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segunda-feira, 16 de abril de 2018

A POLÍTICA EM SÉRIES TELEVISIVAS BRITÂNICAS E NORTE-AMERICANAS


Brunilda T. Reichmann, PhD*

A maioria das séries televisivas disponíveis, quer no Brasil ou no exterior, trabalha seus conteúdos com primor, destacando-se na produção artística/midiática contemporânea. Algumas são celebrações, por meio de recriação, de romances/peças brasileiros ou estrangeiros. Quando são adaptações de outros textos, as séries, ao contrário das adaptações fílmicas, geralmente expandem o texto fonte, devido ao número de episódios. Entre elas, encontramos as séries políticas, que, na maioria das vezes, (re)constroem um panorama semelhante à “realidade” dos espectadores, mas nem sempre conhecida por eles. A maioria dela explora a sede insaciável pelo poder, a traição, a corrupção e a criminalidade, assunto bem conhecido na atualidade. Alguns títulos estão relacionados abaixo:
 
  • The House of Cards Trilogy (1990-1994 / Inglaterra: BBC; 3 partes, 12 episódios). Francis Urquhart, o protagonista, derruba o primeiro-ministro ficcional da Inglaterra, que sucede a Margaret Thatcher, para assumir seu lugar. É eleito primeiro-ministro várias vezes e permanece no cargo por cerca de 10 anos.
  • The Good Wife (2009-... / EUA: Netflix; 7 temporadas com 156 episódios). Alicia Florrick, protagonista da série, tem como pano de fundo a corrupção de seu marido, primeiro como promotor condenado por conduta imoral, depois como candidato ao governo de Ilinois.
  • Political Animals (2012 / EUA: USA Network: 1 temporada, 6 episódios). Elaine Barrish Hammond, protagonista da série, ex-primeira-dama e atual Secretary of State (Secretária de Estado do Exterior) dos Estados Unidos, tem que lidar com adversários políticos e problemas pessoais, na luta para manter seu trabalho e a família unida.
  • Scandal (2012-... / EUA: ABC; 5 temporadas, 90 episódios). Olivia Pope, gestora de conflitos de sucesso, é uma recriação da assessora Judy Smith, do governo George Bush.
  • House of Cards (2013-... / EUA: Netflix; 5 temporadas, 65 episódios). Francis e Claire Underwood são os protagonistas da série. Eles tramam o impedimento do ficcional presidente dos Estados Unidos e lançam, como um casal, sua candidatura à presidência e vice-presidência do país.
  • Madam Secretary (2014-… / EUA: CBS; 3 temporadas, 96 episódios). Secretary of State, Elizabeth McCord, tem que lidar com uma avalanche de desafios políticos e com o drama de não poder dar atenção suficiente aos filhos.
  • Designated Survivor (2016-... / EUA: Netflix; 1 temporada, 22 episódios). Tom Kirkman é Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano e o sobrevivente designado e empossado imediatamente como presidente, quando uma explosão tira a vida do presidente e de todos os membros do Gabinete que exercem função superior à de Kirman nos Estados Unidos.

Dentre essas séries políticas, duas delas evocam os temas e atualizam o contexto e os personagens de peças de Shakespeare. A dissimulação, a corrupção, a violência e a criminalidade presentes em Ricardo III, Macbeth e Otelo são transpostas para outra época e/ou outro espaço. Elas são: The House of Cards Trilogy, da BBC da Inglaterra e House of Cards, da Netflix dos EUA.
 Desde os primeiros episódios é notável como os produtores/roteiristas/diretores fazem ressoar ecos de peças de Shakespeare nas séries e matizavam com DNA shakespeariano os seus desenvolvimentos. Macbeth, Ricardo III e Iago materializam-se em outra época e contexto diante de nossos olhos. Durante as temporadas, leitores de Shakespeare ficam mesmerizados diante da evocação da arte do dramaturgo inglês ao apreender a crueldade da alma humana e da capacidade dos idealizadores das séries de expandir, atualizar e recontextualizar essa inerente crueldade. Portanto, se dissermos que tanto The House of Cards Trilogy, da BBC da Inglaterra e House of Cards, da Netflix dos EUA têm início com a trilogia de Michael Dobbs, temos que retificar e dizer que tudo começa com Shakespeare, ou tudo começa muito antes... mas no final do século XX, são estes os três romances – House of Cards (1989), To Play the King (1992) e The Final Cut (1994) – que descrevem o panorama político da atualidade no Reino Unido e são adaptados para as duas séries televisivas políticas impactantes.
 


*Brunilda T. Reichmann é professora do Mestrado em Teoria Literária da Uniandrade
 

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