Pesquisar este blog

quinta-feira, 26 de setembro de 2019






O FIM DE EDDY: UMA REFLEXÃO SOBRE O BULLYING              

                                                                Prof. Doutor  Marcelo Alcaraz   

No mundo hodierno  o sofrimento humano é exposto na mídia de forma massiva, cotidiana. No romance O Fim de Eddy, de Édouard Louis,  a dor não se oferece como espetáculo, mas como um micro-cosmos no qual predomina a falta de empatia pelo próximo.   Na narrativa são utilizadas  dois níveis de linguagem e tempos que  dialogam, a voz que  registra o passado  opressivo e repleto de abusos e  o narrador  adulto, sem inibições e com autonomia intelectual.
O breve  romance de matiz autobiográfico foi traduzido para vinte países e  problematiza o mecanismo do Bullying  em uma  cidade pós-industrial no interior da França. Acompanha-se na narrativa  a trajetória de Eddy Bellegueulle dos sete anos de idade  até ele adentrar em  uma faculdade de teatro situada em Amiens.  
O Bullying é o grande tema do livro,  horror espelhado na maioria dos relatos do protagonista, principalmente nas situações vividas na escola. Compreendido como diminuição da humanidade do outro (PROJETO CONVIVER, 2019) esse tipo de violência se dirige ao adolescente homossexual que mora em um pequeno vilarejo.  A  presença do garoto  não passa incólume aos habitantes do  lugar: uma pessoa  vigia a outra e todos parecem prontos para expulsar quem pensa ou age de forma diferente.
A vida no vilarejo gira em torno de uma precária fábrica de latão,  tudo o que se proporciona aos meninos a partir do nascimento é direcioná-los a um trabalho insalubre. Toda e qualquer sensibilidade, intelectual ou artística, é esmagada pela escola ou pela família. O pai do protagonista também trabalha na fábrica , carrega peso demasiadamente e bebe muito  à noite,  quase não fala com o filho : “Ele e eu nunca tivemos uma verdadeira conversa. Mesmo coisas simples, bom dia ou feliz aniversário, ele parou de me dizer” (LOUIS, 2018, p.72).
No colégio o protagonista é acossado  por dois garotos que batem, cospem e o humilham: “ Eu olhava os escarros estanques na minha blusa, pensando que eles tinham me poupado ao cuspir lá, e não no meu rosto ( LOUIS, 2018, p. 45).”  Esse trecho é revelador sobre a  perversidade  humana e a impotência  de Eddy em aceitar a violência dos meninos.       
              Quando se muda para Amiens, ele  percebe a polidez dos gestos, o refinamento dos gostos.  Pela  primeira vez se dirige a uma escola sem sentir  opressão, medo ou mesmo pânico. Possui, finalmente, afinidades com pessoas cujo objetivo vital trascende o trabalho braçal  e o entorpecimento diário com bebida.
            O momento  mais impactantes da obra  é a presença dos dois garotos, antigos opressores , prestigiando-o como ator em um peça de teatro. Apesar de muito nervoso ao reconhecê-los, o protagonsita  consegue atuar sem demonstrar seu horror. No fim da peça, os antigos algozes ovacionam  seu nome e estimulam o coro da platéia. 
                    As marcas  do Bullying não se extinguem da vida do narrador, sua dor é profunda e irremediável. O  silêncio da infância se transforma  na fala de um ator seguro, contudo, não há  evidência alguma de sua cura. Se arte não o redime,  ilumina o que não pode ser esquecido.

        
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

LOUIS, Édouard. O Fim de Eddy. São Paulo: Tusquets, 2018.


Acesso em 21 de julho de 2019






  

Nenhum comentário:

Postar um comentário