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terça-feira, 24 de junho de 2025

PROFESSORA DA UNIANDRADE LANÇA CAPÍTULO SOBRE LITERATURA E TECNOLOGIA DIGITAL 


O​ capítulo​ intitulado “Textos mínimos, múltiplos e incomuns”, escrito pela professora e coordenadora Verônica Daniel Kobs, foi publicado no livro “Leituras intermidiáticas e intermidialidades narrativas”, que acaba de ser lançado​ pela Pontes Editora.

Para quem quiser ver o e-book completo, basta acessar o link:
O capítulo ​escrito pela professora Verônica começa na p. 231! 

Crédito da imagem: Pontes Editora.


Referências:

KOBS, Verônica D. Textos mínimos, múltiplos e incomuns. In: MATTOS, Cristine F. de; RIBAS, Maria C. C.; DINIZ, Thaïs F. N. (Orgs.). Leituras intermidiáticas e intermidialidades narrativas. Campinas: Pontes Editores, 2024, p. 231-252.



 FUI DESAFIADA POR UM LIVRO: MINHA EXPERIÊNCIA COM A MANDÍBULA DE CAIM

 

Mariana C. Paluch

 

Desde muito pequena, tive contato com a literatura. Ainda no maternal, minhas professoras da Educação Infantil já me apresentavam livros e histórias, e esse hábito foi sendo alimentado ao longo dos anos com o apoio da minha família. A leitura, para mim, sempre foi um lugar de prazer, descoberta e imaginação.

 

Hoje em dia, leio em média 20 livros por ano, a maioria envolvendo suspense e fantasia, que são meus gêneros preferidos. E foi em uma das minhas buscas por algo novo e desafiador que descobri A Mandíbula de Caim. Vi comentários curiosos sobre o livro no booktok e fiquei intrigada com a proposta. Assim que entendi do que se tratava, não resisti: precisei conferir por mim mesma.

 

A Mandíbula de Caim não é um livro comum. Ele propõe um verdadeiro quebra-cabeça literário. As páginas não estão em ordem cronológica, e o leitor precisa descobrir qual é a sequência correta da história. Além disso, há seis assassinatos ao longo da narrativa, e nosso papel é descobrir quem foram as vítimas e quem são os assassinos. Ou seja, você não apenas lê a história — você a investiga e a reconstrói. 

 

Crédito da Imagem: A Mandíbula de Caim, Livrarias Curitiba. Disponível em: <https://www.livrariascuritiba.com.br/a-mandibula-de-caim-lv495692/p>. Acesso em: 10 junho 2025.

           

A leitura exige atenção, paciência e uma boa dose de raciocínio lógico. O texto é sofisticado, com vocabulário rico e muitas figuras de linguagem. Há poucos diálogos, pode-se dizer que não há nenhum, o que torna a experiência ainda mais intensa, pois cada frase pode esconder uma pista. Em alguns momentos me senti desafiada como nunca antes em uma leitura — e adorei isso!

 

Se você gosta de mistérios, enigmas, e livros que exigem participação ativa do leitor, recomendo fortemente A Mandíbula de Caim. Mais do que uma história, ele é uma experiência que mexe com a mente e aguça a curiosidade. Estou completamente envolvida com esse enigma literário — e você, será que consegue resolvê-lo?

 

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Mariana C. Paluch: é estudante do 3º ano do Ensino Médio profissionalizante em Administração, no Colégio Estadual Cívico Militar Professor Julio Mesquita. Escritora de fanfics de terror e fantasia.

terça-feira, 17 de junho de 2025

ALUNO E PROFESSORA DA UNIANDRADE VÃO MINISTRAR MINICURSO DE PSICOLOGIA NARRATIVA NO XXII CONAELL DA UNEMAT 


O doutorando Thales Vianna Coutinho e a professora Verônica Daniel Kobs vão ministrar um minicurso de Psicologia Narrativa na UNEMAT. A atividade será ofertada no período de 23 a 25 de setembro de 2025, no evento promovido pela IES de Sinop. A notícia da aprovação do minicurso foi divulgada nos últimos dias.

Confira abaixo os detalhes do minicurso e faça sua inscrição no evento para poder participar do minicurso de Psicologia Narrativa e de outras atividades que serão ofertadas no Colóquio. 











Crédito das imagens: Verônica Daniel Kobs, com o aplicativo Canva.


quarta-feira, 11 de junho de 2025

 

MINHAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A DEFESA DE TESE

 

Ana Lúcia Corrêa Darú

 

Crédito da imagem: https://pupil.coractium.com/

 

