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segunda-feira, 8 de abril de 2024

 SARAU LITERÁRIO ON-LINE

Verônica Daniel Kobs


Hoje é uma data festiva, porque marca a reinauguração do blog do Mestrado e do Doutorado em Teoria Literária da UNIANDRADE. Embora exista desde 2010, esta página ficou inativa por quatro anos. Assim como nós, que fomos obrigados a parar todas as atividades, quando fomos surpreendidos pela pandemia de covid-19, o blog teve as publicações interrompidas, em março de 2020. De lá pra cá, a maioria dos textos resistiu ao tempo. Entretanto, em alguns casos, as postagens não puderam ser recuperadas ou deixaram de apresentar as imagens.

Apesar disso, nós e o blog somos sobreviventes e, para comemorar este espírito resiliente, nada melhor do que um novo layout e um novo nome. Felizmente, este renascimento combinou com a nova gestão da coordenação do curso e, quando recebi essa incumbência, decidi que o blog seria prioridade, afinal, ele foi idealizado por mim, no ano de 2009. No passado, porém, ele era chamado apenas de “Blog do Mestrado”, mas agora escolhi um nome que combina com a literatura, a leitura e com as artes em geral.

Senhoras e senhores, blog Sarau Literário está on-line! E, para caracterizar esta nova fase, muitas mudanças foram feitas. O blog ganhou uma identidade, com perfil próprio, foto e até banner, o qual exibe a perfeita combinação entre tradição e inovação, respectivamente representadas pelo livro impresso e pela tela do computador. Quanto ao layout, resolvi investir no clássico contraste chiaroscuro. Além disso, os textos serão apresentados em uma letra maior e serão quase sempre curtos. A ideia é fazer publicações mais frequentes ― e isso exige textos menores...

Outro detalhe a ser levado em conta, a partir de hoje, é a padronização. Embora apresentem conteúdos bastante diversos, os ensaios, poemas ou resenhas vão adotar uma forma única, a exemplo do que pode ser visto nesta postagem. Quanto ao conteúdo e à tipologia textual, a proposta é diversificar, oferecendo a possibilidade de autoria também a alunos(as), incluindo os(as) egressos(as), e a outros(as) convidados(as) ilustres, além dos(as) professores(as), claro! Dessa forma, sempre haverá espaço para contos, entrevistas, relatos, minivídeos, podcasts e tudo mais que se relacionar à literatura e às outras artes. Afinal, essa é a função de um sarau (Fig. 1), não é mesmo? 


Este tipo de evento se popularizou no século XIX, principalmente entre grupos de aristocratas e burgueses e chegou ao Brasil em 1808, com D. João, seguindo os moldes dos salões franceses.  Eram realizados inicialmente no Rio de Janeiro, mas logo fazendeiros de São Paulo resolveram aderir e já na metade do século XIX saraus com literatura, música, champanhe e vinhos espalhavam-se pelas capitais brasileiras. (Revista Arara, 2024)

 

Figura 1: Quadro de Columbano Pinheiro (1880) que representa um sarau literário. Imagem disponível em: <https://riomemorias.com.br/memoria/saloes-cafes-e-saraus/>


O champanhe, o vinho ou o tradicional cafezinho fica a cargo de cada um de vocês... Já a arte, as reflexões sobre o ensino da literatura, os desafios enfrentados pela área de Letras e as novidades relacionadas às quatro linhas de pesquisa dos nossos programas sempre terão espaço garantido aqui!

Nosso objetivo, portanto, é semelhante ao do mecenas. Aliás, depois que o sarau foi trazido pelos portugueses e caiu no gosto dos brasileiros, a família Nabuco recebeu esse título, na segunda metade do século XIX, quando ficou conhecida por promover os mais requintados saraus da capital carioca. Contudo, depois de algumas décadas, os saraus não se restringiam mais à elite. Eles passaram a ser o entretenimento preferido, das famílias (Fig. 2), dos grupos de intelectuais e da sociedade em geral.

