito. Eu fiz o meu Invenção de Orfeu de adolescente, um poema até longo que ocupa quase todo um caderno. Tolice, que hoje não jogo foramas também não mostro.

Da mesma forma, comecei a achar Cornélio Pena e Cyro dos Anjos nas livrarias. Autores que a nossa maldição sociológica das academias e dos livros didáticos relegou àquelas listas de secundários que também podem ser lidos, mas apenas como representantes de uma época. O mesmo em relação a um gordo volume com a obra poética de Lúcio Cardoso. Estamos progredindo. Gente do primeiro time está saindo dos bancos de reserva.

Talvez seja o mesmo movimento que faz com que agora se possam comprar um André Gide ou um André Malraux. Eles andavam sumidos. Quem se lembrava de Collette? Ou tinha lidoKnutHansun?

Entre as surpresas muito agradáveis, pelo menos para quem lê ensaios, estão obras interessantes sobre Guimarães Rosa. Quem diria que ensaios sobre um escritor tão complexo figurariam nas prateleiras de literatura brasileira? Talvez até por engano.

Mas lá estava um extenso volume contendo os ensaios que Benedito Nunes dedicou ao grande escritor. Textos que o olham pelo viés filosófico. Que bom! Olhar Rosa como ele merece, sem os atavios de uma crítica sociológica sempre atacada pela miopia de Lukács. Rosa como universal, como atemporal. O livro se chama Benedito Nunes: a Rosa o que é de Rosa. E tem a organização do professor Vitor Sales Pinheiro.Sim, é preciso dar ao maior escritor brasileiro do século passado, ou o maior desde sempre que já nasceu nestas terras, o que é dele. Uma dessas justiças é ver a crítica saindo um pouco das mesmas obras sempre motivo de análises, para entender que há mais para ser focalizado. Eu sempre quis algo grande sobre as novelas de Corpo de baile, mas era difícil encontrar. O volume com a fortuna crítica de Rosa, editado há algum tempo, trazia muito pouco sobre elas. Um ensaio sobre “Campo geral”, outro sobre “Dão-Lalalão”, nada além. Pois uma professora da UFSM publicou a sua dissertação sobre as novelas. Um magro volume chamado Na entrada-das-águas: amor e liberdade em Guimarães Rosa, mas agradável e consistente. Ainda não é o que Campo geral merece. Ela dá atenção demais aos signos rosianos e sua filiação a tradições religiosas, a mitos de povos obscuros. É como se Rosa tivesse que ser um lacaniano criador de textos subliminares, em que água precisa representar purificação e estrada a transformação. Na verdade, é um chavão brasileiro achar que escritor “profundo” está cheio de leituras escondidas nos signos. Havia ainda Machado e Rosa: leituras críticas, organizado por Marli Fantini. Um desses livros imensos, com um índice substancioso de estudos sobre ambos. Efeito dos centenários em 2008. Índice cheio de nomes de ensaístas conhecidos, gente boa que lê Rosa como quem sempre encontra um dos melhores amigos. É livro para se ter, guardar com cuidado.

É bom dar a Rosa o que é dele. O fato de que cada uma dessas obras o focalize por um viés já é um sintoma de que mais livros sobre o mestre possam ser encontrados, e é preciso ficar atento, porque ensaio, por estas terras, costuma não passar de uma primeira edição.

 

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