O mestrado nos habilita para o doutorado. É como se nos adaptássemos ao modo de ver e de escrever sobre um objeto de pesquisa. Nesse processo, aprendemos sobre a escrita acadêmica e as leituras destinadas a fundamentar nossa travessia de aprendizagem. Já no doutorado há um maior aprofundamento em relação à pesquisa. Há mais tempo e espaço para elaborações mais específicas e detalhadas. Nesse trajeto, que dura quatro anos, há os créditos de disciplina, os seminários, as atividades docentes, a escrita de artigos e textos. Há livros e mais livros que nos municiam e vão configurando nosso estudo. A escrita acadêmica já está inserida em nossa prática e agora somos mais habilitados para muitas incursões escritas. Vai surgindo a tese. Um texto que construímos, desconstruímos, reconstruímos e chegamos a algo muito importante: os momentos de nos depararmos com a experiência e mediação dos orientadores. Mais leituras, mais descobertas até que chega a qualificação. Um momento de colocarmos nossa escrita à prova. E saímos da qualificação com mais certezas e grandes sugestões. Mais um tempo com a tese. Novas elaborações. E chega o dia da defesa da tese: algo que aguardamos por quatro longos anos. Algo que nos desafia sobremaneira. A defesa deve conter uma apresentação, um roteiro em que passamos à banca um resumo de nossa pesquisa, o encaminhamento e as considerações finais às que chegamos. A defesa é ao mesmo tempo uma demonstração do nosso objeto de pesquisa e de nossas, ‘tão nossas’, elaborações, descobertas, conclusões. É um exercício de se lapidar as frases para que elas contenham o máximo, no menor tempo. Temos meia-hora para mostrar o que pesquisamos em anos. Ao término de nossa apresentação, a banca se desdobra para nos fazer considerações, perguntas, elogios, sugestões ou novos encaminhamentos. Cada professor da banca tem meia-hora. Nesse tempo, há algo que nos fascina: somos os maiores conhecedores da nossa pesquisa, estamos prontos para as perguntas, estamos prontos para defender nosso ponto de vista, nossas descobertas. Ao final, há uma espécie de realização interna, uma satisfação, uma gratificação pessoal. Nós choramos, não porque estamos ali, mas porque chegamos até ali. Não desistimos no meio do caminho. Conseguimos vencer nossas limitações e vivenciar esse dia, essa emoção. O sentimento de dever cumprido, de orgulho pela perseverança. Uma satisfação ímpar. Novas etapas, estudos e aprendizagens virão, mas a defesa da tese é sempre o nosso momento de aplauso interno. De realização pessoal muito gratificante.  

 

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Ana Lúcia Corrêa Darú é Mestre e Doutora em Teoria Literária pela UNIANDRADE. Sob orientação do professor Marcelo Alcaraz, ela defendeu sua tese em fevereiro de 2025.


terça-feira, 3 de junho de 2025

CURIOSIDADES DA PLATAFORMA SUCUPIRA 


Fonte da imagem: https://pt.dreamstime.com/


Ano após ano, nossos Programas de Mestrado e Doutorado dão sinais claros de crescimento e o objetivo desta postagem é registrar essa evolução:

- Em 2022, o relatório anual totalizou 626 páginas e registrou 412 produções intelectuais. Em 2023, foram 898 páginas e 433 produções. Em 2024, os números subiram, e muito: 1.102 páginas e 581 produções!

- Ao fim de cada quadriênio, é preciso atualizar a “Proposta”, um relatório que atualmente conta com 12 itens e vários subitens. Em 2020, essa parte totalizou 199 páginas. Porém, em 2024, alcançamos impressionantes 294 páginas!

- Outra marca significativa é esta: no item “Participantes externos”, saímos do número 31, em 2023, para 59, em 2024.

- No que se refere às redes sociais dos Programas, em 2023 o blog não teve nenhuma publicação. Felizmente, em 2024, depois que assumi a coordenação e reativei o blog, alcançamos a marca de 39 postagens ao longo do ano.

- No Instagram não foi diferente! Em fevereiro de 2024, essa página reunia apenas 21 publicações, relacionadas os anos de 2022 e 2023, e contava com 60 e poucos seguidores. Fechamos o ano de 2024 com boas novidades: 75 novas postagens e um total de 130 seguidores. Esse número, aliás, está em franca ascensão. Em abril de 2025, já são 161 pessoas seguindo nossa página.

- Em abril, todos os coordenadores tiveram que trabalhar na indicação dos Destaques do quadriênio. Pois bem... Nesse quesito, nossos números foram estes:

1) Produção técnica: 83 destaques.

2) Artigos: 43 destaques.

3) Produção docente (livros, capítulos e artigos): 45 destaques.

4) Egressos: 15 destaques.

5) Ciclo avaliativo: 10 destaques.

Fazendo uma conta rápida, ao todo foram indicados 196 destaques. Entretanto, não basta indicar. É preciso justificar cada escolha, utilizando o limite máximo de 4 mil caracteres com espaço. Considerando cerca de 2 mil caracteres por indicação, isso nos leva a um montante de texto bastante considerável: cerca de 400 mil caracteres ao todo!

Se nossos números falassem, talvez dissessem: "Não somos muitos, mas somos consistentes." 


Fontes dos dados publicados neste texto:

terça-feira, 27 de maio de 2025

FALAR DE MIM SEM DIZER QUEM SOU EU


Patrícia Fiori Manfré

 

Crédito da Imagem: OPENAI. Imagem gerada por inteligência artificial com base em poema autoral de Patrícia Fiori Manfré. ChatGPT e DALL·E. 14 maio 2025.


Viver e amar

Por que, por quem

Ser e estar

Aqui, onde, não sei.

 

Saber e ensinar

O que, a quem

Ler e interpretar,

O mundo, a vida, alguém.

 

Mesmo sendo por mim, não busco felicidade

Procuro no dia a dia apenas simplicidade.

Vejo com os olhos um mundo diferente

Com o coração sinto-me quente.

 

Pular e brincar

Sozinha, com você

Descer e subir

Na vida, no amor, no ser.

 

Ler e aprender

Sobre mim, sobre o mundo

Correr e sumir

Das pessoas, do dia, de tudo.

 

Meu sim às vezes é não, e meu não às vezes é sim

Pois sou um mar de vontades sem fim.

Escalando as paredes da minha mente, não vejo saída

Mas não para de buscar algo da vida.

 

Encontrar e achar

Motivos, desculpas

Dar e receber

Presentes, ausências, pelúcias.

 

Falar e agradecer

Por muito, por pouco

Crescer e emudecer

O que há em mim, um luto, um louco.

 

Ao andar por aí, com ou sem rumo.

Eu busco e encontro o meu prumo

De uma vida abundante

Com crises de lucidez constante.