 

Figura 2: Representação de um sarau familiar. Imagem disponível em: <http://sarauoreencontro.blogspot.com/2015/03/origem-do-sarau.html>

 

Com o tempo, as festas, também conhecidas como serões, invadiram os espaços públicos e passaram a ser realizadas em cafés e confeitarias. Foi assim que locais como o Café do Braguinha, o Café Londres e as confeitarias Paschoal e Cavé conquistaram fama entre escritores, artistas e amantes das artes: “A mais famosa, porém, era a Confeitaria Colombo, que atravessou gerações tanto na corte de Pedro II como na República, e fez a passagem das gerações de Olavo Bilac para a de João do Rio” (Rio Memória, 2024).

Já no século XX, especificamente em 1922, os saraus ganharam novo impulso com a Semana de Arte Moderna. A partir de então, todo e qualquer sarau era “apresentado como libertário e agregador das diversas manifestações culturais brasileiras” (Revista Arara, 2024).

 

Nas décadas seguintes, cafés como o Vermelhinho, [...] restaurantes como a Taberna da Glória, o Lamas e bares como o Villarino seguiram como espaços em que a literatura e as outras artes se misturavam tardes e noites adentro. Eram locais em que era possível encontrar Drummond, Di Cavalcanti, Mario de Andrade, Djanira, Lucio Cardoso, João Cabral de Melo Neto, Iberê Camargo, Ferreira Gullar, Portinari, Vinícius de Moraes, Rubem Braga e muitos outros nomes das décadas de 1940 – às vezes, ao mesmo tempo.  (Rio Memórias, 2024)

 

Dando continuidade a esse instigante percurso cultural, os saraus não dominaram apenas os grandes centros, mas também as regiões próximas à praia. Nesse contexto, Alcazar, Mau Cheiro, Jangadeiro e Zeppelin fizeram história. Posteriormente, nas “décadas de 1960 e 1970, o Antonio’s, na rua Bartolomeu Mitre, foi um dos bares mais famosos da cidade, ao abrigar cronistas como Carlinhos de Oliveira e escritores como Antônio Callado” (Rio Memórias, 2024).

Embora o sarau nunca tenha desaparecido completamente, desde os anos 1980 ele se tornou menos frequente, mas, felizmente, o retorno aos bons tempos estava próximo... Logo no início do novo século, e do novo milênio, a cultura brasileira redescobriu o prazer dos serões artísticos. Arrisco dizer que a Internet e a Tecnologia Digital têm muito a ver com esse revival, afinal, o mundo on-line e o sarau coincidem em vários aspectos, porque valorizam a democratização e a confluência. Aliás, falando nisso, é importante destacar que, mesmo tendo nascido em berço de ouro, os saraus foram resgatados não pela elite, mas pela periferia. Sim! No Brasil, foram as escolas e os moradores dos bairros mais carentes que ressuscitaram essa prática cultural.

Compartilhando esse amor pela nossa História, pela pesquisa e por todas as artes, vamos nos encontrar aqui, semanalmente, para conhecer e comentar as publicações mais recentes. O Sarau Literário espera por você!


REFERÊNCIAS

REVISTA ARARA. Você sabe o que é sarau? Disponível em: <https://arararevista.com/voce-sabe-o-que-e-sarau/>. Acesso em: 19 mar. 2024.

RIO MEMÓRIAS. Salões, cafés e saraus. Disponível em: <https://riomemorias.com.br/memoria/saloes-cafes-e-saraus/>. Acesso em: 19 mar. 2024.

 

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Verônica Daniel Kobs: Pós-Doutorado em Literatura e Intermidialidade (UFPR). Professora e pesquisadora de Literatura e Tecnologia Digital. Coordenadora dos cursos de Mestrado e Doutorado em Teoria Literária da UNIANDRADE. Idealizadora do blog Sarau Literário.

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