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quinta-feira, 19 de março de 2020

CARNAVAL E CARNAVALIZAÇÃO: QUAIS AS DIFERENÇAS????

 
Profa. Dra. Angela Maria Rubel Fanini
UNIANDRADE
Bolsista de Produtividade em Pesquisa / CNPq

Este texto trata dos termos “carnaval” e “carnavalização”, a partir da obra do filósofo russo da linguagem Mikhail Bakthin (1985-1975), um dos mais lidos pensadores nas Letras, Educação e Comunicação. Sua obra dá sustentação para as diretrizes educacionais do MEC para o Ensino Básico e Fundamental. O filósofo trata de linguagem, história, filosofia, psicologia, economia e cultura, percebendo os fatos sociais no contexto em que ocorrem. O corpus preferido de Bakthin é o literário. Aí encontra um conjunto discursivo que estuda à luz do materialismo dialético, vinculando-se à tradição marxista. Vê a linguagem em suas condições de produção reais e como essa linguagem do cotidiano é trabalhada pelos escritores. A linguagem se torna discurso e está carregada de valores de seu tempo e lugar. Cada sujeito de discurso emite, não só palavras e frases, mas se posiciona pela sua fala e escrita perante o mundo e o outro, respondendo questões de sua época e as apreciando, depreciando, satirizando, enaltecendo etc.  O discurso não é neutro, mas ensopado de valores ideológicos. Bakhtin estuda a realidade, sendo um materialista. Após isso, investiga o discurso e como e em que condições os emissores elaboram a realidade econômica, política, social, cultural em palavras, dotando suas personagens de falas. Desse modo, o texto literário é uma resposta ao contexto. Na obra Cultura Popular na Idade Média: o contexto de François Rabelais, Bakhtin se debruça sobre o estudo do carnaval e da carnavalização. Entende a festa popular como meio de emancipação das classes populares. No período do carnaval, as hierarquias, os dogmas, a perspectiva monológica da vida são ridicularizadas. Com o advento da Revolução Industrial, as festas carnavalescas reduzem, pois o folião se transforma, cada vez mais, em trabalhador da indústria, sem tempo algum para o carnaval.  Entretanto, o espírito contestador, presente nessas festividades, migra para o interior dos textos literários, transformando-se em visão crítica da sociedade. Alguns escritores forjam suas obras a partir de uma perspectiva a que chama de “carnavalizada”. Desse modo, carnaval se refere ao real da existência, ou seja, as festas populares e a “carnavalização” indica um modo de os escritores verem o mundo, plasmando personagens e situações carnavalizadas. Há um enfraquecimento do carnaval na sua função contestatória das ruas, mas na literatura ocorre o contrário. Há um fortalecimento de uma visão crítica da sociedade por parte de vários literatos. No contexto brasileiro, o carnaval, sobretudo dos últimos anos, tem se fortalecido e demonstrado fôlego crítico em relação à política e aos valores conservadores.

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