 

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Patrícia Fiori Manfré é doutoranda em Teoria Literária pela UNIANDRADE, sob orientação da professora Verônica Daniel Kobs. Atualmente, é professora na Rede de Ensino do Município de Curitiba.

 

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Comentários recebidos:


Em ter., 27 de mai. de 2025 às 15:52, Claudinei Duarte de Lima escreveu:

Título já é interessante por si... "Só o título já vale o poema"... os versos reforçam o tesouro dessa bela poesia...
Parabéns colega... 
Assim me arrisco e rabisco um pequeno ensaio "poemático"... 

Poematize... 
Poesia que renova, recria
Com rima ou sem rima
"poetimazando"
"Poematizando"
Sei lá o quê
Como e quando
Só sei que nesse não saber
A poesia nos faz renascer
Com ou sem sentido
É ela capaz de nos mover
Útil, inútil,
O que importa?
Ciranda de palavras
Emoções, sentimentos,
Palavras jogadas ao vento,
Como sementes no solo fértil
da imaginação, ou 
até mesmo na areia desértica da solidão
Sopra a brisa de uma inspiração,
ou o silêncio que grita no meio da multidão...
Clichê, cordel, prosa, poesia
Nenhum adjetivo quiçá seja capaz de te definir...
Simples, complexo como o existir!!!
Poematize sempre...afinal poematizar é eternizar o momento...

Claudinei Duarte de Lima
Mestrando

segunda-feira, 19 de maio de 2025

ALUNOS E PROFESSORES DA UNIANDRADE PUBLICAM TRABALHOS NOS ANAIS DA FUST UNIVERSITY



As publicações consolidam a participação do Mestrado e do Doutorado da Uniandrade no SIET-DH, promovido pela IES parceira, em dezembro de 2024.

Acesse o link para ver a publicação completa:

https://antropuseducacional.com.br/wp-content/uploads/2025/05/SIETH-2024-Completo-.pdf

Agradecemos à FUST e à Editora Antropus, por mais esse incentivo ao diálogo e à promoção do conhecimento e da pesquisa acadêmica.


terça-feira, 13 de maio de 2025

 MESTRADO E DOUTORADO EM TEORIA LITERÁRIA DA UNIANDRADE MARCAM PRESENÇA NO CINE-FÓRUM 2025  



Crédito da imagem: https://www.facebook.com/coletivocinef0rum/. Imagem posteriormente editada com recursos do Canva AI Editor.

 

De 13 a 16 de maio será realizada a 5ª edição do Cine-Fórum, que contará com a trabalhos desenvolvidos por alunos e professores de nossos programas. Confira, a seguir, os temas e discussões que serão pauta, no evento desta semana:

 

1) OS ZUMBIS COMO METÁFORA EM NIGHT OF MINI DEAD (LOVE, DEATH & ROBOTS, T03E04)

Autores: Thales Vianna Coutinho (doutorando da UNIANDRADE) e Verônica Daniel Kobs (professora da UNIANDRADE)

 

RESUMO: Atualmente, os zumbis são uma das figuras mais recorrentes na cultura popular e frequentemente são utilizados como metáforas para questões sociais, políticas e de saúde. Argumenta-se que a evolução do horror zumbi reflete medos coletivos, destacando como os monstros da ficção funcionam como expressões bioculturais das ansiedades humanas. O zumbi, nesse contexto, torna-se um espelho de nossa fragilidade diante de ameaças biológicas e institucionais. Objetivo: Com base nesses pressupostos, analisamos o episódio Night of Mini Dead (T03E04), da série Love, Death & Robots à luz dessa perspectiva metafórica. O episódio subverte a narrativa tradicional dos filmes de zumbi ao apresentar um surto apocalíptico em um formato acelerado e satírico. A velocidade com que os zumbis se espalham e destroem a sociedade ilustra a rapidez e imprevisibilidade de uma pandemia. Resultado: Elementos como o caos social imediato, a destruição de espaços públicos (incluindo escolas) e a resposta política desarticulada apontam para uma crítica à ineficácia governamental diante de crises sanitárias. A decisão final dos líderes mundiais de recorrer a soluções bélicas ressoa com os desafios enfrentados durante a pandemia da covid-19. Considerações: o episódio pode ser compreendido como uma metáfora da crise pandêmica recente, reforçando como a irracionalidade, a falta de planejamento e a inabilidade política agravam a propagação de ameaças globais. Ao adotar um tom cômico e acelerado, o enredo ressalta a natureza absurda das respostas institucionais ao caos, evidenciando a vulnerabilidade das estruturas sociais diante de eventos de grande escala.

 

 

2) PERSPECTIVA BÍBLICA E PRODUÇÃO DE PRESENÇA EM “ANA TERRA”, DE ERICO VERISSIMO

Autoras: Ligia Fernanda Giorgia de Oliveira Klein (mestranda da UNIANDRADE) e Greicy Pinto Bellin (professora da UNIANDRADE)

 

RESUMO: A intersecção entre textos sagrados e obras literárias tem sido objeto de crescente interesse nos estudos literários, como demonstram os trabalhos de Northrop Frye (2004) e Robert Alter (2007). Esse diálogo abre espaço para análises intertextuais que revelam como a literatura se apropria de elementos bíblicos para a construção de sentido. Este resumo apresenta a pesquisa de mestrado que investiga a relação na obra “Ana Terra”, de Erico Verissimo, considerando as intertextualidades com o livro de Rute e “Provérbios 31”. O estudo fundamenta-se nas teorias da intertextualidade de Bakhtin (1929), Kristeva (1979) e Barthes (1979), bem como, na produção de presença e Stimmung propostas por Hans Ulrich Gumbrecht (2014). A trajetória de “Ana Terra”, marcada pela luta e resiliência, ecoa a narrativa de Rute, que também enfrenta desafios e transforma sua realidade por meio da coragem e da determinação. Do mesmo modo, a representação feminina em “Ana Terra” se aproxima da mulher virtuosa de “Provérbios 31”, cujas qualidades de força e trabalho refletem a identidade da protagonista. Essas intertextualidades contribuem para a construção da identidade cultural e simbólica da personagem, inserindo-a em um contexto de tradição e ancestralidade. A teoria da produção de presença de Gumbrecht permite compreender como a materialidade do texto e a ambiência evocada na narrativa de Verissimo afetam o leitor de maneira sensorial. Elementos como a paisagem, as descrições corpóreas e a violência experienciada por Ana criam um impacto emocional que ultrapassa a simples interpretação hermenêutica, favorecendo uma experiência imersiva. A atmosfera emocional, ou Stimmung, que permeia a obra intensifica a conexão entre texto e leitor, promovendo um envolvimento que ressoa com questões de identidade, ancestralidade e territorialidade. Além disso, a abordagem intertextual possibilita uma leitura que transcende os limites do texto literário, revelando a influência da tradição bíblica na literatura brasileira contemporânea. Ao destacar os diálogos entre “Ana Terra” e as Escrituras, esta pesquisa amplia a compreensão da narrativa e reforça a relevância do romance de Verissimo na construção de uma literatura que articula memória, cultura e experiência histórica. Assim, essa pesquisa de mestrado não apenas analisa os aspectos literários e intertextuais, mas também explora as dimensões sensoriais da leitura, enfatizando como a literatura pode ser vivenciada de maneira tangível e afetiva pelo leitor.

 

 

3) COGNITIVAMENTE INADAPTÁVEL: O CASO DE “A COR QUE VEIO DO ESPAÇO” DE H. P. LOVECRAFT

Autor: Thales Vianna Coutinho (doutorando da UNIANDRADE)

 

RESUMO:  The Colour Out of Space (“A Cor que veio do Espaço”) é um conto do escritor norte-americano H. P. Lovecraft, publicado em 1927, que encapsula a filosofia lovecraftiana do desconhecido e do incognoscível, característica nuclear do horror cósmico (Dzienkonski, 2023). No original, a cor é descrita como: "A cor, que lembrava algumas das faixas do estranho espectro do meteoro, era quase impossível de descrever; e era somente por analogia que eles a chamavam de cor". Ao longo das décadas, foi adaptada para o cinema em diferentes ocasiões. A saber: "Die, Monster, Die!" (1965), "The Curse" (1987), "Colour from the Dark" (2008), "Die Farbe" (2010) e "Color Out of Space" (2019). No entanto, todas as adaptações cinematográficas de The Colour Out of Space apresentaram desafios em traduzir a incompreensibilidade cósmica de Lovecraft para a linguagem visual (Basu & Ray, 2023). O objetivo desse trabalho foi tecer uma argumentação de psicologia teórica para explicar as dificuldades significativas e reiteradas enfrentadas pelas tentativas de adaptar o conto de Lovecraft para o cinema. Para isso, realizou-se uma revisão narrativa da literatura, buscando por artigos que tratassem dos limites perceptuais e cognitivos da imaginação. É possível conceber pontos de vista radicalmente diferentes do humano? (Elson, 2024). Malik (2015) explorou os limites da imaginação humana e argumentou que, embora pensemos ser capazes de imaginar o impossível, o que realmente fazemos é reinterpretar conceitos conhecidos. Ainda, ao analisar a natureza de um conteúdo perceptivo e das imagens mentais, verificou-se que ambos compartilham características fundamentais (Nanay, 2015). Já McCarroll (2022) investigou as relações entre memória e imaginação, argumentando que ambas são centrais para a construção da realidade subjetiva. Portanto, à luz dessas evidências, é possível argumentar que a razão pela qual as adaptações cinematográficas do conto de Lovecraft inspiram críticas negativas é que estamos diante de uma obra inadaptável, tendo em vista que sua descrição desafia a nossa estrutura cognitiva capaz de imaginar visualmente algo.

 

 

4) E O OSCAR VAI PARA... ANNE HATHAWAY: O EFEITO DA DECISÃO DO DIRETOR PELO USO DE CLOSE-UP SOBRE O ENGAJAMENTO EMOCIONAL DIANTE DAS CENAS DE "OS MISERÁVEIS" (2012)

Autor: Thales Vianna Coutinho (doutorando da UNIANDRADE)

 

RESUMO: A psicologia da mídia sugere que planos em close-up intensificam a empatia dos espectadores com os personagens, ampliando a percepção de suas emoções e estados mentais. Estudos recentes apontam que essa técnica cinematográfica facilita a teoria da mente e aprofunda a imersão na narrativa. Este trabalho analisa o uso dessa estratégia no filme Os Miseráveis (2012), com foco na cena em que Anne Hathaway interpreta I Dreamed a Dream, performance que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. A decisão do diretor Tom Hooper de utilizar um close-up de rosto na atriz contribuiu para maximizar a conexão emocional com o público, tornando a sequência um dos momentos mais emblemáticos do filme. No caso de Hathaway, a escolha estética destacou cada nuance de dor e resignação da personagem Fantine, amplificando seu apelo dramático. No entanto, apesar de sua contribuição estética e emocional decisiva para o sucesso da cena, em um momento histórico em que a própria literatura científica da psicologia não demonstrava esse efeito, o Oscar de 2012 foi injusto ao não indicar Tom Hooper na categoria de Melhor Diretor. Sua direção refinada, antecipando os achados científicos, foi determinante para a construção de uma das performances mais impactantes da década. Esta análise reafirma o papel central da linguagem visual na recepção afetiva e no reconhecimento crítico de atuações cinematográficas.

 

 

sexta-feira, 9 de maio de 2025

11 DE MAIO — DIA DAS MÃES


No dia 11 de maio, a Pós-Graduação em Teoria Literária da UNIANDRADE homenageia todas as mães!




segunda-feira, 5 de maio de 2025

COMPARTILHANDO A EMOÇÃO DA DEFESA

 

Tatiana Alves Pinheiro

 

Crédito da imagem: https://depositphotos.com/

 

A experiência de defender minha dissertação de mestrado na Uniandrade foi um marco importante na minha trajetória acadêmica e pessoal. Meu trabalho, intitulado A violência atávica contra a mulher negra em Olhos d'água e Insubmissas lágrimas de mulheres de Conceição Evaristo, abordou temas sensíveis e profundos, o que tornou o processo tanto desafiador quanto enriquecedor.

Um elemento fundamental nessa jornada foi a orientação da professora Mail, sua orientação foi essencial para o desenvolvimento e amadurecimento da minha pesquisa. A dedicação, expertise e apoio da professora Mail não só guiaram meu trabalho, como também me deram a confiança necessária para enfrentar os desafios acadêmicos com coragem. Sua sensibilidade ao tratar temas delicados e sua habilidade em direcionar meu olhar crítico foram decisivas para o sucesso do trabalho.

Durante a defesa, percebi a importância de estar bem preparada, em relação ao conteúdo e também em manter a calma e a segurança para responder às perguntas da banca. A expectativa e o nervosismo são naturais, mas a chave é confiar na pesquisa que você realizou e no conhecimento adquirido ao longo do processo. Para mim, um aspecto crucial foi a clareza na comunicação das ideias, especialmente ao tratar de temas complexos como a violência e o racismo, que exigem sensibilidade e precisão.

A banca foi extremamente respeitosa e construtiva, proporcionando um espaço para aprofundar discussões e receber feedbacks valiosos que enriqueceram ainda mais o trabalho. O apoio dos familiares e professores durante essa fase também foi essencial, mostrando que a jornada acadêmica é construída coletivamente.

Para aqueles que estão prestes a passar pela defesa, meu conselho é: abracem o processo com comprometimento, confiança e coragem. É uma oportunidade única de compartilhar sua pesquisa, aprender com especialistas e dar um passo significativo na sua carreira acadêmica.

 

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Tatiana Alves Pinheiro é Mestre em Teoria Literária pela UNIANDRADE. Sob orientação da professora Mail Marques de Azevedo, ela defendeu sua dissertação em fevereiro de 2025.

 


quarta-feira, 30 de abril de 2025

 CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO DA REVISTA SCRIPTA UNIANDRADE V. 23, N.1 (2025)





Eixo temático: Brasil em destaque: A Literatura Brasileira do século XX

Submissão: Até 30 de maio de 2025

Saiba mais em:

segunda-feira, 28 de abril de 2025

O RECIFE EM TRINTA COPOS: LITERATURA, MEMÓRIA E FILOSOFIA NOS POEMAS DE  WASHINGTON MARTINS


Verônica Daniel Kobs

 

No fim de 2024, quando o professor Washington Martins me presenteou com um exemplar de 30 Copos para Carlos Pena Filho, já na primeira olhada percebi coisas que me encantaram. Os quartetos e os versos heptassílabos se sobressaem e, na Teoria Literária, isso sinaliza uma perfeita combinação entre forma e conteúdo, no que se refere ao simples e ao popular. No projeto do autor, esses aspectos se consolidam na ideia de apresentar a Filosofia em forma de versos e na homenagem à cultura que se dissemina nos bares — espaços indiferentes à formalidade e imersos no cotidiano. Na história dos saraus, eles tiveram importância determinante, quando as discussões passaram das casas de algumas famílias abastadas para os espaços públicos.

Além disso, não pude deixar de notar as aves voando, na parte superior de cada página. Todas estão em curso, desde a primeira página até a última, acentuando o devir que caracteriza cada memória e cada poema. Inspirada por essas impressões, iniciei a leitura, determinada a revisitar as múltiplas relações entre a literatura e os espaços urbanos, sob o efeito da densidade lírica contida em cada página. Tratava-se de um convite para refletir sobre a importância da cidade — não apenas o Recife das ruas e esquinas, mas o Recife simbólico que habita a memória, o afeto e a poesia.

Nesse contexto, o autor transforma o Bar Savoy e seus frequentadores em emblemas da identidade cultural urbana reafirmando minha convicção de que os lugares que habitamos também nos habitam. Portanto, esta resenha tem como objetivo reconhecer e valorizar a cartografia afetiva que Washington Martins cuidadosamente traça, na esperança de que minha leitura possa fazer jus ao seu tino poético e aos seus 30 brindes literários. 

 

Capa do livro de Washington Martins. Crédito da imagem: Carlos Teixeira/DP/DA Press.

  

Washington Luiz Martins, autor do livro 30 Copos para Carlos Pena Filho. Crédito da imagem: https://www.instagram.com/fustuniversity/reel/DGTlvU-PGK1/

 

O livro estrutura-se em torno do poema “Chopp”, de Pena Filho (1929-1960), que serve como “Termo de Abertura” e como inspiração para os 30 poemas — os chamados chopes. Carlos Pena Filho (1929-1960) é um dos poetas pernambucanos mais importantes da segunda metade do século XX, juntamente com João Cabral de Melo Neto. Elogiado por seus compatriotas, Gilberto Freyre considerava-o um “artista pictórico”, porque seus poemas sempre enalteciam as cores. Inclusive, Pena Filho entrou para a História da Literatura com a alcunha de “O Poeta do Azul”. Outro pernambucano ilustre que enaltecia a obra de Pena Filho era Manuel Bandeira, um dos fundadores do Modernismo: "Escrevo esse nome, e estou certo de que o inscrevo na eternidade. Pois me parece impossível que as presentes e as futuras gerações esqueçam o poeta encantador, tão cedo e tão tragicamente desaparecido" (Vermelho.Org, 2010).

 

Carlos Pena Filho, o “Poeta do Azul”. Crédito da imagem: https://vermelho.org.br/2010/12/01/carlos-pena-filho-o-poeta-do-azul-inscrito-na-eternidade/

 

Na obra de Martins, cada chope é um brinde reflexivo e simbólico, uma pequena crônica poética que mistura crítica cultural, memória pessoal e homenagem literária. A forma fragmentária e ritmada da obra remete ao ritual boêmio de reunir-se para beber e conversar — mas aqui, a bebida é a palavra e a embriaguez é o afeto pela cidade.

 

Literatura como Ritual e Resistência

No entrelugar da Poesia e da Filosofia, entre a mesa de bar e a cátedra acadêmica, 30 Copos para Carlos Pena Filho ergue-se como um brinde à cidade, à palavra e à memória. Concebida como separata comemorativa do nonagésimo segundo aniversário de nascimento de Carlos Pena Filho, a obra de Washington Martins (2021) é, ao mesmo tempo, uma antologia temática, um roteiro afetivo-cultural do Recife e um ensaio literário performático.

 

Lá pela década de 70

No Savoy muito vivi.

Eu era a resistência

Pra não deixá-lo sumir.

 

Porque lá quando ficava

Algo me anunciava

Que um dia ia partir. (Martins, 2021, p. 209)

 

Como se vê, para além da homenagem, o livro articula um discurso de resistência memorial e uma poética da saudade, onde o espaço urbano torna-se metáfora da existência.

 

O Recife como Palimpsesto Poético

Desde Baudelaire, a poesia urbana tem sido um campo de tensão entre a memória e a modernidade. Em 30 Copos para Carlos Pena Filho, Washington Martins retoma essa tradição e a enraíza no contexto recifense, mais especificamente no território simbólico do Bar Savoy. Organizada em 30 fragmentos, ou em 30 chopes, a obra constrói uma história-mosaico — que rememora, reinterpreta e reencena o poema de Carlos Pena Filho, como se cada brinde poético de Martins fosse um novo gole da memória coletiva.

Evidentemente, essa estrutura é um jogo com o gênero lírico, em sua vertente fragmentária e evocativa. Como aponta Octavio Paz (1994), o poema é uma forma que se alimenta da descontinuidade para criar unidade). Martins utiliza o fragmento não como quebra, mas como unidade poética — e cada chope oferece um instante de meditação sobre a cidade, o tempo, a boemia e a Filosofia.

O cenário principal da obra é o Bar Savoy, que extrapola sua existência física para tornar-se metáfora da intelectualidade recifense, especialmente a partir dos anos 1950. Carlos Pena Filho, cujos versos são repetidos como refrão, torna-se figura tutelar de um Recife sonhado, frustrado e eternamente evocativo.

Martins reconstrói esse Recife como se a cidade fosse um palimpsesto, no qual as camadas do tempo — geográficas, políticas e subjetivas — aparecem sobrepostas. É assim que o autor ativa uma memória afetiva que mescla realidade e mito, criando um espaço literário onde a cidade é tanto objeto quanto sujeito da história. Em alguns chopes, como em “Memorial Recifense”, “Bar Savoy”, “Chuva no Savoy” e “Guararapes em Movimento”, a cidade é vista como um organismo vivo, em constante ruína e reinvenção:

 

A maioria corre pelo dinheiro

E os passarinhos enlouquecem no viveiro.

Automóveis aumentam a combustão

E a poeira adentra sem permissão. (Martins, 2021, p. 196)

  

O Voo da Memória: Aves, Liberdade e Tempo Suspenso

Logo nas primeiras páginas do livro, uma imagem de aves em pleno voo domina o cabeçalho. A iconografia é significativa: as aves são, tradicionalmente, símbolos de liberdade, leveza e travessia. Nesse contexto, elas evocam uma liberdade suspensa — um desejo de movimento em meio ao tempo da paralisação. 

Cabeçalho do livro de Washington Martins. Crédito da imagem: Martins, 2021. Foto de Verônica Daniel Kobs.

 

O voo dos pássaros pode ser lido como uma representação da memória e da poesia, já que ambas têm a capacidade de ultrapassar o tempo presente e se projetar tanto para o passado quanto para o futuro. Assim como as aves cruzam os céus, a literatura de Martins sobrevoa as ruínas da cidade, os bares fechados, os amigos ausentes. Esse gesto de suspensão — de planar sobre os escombros — é também o gesto do livro: tentar tocar, mesmo que de longe, uma vida que já não é mais acessível, mas que continua existindo no plano da imaginação. Saudades...

 

Copos Vazios, Mesas Ausentes:  A Escrita Literária em Tempos de Solidão

O livro foi escrito e publicado em 2021, em plena pandemia de covid-19 — um tempo de reclusão, medo, incerteza e múltiplas perdas. Ao se inscrever nesse contexto, a obra ganha uma nova camada interpretativa, tornando-se uma espécie de antídoto contra o isolamento. Uma forma de sobreviver espiritualmente à ausência do convívio social.

Naquele momento, em que todos os bares estavam fechados, com mesas vazias e copos empoeirados, 30 Copos para Carlos Pena Filho oferecia ao leitor um bar etéreo, porém ainda vivo na memória do eu lírico, onde a conversa, a poesia e a cidade ainda existiam de modo pleno:

 

As prateleiras expostas

Mostram os caminhos a seguir.

 

Em cima da geladeira,

São Jorge no cavalo,

Cercado por misticismos,

Encabeça a proteção

De todos que ali vão.

 

[...]

 

No balcão os cotovelos

Enfileirados, solitários

Esperam ligeiramente

A atenção do “bodegário”. (Martins, 2021, p. 75, grifo no original)

 

O livro, portanto, configura-se como um ato de  resistência contra a perda de vínculos, e contra a dissolução da experiência coletiva. Ele resgata a importância da memória compartilhada, das conversas interrompidas, do tempo desacelerado das amizades — valores que se tornaram ainda mais preciosos durante o isolamento social.

A revalorização da cidade, da rotina e da vida comum, que atravessa toda a obra, dialoga com a constatação de que o cotidiano — antes invisível — é o verdadeiro palco da existência. Ao lançar mão de um cenário como o Bar Savoy, símbolo de um Recife intelectual e afetivo, Martins reinventa esse espaço como arquétipo do encontro humano.

 

Estética Fragmentária e Ritmo da Oralidade

A estrutura episódica dos 30 chopes não é arbitrária. Ela dialoga com a tradição das crônicas de bar, com a poesia de cordel e com os sermões filosóficos – tudo isso atravessado por uma linguagem que se equilibra entre o erudito e o coloquial. O estilo de Martins caracteriza-se pelo afeto e pela lembrança: nomes como Ismael Ferner, Escola do Recife, Patativa do Assaré e Jean Pierre não aparecem apenas como citações, mas como convivas de mais uma rodada.

A oralidade atravessa a escrita: os textos são marcados por perguntas retóricas, interpelações ao leitor, digressões e interjeições — compondo um fluxo de pensamento que simula o ambiente da conversa entre amigos. Contudo, há método nesse improviso: por trás da aparência casual dos chopes, esconde-se uma arquitetura cuidadosa de temas, que vão do amor frustrado à crítica política; da morte à Filosofia; do urbano ao etéreo.

Além disso, Washington Martins adota um estilo marcado pela musicalidade, que se alinha perfeitamente à teoria do verso. O ritmo — compreendido como a relação entre unidades sonoras e acentuais — aparece não apenas no texto propriamente dito, mas também na cadência da prosa poética que marca cada chope. O autor alterna versos longos, quase litúrgicos, com frases incisivas, criando um efeito de fala embriagada, porém lúcida.

 

Acabei de apresentar

Escrito só de memória

A terra do Bar Savoy:

Recife com sua história. (Martins, 2021, p. 72)

 

Esse trecho ilustra bem a musicalidade interna do texto, construída por aliterações e assonâncias. Já, no plano das representações, acumulam-se metáforas e metonímias, por meio da figuração do bar e da cidade como sujeitos sensíveis. Visíveis e concretos no passado; porém, ausentes e abstratos no presente. Sendo assim, a poesia realiza-se nos planos fonológico e semântico, confirmando a visão de Henri Meschonnic (2006) de que o ritmo é o sentido do sentido.

Nos poemas narrativos de Washington Martins, percebe-se um uso constante do paralelismo, da repetição e do contraste. O livro é, portanto, atravessado por uma musicalidade discursiva, como diria Ezra Pound (2006), na qual o som das palavras e a memória dos gestos se entrelaçam.

 

Carlos Pena Filho como Totem e Interlocutor

A figura de Carlos Pena Filho não é apenas um ponto de partida. É também o elemento que agrega os 30 copos. Ao citar e revisitar o poema “Chopp”, Martins presta tributo e se inscreve numa linhagem de escritores que dialogam com o passado para recompor a identidade do presente. O refrão do poema original — “São trinta copos de chopp, / são trinta homens sentados, / trezentos desejos presos, / trinta mil sonhos frustrados” (Martins, 2021, p. 31) — é retomado não apenas literalmente, mas como estrutura metafórica do livro.

 

Havia alguns sentados

Se foi o tempo de Carlos:

Sentar sem mais refletir. (Martins, 2021, p. 209, grifo no original)

 

Ao evocar Carlos Pena Filho, Martins não apenas o homenageia, mas também o transforma em interlocutor e símbolo. O poeta torna-se uma espécie de espírito do Recife, representante de uma sensibilidade que mistura melancolia e ironia, engajamento e lirismo. O gesto de Martins é também um gesto de luto: a cidade, o Bar e a época que ele rememora já não existem, ou resistem, em ruínas — e a figura de Pena Filho é, simultaneamente, âncora e ausência. O Poeta do Azul não se dissolve, mas se transforma em essência — tal como o vinho que repousa e adquire mais sabor com o tempo.

Nos últimos copos, especialmente em “Inventário”, “Tristeza”, “Poesia” e “Fim de Noite”, o tom torna-se mais sombrio e contemplativo, encerrando o livro com uma sensação de esgotamento que indica também plenitude. Trata-se, afinal, de uma celebração que conhece a finitude do tempo, como um copo que, ao esvaziar-se, revela sua simplicidade.

 

Filosofia Lírica e Ruína Urbana

A obra de Martins também pode ser lida sob a ótica da Filosofia da Linguagem e da Estética da Ruína. A cidade do Recife, que aparece como corpo em fragmentação constante, dialoga com o conceito benjaminiano de “cidade-palimpsesto” (Benjamin, 1991). No 14º Chope: Carnaval na Guararapes, o eu lírico exalta:

 

Do Sigismundo Cabral

O Savoy é referencial

E facilita a contemplação

Do corso do carnaval

Abrindo a diversão.

Em pleno anos sessenta

Alegra quem o frequenta. (Martins, 2021, p. 101)


No presente, o passado ressurge, invertendo a ordem cronológica. Dessa forma, a memória desafia a lógica e a realidade, consolidando a imagem da vida como resistência simbólica. O carnaval é, então, uma alegoria do tempo histórico, da perda e da repetição — e o eu lírico parece compreender o tempo como não linear e o espaço urbano como depositário de camadas afetivas, políticas e estéticas.

 

Depois do Brinde, a Saudade

30 Copos para Carlos Pena Filho é uma obra que escapa a rótulos simples: é homenagem, mas também ensaio; é literatura, mas também filosofia urbana; é memorial, mas também invenção. Washington Martins propõe uma cartografia sentimental do Recife, onde cada chope é um pequeno mapa afetivo, uma coordenada poética num tempo que insiste em tentar apagar vestígios.

Escrito em 2021, no auge da pandemia, o livro oferece mais do que uma viagem literária: oferece refúgio. Nesse resgate aos bons tempos do Bar Savoy, os amigos, que não podiam mais se encontrar, nos bares da vida, identificam-se com os poemas, nos quais os copos, embora metafóricos, ainda celebram a vida. A imagem das aves em voo, no alto de cada página, sela esse espírito: há esperança em seguir, há beleza em recordar, e há poesia em cada ausência transformada em palavra.

A obra de Martins inscreve-se no panorama da literatura brasileira contemporânea como um exemplo de literatura híbrida, que recusa dicotomias entre alta cultura e cultura popular, entre academia e boemia, entre memória e invenção. Como o próprio poema de abertura sugere, há desejos e sonhos que, embora presos ou frustrados, continuam a alimentar o brinde das palavras – e é isso que 30 Copos para Carlos Pena Filho oferece: um convite à embriaguez da memória, à resistência poética e ao afeto pela cidade que vive na palavra.

Em 30 Copos para Carlos Pena Filho, o devir é o eixo invisível que agrega os poemas e os personagens: nada é, tudo devém — devém-memória, devém-cidade, devém-poesia. Os sujeitos que povoam os versos de Washington Martins não têm contornos fixos; são corpos afetados, atravessados por fluxos de tempo, desejo e linguagem. No Bar Savoy, a Recife que se apresenta é sempre outra: devém passado recriado, devém ruína viva, devém território saudoso onde o presente se dissolve em potência. Nas palavras de Deleuze e Guattari (1997), o devir não é um vir-a-ser em direção a um estado estável, mas uma travessia contínua, sem ponto de chegada — e é exatamente essa trajetória que os poemas de Martins encenam, na homenagem a Pena Filho, que certo dia escreveu:

 

Quando eu morrer, não faças disparates

nem fiques a pensar: “Ele era assim…”

Mas senta-te num banco de jardim

calmamente comendo chocolates.

Aceita o que te deixo, o quase nada

destas palavras que te digo aqui:

Foi mais que longa a vida que eu vivi,

para ser em lembranças prolongada. (Vermelho.Org, 2010)

 

31º chope: mais um brinde e um “Viva” a Carlos Pena Filho!

 

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, W. Obras escolhidas III: Charles Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs. São Paulo: Editora 34, 1997.

MARTINS, W. L. 30 copos para Carlos Pena Filho. Revista Interdisciplinar da Faculdade Anchieta, v. 1, n. 5, Recife, jan./jul. 2021, Separata, p. 1-228. 

MESCHONNIC, H. Linguagem, ritmo e vida. Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2006.

PAZ, O. El arco y la lira. In: _____. La casa de la presencia (Poesia e Historia). Obras Completas, v. I. 2. ed. México: Fondo de Cultua Económica,1994.

POUND, E. ABC da Literatura. São Paulo: Cultrix, 2006.

VERMELHO.ORG. Carlos Pena Filho, o Poeta do Azul inscrito na eternidade. 1º dez. 2010. Disponível em: <https://vermelho.org.br/2010/12/01/carlos-pena-filho-o-poeta-do-azul-inscrito-na-eternidade/>. Acesso em: 20 abr. 2025.

 

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Verônica Daniel Kobs tem Pós-Doutorado em Literatura e Intermidialidade pela UFPR. É Professora e Pesquisadora de Literatura, Mídias e Tecnologia Digital. Atualmente, é Coordenadora e Professora dos cursos de Mestrado e Doutorado em Teoria Literária da UNIANDRADE.

Washington Luiz Martins tem Pós-Doutorado em Ética e Política, Filosofia da Tecnologia, Filosofia e Empresa e em Historiografia das Ciências — todos eles realizados em Barcelona. É Professor Emérito e Notório Saber pela OESA. Atualmente, é Reitor e Professor da Florida University of Science and Theology.

Para ler o livro completo de Washington Luiz Martins, acesse o link: https://drive.google.com/file/d/1u6yAVio5_V4Kmvbn4RWPpIySkCsXGSos/view?usp=sharing

 

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Comentários recebidos:


Em seg., 28 de abr. de 2025 às 16:53, Washington Luiz Martins escreveu:

Boa tarde professora Verônica!
Meu Deus, que maravilha de texto!
Não merecia tanto!
A sua bela e consistente análise é completamente sutil e sensível, não deixando nada de fora de como sinto, compreendo a poesia, e como me inspirei para escrever o livro.
Estou muito honrado e bastante feliz pelo que você escreveu.
Gratíssimo!


Em ter., 29 de abr. de 2025 às 11:14, Mail Marques de Azevedo escreveu:

Bom dia Verônica.
Li seu artigo com imenso prazer e deleite estético. Reservo-me o direito de não fazer comentários, que seriam mera tentativa de elogiar o que está perfeito, mediante repetição do dito por você.
Mail